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2007/06/05

Vénus e Marte 

Foi Robert Kagan que divulgou o refrão de que “os europeus são de Vénus e os americanos de Marte”. Fê-lo noutro contexto, mas penso que também se pode aplicar à forma como os políticos de um lado e doutro do Atlântico, com excepções, pensam as questões ambientais e as variações climáticas – como se alguma vez o clima tivesse sido fixo.

Não vou tão longe como o Vasco Pulido Valente, ao ponto de insinuar que se colocam as questões ambientais na agenda quando não se tem agenda política. Mas é possível que tenha alguma razão.

Tenho é as maiores dúvidas sobre o valor da contribuição real e efectiva do CO2 “antropogénico” para as variações climáticas. Não há nenhum consenso mundial sobre esse peso, a não ser no IPCC e nas redacções dos media. Há 200 anos a concentração de CO2 era 280ppm (partes por milhão). Hoje é 380ppm. Aumentou cerca de 30%. Deste acréscimo de 100ppm, quanto é que é antropogénico e quanto é natural? Mais: é o aumento de CO2 que faz aumentar a temperatura média ou é o aumento de temperatura que faz aumentar a concentração de CO2 atmosférico? Porque é que o aumento médio de temperatura à superfície registado ao longo do séc. XX não foi igual nos dois hemisférios, sendo mais pronunciado no Norte do que no Sul? Eis a questão.

O que não quer dizer que não exista uma outra ordem de razões válidas que justifiquem a redução das emissões de CO2. Existe. E o medo das variações climáticas é um excelente álibi. Ao Ocidente interessa de sobremaneira reduzir e eliminar progressivamente a dependência de combustíveis fósseis por razões políticas e estratégicas. O que significa libertar-se da dependência da Rússia, do Médio Oriente e da América do Sul (especialmente Venezuela e Bolívia).

Mas eis que, após anos de acusação aos EUA de não se interessarem pelas variações climáticas e de nada fazerem para reduzir emissões de CO2, pelo facto de não terem ratificado o Protocolo de Quioto em 2001 – que nem sequer alguns dos que o assinaram vão cumprir – surge uma proposta americana “A New International Climate Change Framework” para a reunião do G8, de 6 a 8 de Junho, que é de imediato rejeitada pelo Comissário europeu para o Ambiente com a justificação de que “a abordagem dos EUA já provou ser ineficaz”.

E o Protocolo de Quioto, que quase nenhum dos subscritores, entre os quais Portugal e o Canadá, por exemplo, vai cumprir? Já provou ser eficaz?

O que está em jogo?

Duas visões dificilmente conciliáveis quanto à forma e custos de reduzir emissões de CO2.

Alguns europeus, porventura utópicos, querem impor um sistema de redução coerciva de emissões, controlado pelo Estado, ou por um “Super-Estado”, eventualmente para valores incomportáveis e com multas, como sucedeu com o Protocolo de Quioto. Mais do mesmo. A meta seria reduzir para 50% a quantidade de gases com efeito de estufa em 2050, relativamente a 1990. Utópico ou realista? Quais os custos económicos e sociais para o Ocidente? Tenho as maiores dúvidas sobre as possibilidades reais de efectuar essa redução sem graves consequências sociais e económicas, embora admita que haverá alguma redução.

A proposta americana, pelo contrário, reconhece que a ecologia e a economia dizem respeito à mesma realidade, aposta na responsabilidade e na contribuição da sociedade civil: das pessoas, das famílias, das empresas e agentes laborais, para substituir, realista e progressivamente, os combustíveis fósseis por outras formas de energia renováveis e mais limpas, entre as quais a nuclear. Apela para um acordo entre os 15 países que mais emitem CO2 sem fixar um tecto, porque se sabe que a realidade de uns países é diferente da dos outros, pelo que é mais realista pedir a todos que cortem de forma sustentada o que podem. Se todos reduzirem progressivamente, há uma redução global. Cada um vai mostrar o que vale, em vez de querer reduzir globalmente à custa de uns poucos. Aqui, o que mais choca os europeus é não se prever um polícia estatal, ou super-estatal, como a ONU, para controlar emissões de CO2 e, supostamente, a economia dos países envolvidos, mas é precisamente este um dos pontos mais divergentes entre a visão europeia e a visão americana do problema.

É por isso que os europeus, com algumas excepções, estão sempre à espera que o Estado e a UE, com um batalhão de regulamentos façam tudo, seja em matéria de educação, de saúde, de trabalho, etc… Sem o Estado não fazem nada.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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