2010/04/12
A saga dos Papas pós-sessenta
Manuel Brás
A campanha de ódio em curso nos media contra a Igreja Católica e o Papa a pretexto de alguns casos de pedofilia envolvendo eclesiásticos pode parecer inédita, mas não o é em toda a linha nem em todos os aspectos.
Se olharmos com atenção para os pontificados de Paulo VI, João Paulo II e agora de Bento XVI verificamos que todos eles foram objecto de campanhas mediáticas hostis. Tudo isto é verificável: é só estudar os jornais da época.
Quanto a Paulo VI, a profética publicação daquela que é, talvez, a mais polémica de todas as encíclicas: a “Humanae Vitae”, que desencadeou uma campanha de hostilidade contra a sua pessoa, fora e dentro da Igreja, sendo que dentro da Igreja além da hostilidade também encontrou a desobediência de certos sectores.
Com João Paulo II, e pondo de lado a tentativa de assassinato por Ali Agca e tudo o que esse atentado teve por trás, chamou a atenção durante anos e anos especulações sobre a sua saúde, que invariavelmente tentavam pôr em causa diante da opinião pública a sua capacidade de dirigir a Igreja e desembocavam na sua renúncia, um verdadeiro wishful thinking da imprensa que lhe era hostil. O “Expresso” de 26 de Março de 1994 dava como certa a renúncia de João Paulo II para breve. Para além da frequente hostilidade do “Expresso”, João Paulo II também teve que suportar frequentes críticas negativas e hostis do “Público” servidas a pretexto das opiniões dos jornalistas de serviço. E tudo isto, porquê? Porque João Paulo II era conservador, como se isso fosse um crime, coisa insuportável para a imprensa dominante.
Finalmente, chegou Bento XVI – menos telegénico e fotogénico que João Paulo II, mas isso não se explica, é daqueles atributos que se tem ou não tem, mais de palavra e pensamento que de gesto e imagem – e não havia razão nenhuma para a imprensa, verdadeiro amplificador a soldo dos poderes deste mundo, se comportar de forma diferente do que fez com João Paulo II. Foi por isso que tivemos a polémica à volta do discurso de Regensburg sobre o papel da razão, da entrevista a bordo do avião que o conduziu aos Camarões sobre a questão da SIDA e do preservativo, fruto, em ambos os casos, de distorções das suas palavras.
Não admira, pois, que agora, de um momento para o outro, o queiram envolver e acusar de encobrimento de actos pedófilos de que certo número de eclesiásticos é acusado ao longo de várias décadas.
Tudo isto se entende melhor se tivermos em conta a forma como a imprensa internacional tratou a Igreja e os Papas desde os 60 para cá. Nos dias que correm é muito difícil encontrar notícias positivas sobre a Igreja e o Papa, isto é, notícias que dêem uma visão positiva da Igreja e do Papa.
Se tivermos isso em conta, há uma conclusão a que não nos podemos furtar: os poderes deste mundo – políticos e temporais – querem mandar na Igreja, o que significa que querem dirigir a Igreja de modo a tê-la ao serviço da sua agenda e dos seus interesses.
É por isso que querem que a Igreja mude.
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