2007/06/22
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 08 - As temíveis “células” de católicos
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Das “células” aprendera Rufino com os franceses dum tal “Office” – Paris, Rue des Renaudes… – o que podiam valer como movimento de abertura a inéditas perspectivas de acção cívica, por meios culturais, que haviam de mobilizar para a política, no fundo, os católicos das direitas nacionais e nacionalistas. Isto é, supostamente interessados na “animação cristã da ordem temporal” como era o grande objectivo do “Office”.
O imbróglio é que o estudo pressuposto levantava poucos, mesmo poucos entusiasmos, como regra, entre os aderentes.
Porque as “células” seriam “de acção”, acção cívica lhe chamavam os franceses, mas acção condimentada pelo estudo, que devia esclarecer e formar para as razões e os métodos de agir socialmente melhor e com mais aprofundados fundamentos.
O imbróglio é que o estudo pressuposto levantava poucos, mesmo poucos entusiasmos, como regra, entre os aderentes.
Porque as “células” seriam “de acção”, acção cívica lhe chamavam os franceses, mas acção condimentada pelo estudo, que devia esclarecer e formar para as razões e os métodos de agir socialmente melhor e com mais aprofundados fundamentos.
Porém a muitos, comprovou-se, o estudo só interessava como disfarce ou oportuna justificação de encontros e movimentações.
Ora o disfarce tornava as “células” suspeitas, mais que suspeitas a Marcelo Caetano, recém-empossado P.M., e aos marcelistas de serviço, mais, muito mais assanhados que as verdadeiras estruturas do regime, como a Presidência da República ou a PIDE, muito mais inteligentes e mais esclarecidas ou experimentadas.
Depois, com o “25 de Abril”, as coisas tornaram-se nesse aspecto piores ainda, porque embora a liberdade de acção cívica e política tivesse passado a ser teoricamente total, a liberdade das células do “Office” português levantavam ao novo regime ainda mais suspeitas que aos assanhados marcelistas.
As células, de facto, tinham fama de haverem corrido da Paróquia de Belém com o famoso pároco progressista que ali tripudiava, do altar abaixo, contra o regime marcelista, contra o Cardeal Cerejeira e contra o Papa e aquilo que os “progressistas” católicos chamavam as traições do Papa Paulo VI à letra e ao espírito, conforme lhes convinha, do Concílio Vaticano II, encerrado em 1965.
Na verdade, todo o trabalho de mobilização dos paroquianos e de denúncia do pároco ao Cardeal Cerejeira fora obra da “célula” de Belém. Mas, precursor efectivo do espírito e natureza do PREC de 1974-75, o então pároco de Belém ou a memória dos seus feitos não poderiam, portanto, deixar de ser gratos aos abrilinos mais esturrados e melhor informados, quando ficaram à solta.
As “células” dos activistas cívicos de Rufino, em todo o País, consideravam-nas, pois, esses activistas, culpadas em bloco da expulsão do famoso padre Mário do seu feudo de Santa Maria de Belém.
Daí a hostilizarem o “movimento” inspirado pelo “Office”, através de Rufino, como um ninho de perigosíssimos agentes de extrema-direita e fomentadores dos partidos de direita que iam surgindo como cogumelos depois de “Abril”, foi apenas um passo.
Mesmo quando inócua, por falta de real sentido de eficácia dos abrilinos, com “mais olhos que barriga”, essa hostilidade sempre latente fez algumas vezes os mais timoratos do “movimento de acção cívica e cultural” de Rufino suspenderem, à cautela, a sua participação nas reuniões e outras actividades das “células”, particularmente activas na Grande Lisboa, no Porto e em Coimbra.
Não surpreenderei, penso, os mais informados ou formados nestas coisas, se revelar que nunca o sucesso e expansão do “movimento” foram tão assinaláveis como durante todo o PREC, nem as suas publicações tão compradas, lidas e divulgadas como durante esse período de grande ansiedade, de grandes fraquezas e algumas traições e cobardias. Mas sobretudo tempos de manifestas dedicações e até provas de muitos heroísmos, esperados e inesperados, sempre em número largamente superior ao das fraquezas, ausências, defecções ou traições, todas somadas.
Não creio que muitas vezes, em Portugal, em toda a História, se tenha respondido com mais pronta decisão de resistir, com mais garbo e serenidade e com mais lucidez, às injunções do destino colectivo, do que durante o PREC de 1974-75.
Mas Rufino imagina tudo isso como pasageiro e que o futuro está, sim, na proposta e “desafio” do Professor.
Também por saber que, no “movimento”, Portugal dispõe dos quadros necessários para se dar corpo ao verdadeiro arranque que o “desafio” vai exigir.
Ora o disfarce tornava as “células” suspeitas, mais que suspeitas a Marcelo Caetano, recém-empossado P.M., e aos marcelistas de serviço, mais, muito mais assanhados que as verdadeiras estruturas do regime, como a Presidência da República ou a PIDE, muito mais inteligentes e mais esclarecidas ou experimentadas.
Depois, com o “25 de Abril”, as coisas tornaram-se nesse aspecto piores ainda, porque embora a liberdade de acção cívica e política tivesse passado a ser teoricamente total, a liberdade das células do “Office” português levantavam ao novo regime ainda mais suspeitas que aos assanhados marcelistas.
As células, de facto, tinham fama de haverem corrido da Paróquia de Belém com o famoso pároco progressista que ali tripudiava, do altar abaixo, contra o regime marcelista, contra o Cardeal Cerejeira e contra o Papa e aquilo que os “progressistas” católicos chamavam as traições do Papa Paulo VI à letra e ao espírito, conforme lhes convinha, do Concílio Vaticano II, encerrado em 1965.
Na verdade, todo o trabalho de mobilização dos paroquianos e de denúncia do pároco ao Cardeal Cerejeira fora obra da “célula” de Belém. Mas, precursor efectivo do espírito e natureza do PREC de 1974-75, o então pároco de Belém ou a memória dos seus feitos não poderiam, portanto, deixar de ser gratos aos abrilinos mais esturrados e melhor informados, quando ficaram à solta.
As “células” dos activistas cívicos de Rufino, em todo o País, consideravam-nas, pois, esses activistas, culpadas em bloco da expulsão do famoso padre Mário do seu feudo de Santa Maria de Belém.
Daí a hostilizarem o “movimento” inspirado pelo “Office”, através de Rufino, como um ninho de perigosíssimos agentes de extrema-direita e fomentadores dos partidos de direita que iam surgindo como cogumelos depois de “Abril”, foi apenas um passo.
Mesmo quando inócua, por falta de real sentido de eficácia dos abrilinos, com “mais olhos que barriga”, essa hostilidade sempre latente fez algumas vezes os mais timoratos do “movimento de acção cívica e cultural” de Rufino suspenderem, à cautela, a sua participação nas reuniões e outras actividades das “células”, particularmente activas na Grande Lisboa, no Porto e em Coimbra.
Não surpreenderei, penso, os mais informados ou formados nestas coisas, se revelar que nunca o sucesso e expansão do “movimento” foram tão assinaláveis como durante todo o PREC, nem as suas publicações tão compradas, lidas e divulgadas como durante esse período de grande ansiedade, de grandes fraquezas e algumas traições e cobardias. Mas sobretudo tempos de manifestas dedicações e até provas de muitos heroísmos, esperados e inesperados, sempre em número largamente superior ao das fraquezas, ausências, defecções ou traições, todas somadas.
Não creio que muitas vezes, em Portugal, em toda a História, se tenha respondido com mais pronta decisão de resistir, com mais garbo e serenidade e com mais lucidez, às injunções do destino colectivo, do que durante o PREC de 1974-75.
Mas Rufino imagina tudo isso como pasageiro e que o futuro está, sim, na proposta e “desafio” do Professor.
Também por saber que, no “movimento”, Portugal dispõe dos quadros necessários para se dar corpo ao verdadeiro arranque que o “desafio” vai exigir.
A.C.R.
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