2007/06/15
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI – N.º 06
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Chame-se-lhe o PREC da UL-Universidade Livre, donde afinal saiu directa ou indirectamente quase todo o ensino universitário privado, existente em Portugal.
Um processo mais politizado, de facto, que outro qualquer, seja de que área for e para quantos puderam vivê-lo em perfeito conhecimento de causa dos bastidores, dos ardis e dos interesses envolvidos, durante mais de dez anos sofridíssimos, bastante mais do que os dezanove meses do propriamente dito.
Chamamos àquele um PREC de direita porque, como o PREC abrilino de esquerda, o de 1974, também estoutro PREC visava uma posse pela força, por agressões de todo o tipo e por ilegalidades descaradas, neste caso a ocupação e posse da UL por parte de gente – professores experientes e alunos instrumentalizados, em geral de direita - que nenhum direito possuíam para reivindicar tal posse e controlo.
Tudo como no PREC abrilino, isto é, tão arbitrariamente como no PREC de Abril/74 a Novembro/75, quase dezanove meses com muitos momentos de “inferno” para os suspeitos de oposição militante aos seus arbítrios e malfeitorias.
Nunca esquecerei, por exemplo, a invasão da nossa casa, na rua Vila Pery, em Lisboa, por soldados e um ou dois graduados do famigerado RALIS, uma noite nas proximidades das primeiras “eleições livres”, para a Assembleia Constituinte.
Bateram alta noite à nossa porta, o Miguel veio avisar-nos de que era tropa, que avistara pela janela do quarto. Estremunhados fomos abrir naturalmente e logo a soldadesca excitada correu toda a casa, de G3 armadas de baionetas, que não hesitaram em por várias vezes espetar nas camas, para acordarem e fazerem levantar aqueles dos nossos cinco filhos mais velhos que o escarcéu da invasão não tivesse despertado ainda.
Posso também recordar outros assaltos a escritórios das nossas organizações e ao Colégio, em busca de livros “subversivos” e de documentos, indiscriminadamente e no mais completo arbítrio e gosto por desarrumar e destruir o que queriam ou esperavam encontrar, ou levando consigo, para o RALIS, montes da mesma papelada, que nunca chegaram a devolver.
Não foi, como se imagina da amostra, tão branda como se disse a tal “pacífica e respeitadora revolução”, mesmo sem se falar dos cerca de dois mil prisioneiros políticos(?) arbitrariamente mantidos presos durante a duração do PREC, sem “culpa formada” e a maior parte das vezes sem chegarem sequer a ser interrogados e ouvidos ou informados, ao menos oralmente, daquilo de que eram suspeitos.
Eu só não fui preso, constou-me mais tarde, porque seria "agente da CIA" e a “revolução” não queria provocar a dita CIA…
Claro que muitas vezes estes procedimentos apenas traduziam medo.
Medo de que houvesse uma reviravolta total da nova situação, pelo regresso intempestivo da “velha”…
Medo da fraqueza e instabilidade das forças que “aguentavam” aquela desordem, aquele caos (des)organizativo…
Medo do futuro próximo, pois a luta de facções entre os “vencedores” de Abril era de resultados cada vez mais incertos, com grandes riscos para todas elas, essas diversas facções…
Medo de que “a coisa” se estabelecesse ou estabilizasse numa “democracia” que, pelo voto, se revelasse completamente desfavorável às ambições hegemónicas dos comunistas, fossem de esquerda ou fossem de extrema-esquerda, cunhalistas ou insatisfeitos com o cunhalismo reticente…
Medo da reacção que se organizava em Espanha, ainda franquista.
Medo pavoroso do levantamento popular do que se adivinhava “verão quente” de 1975, do Sul ao Norte do País, impulsionado sobretudo, dizia-se e escrevia-se, a partir do Norte, pelo famoso Arcebispo de Braga, Dom Francisco Maria da Silva…
Creio, de facto, que nada fez mais encolher as “garras” ao PCP e aderentes que os incêndios, nesse verão, das sedes do partido em grande parte do País.
A partir daí, o PREC e o seu não menos famoso mentor aparente da altura, um desequilibrado coronel, sabiam-se perdidos, porque o que eles mais temiam eram adversários que usassem “armas” do tipo das que eles próprios tinham usado para aterrorizar os portugueses.
O destino deles estava marcado, pelo que já não lhes restava senão sair de cena, o menos desonrosamente possível e com o menos de estragos e perdas políticas no terreno que o PCP e seus aliados, mais ou menos escondidos, ainda conseguissem evitar.
O “25 de Novembro” também teve artes de fazer-lhes ainda fortes benesses e finezas nesse sentido.
O País é que sofreu, com essas cautelosas e duvidosas transigências, mais meia dúzia de anos de duração das “ocupações”, “expropriações-nacionalizações” e “reforma agrária” do PREC, que nos custaram vinte anos pelo menos de estagnação e retrocesso social e económico, esse, sim, por recuperar ainda.
A.C.R.
Um processo mais politizado, de facto, que outro qualquer, seja de que área for e para quantos puderam vivê-lo em perfeito conhecimento de causa dos bastidores, dos ardis e dos interesses envolvidos, durante mais de dez anos sofridíssimos, bastante mais do que os dezanove meses do propriamente dito.
Chamamos àquele um PREC de direita porque, como o PREC abrilino de esquerda, o de 1974, também estoutro PREC visava uma posse pela força, por agressões de todo o tipo e por ilegalidades descaradas, neste caso a ocupação e posse da UL por parte de gente – professores experientes e alunos instrumentalizados, em geral de direita - que nenhum direito possuíam para reivindicar tal posse e controlo.
Tudo como no PREC abrilino, isto é, tão arbitrariamente como no PREC de Abril/74 a Novembro/75, quase dezanove meses com muitos momentos de “inferno” para os suspeitos de oposição militante aos seus arbítrios e malfeitorias.
Nunca esquecerei, por exemplo, a invasão da nossa casa, na rua Vila Pery, em Lisboa, por soldados e um ou dois graduados do famigerado RALIS, uma noite nas proximidades das primeiras “eleições livres”, para a Assembleia Constituinte.
Bateram alta noite à nossa porta, o Miguel veio avisar-nos de que era tropa, que avistara pela janela do quarto. Estremunhados fomos abrir naturalmente e logo a soldadesca excitada correu toda a casa, de G3 armadas de baionetas, que não hesitaram em por várias vezes espetar nas camas, para acordarem e fazerem levantar aqueles dos nossos cinco filhos mais velhos que o escarcéu da invasão não tivesse despertado ainda.
Posso também recordar outros assaltos a escritórios das nossas organizações e ao Colégio, em busca de livros “subversivos” e de documentos, indiscriminadamente e no mais completo arbítrio e gosto por desarrumar e destruir o que queriam ou esperavam encontrar, ou levando consigo, para o RALIS, montes da mesma papelada, que nunca chegaram a devolver.
Não foi, como se imagina da amostra, tão branda como se disse a tal “pacífica e respeitadora revolução”, mesmo sem se falar dos cerca de dois mil prisioneiros políticos(?) arbitrariamente mantidos presos durante a duração do PREC, sem “culpa formada” e a maior parte das vezes sem chegarem sequer a ser interrogados e ouvidos ou informados, ao menos oralmente, daquilo de que eram suspeitos.
Eu só não fui preso, constou-me mais tarde, porque seria "agente da CIA" e a “revolução” não queria provocar a dita CIA…
Claro que muitas vezes estes procedimentos apenas traduziam medo.
Medo de que houvesse uma reviravolta total da nova situação, pelo regresso intempestivo da “velha”…
Medo da fraqueza e instabilidade das forças que “aguentavam” aquela desordem, aquele caos (des)organizativo…
Medo do futuro próximo, pois a luta de facções entre os “vencedores” de Abril era de resultados cada vez mais incertos, com grandes riscos para todas elas, essas diversas facções…
Medo de que “a coisa” se estabelecesse ou estabilizasse numa “democracia” que, pelo voto, se revelasse completamente desfavorável às ambições hegemónicas dos comunistas, fossem de esquerda ou fossem de extrema-esquerda, cunhalistas ou insatisfeitos com o cunhalismo reticente…
Medo da reacção que se organizava em Espanha, ainda franquista.
Medo pavoroso do levantamento popular do que se adivinhava “verão quente” de 1975, do Sul ao Norte do País, impulsionado sobretudo, dizia-se e escrevia-se, a partir do Norte, pelo famoso Arcebispo de Braga, Dom Francisco Maria da Silva…
Creio, de facto, que nada fez mais encolher as “garras” ao PCP e aderentes que os incêndios, nesse verão, das sedes do partido em grande parte do País.
A partir daí, o PREC e o seu não menos famoso mentor aparente da altura, um desequilibrado coronel, sabiam-se perdidos, porque o que eles mais temiam eram adversários que usassem “armas” do tipo das que eles próprios tinham usado para aterrorizar os portugueses.
O destino deles estava marcado, pelo que já não lhes restava senão sair de cena, o menos desonrosamente possível e com o menos de estragos e perdas políticas no terreno que o PCP e seus aliados, mais ou menos escondidos, ainda conseguissem evitar.
O “25 de Novembro” também teve artes de fazer-lhes ainda fortes benesses e finezas nesse sentido.
O País é que sofreu, com essas cautelosas e duvidosas transigências, mais meia dúzia de anos de duração das “ocupações”, “expropriações-nacionalizações” e “reforma agrária” do PREC, que nos custaram vinte anos pelo menos de estagnação e retrocesso social e económico, esse, sim, por recuperar ainda.
A.C.R.
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