2007/07/16
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VI - N.º 17 - O PROJECTO DUMA GERAÇÃO
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Do seu espanto pelo que viu em Lausanne, no congresso do Office – podia lá imaginar que houvesse na Europa coisa assim? – desse seu espanto e dos muitos elogios que lhe fizeram da delegação portuguesa, a respeito do trabalho do “movimento” em Portugal, o Professor tirou uma conclusão ainda mais surpreendente.
Apenas isto…
Que o “movimento” liderado por Rufino tinha de ser importante também e temido, o que explicaria não só a sua sobrevivência ao “25A”, durante o PREC e parecia, depois, que para sempre, mas também que jamais tivesse havido prisões entre os seus membros.
Ora, desde logo, isso pelo menos obrigava Rufino a uma rectificação. Isto é, que os do “movimento” não teriam sido engavetados não por serem insignificantes mas, ao contrário, exactamente por serem temíveis. Isto é, com as suas células e métodos de trabalho em células, dispersas pelo País e funcionando em rede, autonomamente mas talvez com um comando central que aliás diziam não existir, no que o Professor não podia acreditar, com a sua formação política algo arcaica, como é compreensível.
Pouco menos de três anos depois do “25A” – durante os quais manteve o “movimento” e as suas figuras mais conhecidas sob observação, o Professor foi confirmando os juízos iniciais, apesar de não ter voltado a Lausanne, senão por contactos de interpostos agentes.
Melhor ainda: quando chegou a altura de tentar a chance dum ensino introdutório à Universidade, foi no “movimento” e no seu líder que o Professor pensou para o seu lançamento, num contexto socialmente já muito menos adverso, mas politicamente ainda uma grande incógnita e um risco difícil de desprezar ou mesmo minimizar.
Tanto que o próprio Professor, como muitos outros exilados portugueses, em Espanha, França, Brasil, etc., ainda não tinham achado oportuno regressar a Portugal.
Casos, entre eles, daqueles portugueses que, numa viagem curta ao Rio de Janeiro e São Paulo, já nos fins de 1976, em missão do “movimento, Rufino lá encontrou, em empregos por vezes bastante incertos e com mulheres, filhos e netos deixados na Pátria. Mas eles próprios cheios de saudades do Portugal velho ou do velho Portugal… e de ódio a Marcelo que, exilado lá também, sofria ainda mais que todos, porque se sentia o único derrotado de “Abril”, que os demais não passariam a seus olhos de simples desertores sem perdão.
Rufino não se arrependeu nunca, de se ter dado, em regime de plena entrega, ao desafio do Professor, mas cedo julgou perceber e se convenceu de que uma Universidade privada seria coisa demasiado importante e demasiado séria para ficar obra e responsabilidade de professores universitários apenas.
Quis, por isso, desde pode dizer-se o primeiro instante, assegurar-se de que os quadros escolhidos pelo “movimento” ocupariam todas as posições de comando, não exclusivamente didáctico-pedagógicas, da grande iniciativa.
Mas diga-se que com um objectivo fundamental: fazer da UL a mais importante obra e realização da sociedade civil portuguesa, depois de “Abril”, por muitos, muitos anos, servindo de exemplo e estímulo para tudo o que de melhor os portugueses de Portugal viessem a construir nos cem anos seguintes. No ensino como na investigação, no futebol como no râguebi, no atletismo como no golfe ou na ginástica de exibição, no ensino superior como na formação profissional, na inovação como na competitividade, nas Forças Armadas como nas missões de paz, na qualidade do ensino em geral como no combate ao insucesso e abandono escolares, etc., etc., etc.
Mas Rufino já acreditava que isso seria o grande projecto da sua vida profissional, e sonhava que isso seria também a grande obra colectiva da sua geração.
O projecto e obra de uma geração!
Como não podia falhar e pôr a obra em risco, entregou-se de alma inteira à concretização dos passos decisivos dela, sobretudo os primeiros, e mobilizou para colaborarem consigo os melhores quadros do “movimento”.
Com risco embora, em que na altura mal pensou e mal consentiu que outros pensassem, de deixar o “movimento” afundar-se para sempre por ficar entregue a camaradas pouco experientes e pouco ambiciosos, nada visionários.
Mas a Universidade Livre monopolizou tudo e todos, as maiores e melhores energias, as mais formidáveis dedicações e inteligências.
A.C.R.
Apenas isto…
Que o “movimento” liderado por Rufino tinha de ser importante também e temido, o que explicaria não só a sua sobrevivência ao “25A”, durante o PREC e parecia, depois, que para sempre, mas também que jamais tivesse havido prisões entre os seus membros.
Ora, desde logo, isso pelo menos obrigava Rufino a uma rectificação. Isto é, que os do “movimento” não teriam sido engavetados não por serem insignificantes mas, ao contrário, exactamente por serem temíveis. Isto é, com as suas células e métodos de trabalho em células, dispersas pelo País e funcionando em rede, autonomamente mas talvez com um comando central que aliás diziam não existir, no que o Professor não podia acreditar, com a sua formação política algo arcaica, como é compreensível.
Pouco menos de três anos depois do “25A” – durante os quais manteve o “movimento” e as suas figuras mais conhecidas sob observação, o Professor foi confirmando os juízos iniciais, apesar de não ter voltado a Lausanne, senão por contactos de interpostos agentes.
Melhor ainda: quando chegou a altura de tentar a chance dum ensino introdutório à Universidade, foi no “movimento” e no seu líder que o Professor pensou para o seu lançamento, num contexto socialmente já muito menos adverso, mas politicamente ainda uma grande incógnita e um risco difícil de desprezar ou mesmo minimizar.
Tanto que o próprio Professor, como muitos outros exilados portugueses, em Espanha, França, Brasil, etc., ainda não tinham achado oportuno regressar a Portugal.
Casos, entre eles, daqueles portugueses que, numa viagem curta ao Rio de Janeiro e São Paulo, já nos fins de 1976, em missão do “movimento, Rufino lá encontrou, em empregos por vezes bastante incertos e com mulheres, filhos e netos deixados na Pátria. Mas eles próprios cheios de saudades do Portugal velho ou do velho Portugal… e de ódio a Marcelo que, exilado lá também, sofria ainda mais que todos, porque se sentia o único derrotado de “Abril”, que os demais não passariam a seus olhos de simples desertores sem perdão.
Rufino não se arrependeu nunca, de se ter dado, em regime de plena entrega, ao desafio do Professor, mas cedo julgou perceber e se convenceu de que uma Universidade privada seria coisa demasiado importante e demasiado séria para ficar obra e responsabilidade de professores universitários apenas.
Quis, por isso, desde pode dizer-se o primeiro instante, assegurar-se de que os quadros escolhidos pelo “movimento” ocupariam todas as posições de comando, não exclusivamente didáctico-pedagógicas, da grande iniciativa.
Mas diga-se que com um objectivo fundamental: fazer da UL a mais importante obra e realização da sociedade civil portuguesa, depois de “Abril”, por muitos, muitos anos, servindo de exemplo e estímulo para tudo o que de melhor os portugueses de Portugal viessem a construir nos cem anos seguintes. No ensino como na investigação, no futebol como no râguebi, no atletismo como no golfe ou na ginástica de exibição, no ensino superior como na formação profissional, na inovação como na competitividade, nas Forças Armadas como nas missões de paz, na qualidade do ensino em geral como no combate ao insucesso e abandono escolares, etc., etc., etc.
Mas Rufino já acreditava que isso seria o grande projecto da sua vida profissional, e sonhava que isso seria também a grande obra colectiva da sua geração.
O projecto e obra de uma geração!
Como não podia falhar e pôr a obra em risco, entregou-se de alma inteira à concretização dos passos decisivos dela, sobretudo os primeiros, e mobilizou para colaborarem consigo os melhores quadros do “movimento”.
Com risco embora, em que na altura mal pensou e mal consentiu que outros pensassem, de deixar o “movimento” afundar-se para sempre por ficar entregue a camaradas pouco experientes e pouco ambiciosos, nada visionários.
Mas a Universidade Livre monopolizou tudo e todos, as maiores e melhores energias, as mais formidáveis dedicações e inteligências.
A.C.R.
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