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2007/05/16

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 15 

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Para falar só da Beira Interior e à imagem do Concelho de Seia, os distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco, nos anos trinta do Séc. XX, encheram-se de colégios particulares de ensino secundário, do 1º ao 6º ano, que o 7º só interessava a quem queria prosseguir estudos universitários.

À média de um colégio por concelho, com os poucos que vinham de trás, isto significou melhoria espectacular das possibilidades de acesso das populações do Interior ao ensino secundário.

Houve uma visão realista e de alcance excepcional, pelo sentido da oportunidade e porque se soube entender e mobilizar um grande potencial de iniciativa e de recursos materiais e humanos locais que existia, adormecido, por toda essa Beira.

Mas, não obstante a clara simpatia com que o Estado acolhia as iniciativas privadas e o clima histórico e social a elas favorável, as dificuldades a vencer foram muitas. Terá sido necessário a todos os fundadores desses colégios um grande espírito de sacrifício e talvez outro tanto de poder de improvisação para aguentarem os primeiros anos e desenvolverem os seus estabelecimentos.

Serviços inestimáveis que prestaram ao enriquecimento cultural e profissional de toda a Beira!

Mas é preciso ir mais longe para se perceber melhor o alcance deste empenhamento gigantesco.

De facto, o Estado e o seu plano de desenvolvimento terão sido os maiores beneficiários dele.

O salazarismo estava a lançar as bases modernas do Estado português, que para isso carecia de quadros melhor preparados e mais numerosos. Havia uma angustiante falta de quadros a todos os níveis da Administração Pública, para corresponderem aos objectivos dos novos planos e novas organizações surgidas em catadupa: as novas Forças Armadas; a administração local reformulada; a revolução das Finanças; a Previdência Social inteiramente inédita; os novos sindicatos e grémios, as “casas do povo” e a organização corporativa em geral; o programa de desenvolvimento industrial, percursor dos futuros Planos de Fomento; os velhos Ministérios renovados; os novos Ministérios económicos e sociais; os organismos de “coordenação económica”; o grande surto de obras públicas; o novo surto da colonização, etc..


Era esmagador e o País, longe disso, não tinha quadros à medida. Havia que ir buscar os novos quadros necessários e melhor preparados ao “Portugal profundo”, de qualidade e meios sociais emergentes saudáveis, não desenraizados pela certa, como eram já muitas vezes os círculos populacionais periféricos dos principais centros urbanos.

Na nova rede do ensino secundário privado, em grande parte, é que o Estado – a tornar-se então cada vez mais importante empregador – foi recrutar muito dos seus novos quadros médios administrativos, desde os fins da década de trinta.

Pense cada leitor, no caso do seu concelho das Beiras, na quantidade de conhecidos seus saídos do colégio local com o 6º ano, ou mais tarde o 5º, que encontraram colocação nos serviços locais do Estado – Finanças, Saúde, Emprego e Formação Profissional, Economia, Educação, Cartório Notarial, Conservatórias – bem como nos serviços locais da Segurança Social ou Previdência, da “Organização Corporativa“, da Câmara Municipal e repartições municipais, etc..

Essa tarefa de formação dos quadros para o Estado ou autarquias e, mais tarde, para as empresas, a começar pelas hidroeléctricas, depressa foi conscientemente assumida pelos novos colégios e seus promotores, não raro com sentido de missão, ao serviço dos grande desígnios do Estado.

Os frutos começaram a sentir-se de modo amplo por meados-fins dos anos quarenta.

Vieram tais quadros a ser sem dúvida essenciais no apoio ao grande arranque industrial e da hidroeléctrica, hidráulica agrícola, transportes e comunicações, de que o Estado foi o principal motor na década de cinquenta, que terá sido, relativamente, a década de mais acentuado desenvolvimento económico nacional em duzentos anos.

Que não teria acontecido, muito provavelmente, sem a rede de ensino secundário assegurada por colégios privados, prevista e lançada nos anos trinta e quarenta.

Neste sentido podemos dizer que a fundação dos colégios como o “Dr. Simões Pereira” foi muito importante. Não só pelo seu efeito imediato em cada um dos concelhos respectivos e na região, mas antes e mais profundamente, por ter sido a primeira decisiva participação colectiva de Seia e dos demais concelhos numa grande corrente de desenvolvimento nacional que então arrancava e prometia ao País horizontes novos que nem a II Guerra Mundial viria perturbar, antes pelo contrário, graças a uma neutralidade defendida com unhas e dentes… e muita cabeça.

Egoistamente?

Talvez.

Abençoado egoísmo.

A.C.R.

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