2010/04/06
Para que servem as crises?
Desde o segundo semestre de 2008 que se debate e discute, desde os media às mesas de café, passando pelos corredores da política, causas e efeitos da crise económica e financeira em curso: subprime, swaps, hedge funds, deflação, desemprego, défice... ´
A questão é saber se a crise é epidérmica ou se o que vemos é a ponta de um iceberg. Estamos perante uma simples crise que passa com umas leves reformas ou o que vemos é consequência de outra doença mais profunda, moral e social? Isto é uma gripe ou uma doença grave?
O crescimento da economia mundial em 2009 foi semelhante ao de 1945. Certos regimes acusados de não respeitar os direitos humanos são prestamistas universais. Consta que Manhattan é propriedade de árabes e russos e que Berlim está à venda. Fundos soberanos compram o Ocidente como quem joga ao Monopoly. Na Europa discute-se a manutenção de direitos laborais adquiridos, continua a confiar-se em empregos na função pública para toda a vida e a contar o tempo que falta para a reforma. Noutros lugares do mundo muitas pessoas conseguiram passar a ter uma refeição por dia, enquanto produzem em massa a preços imbatíveis. Países condenados, há décadas, ao fracasso devido ao excesso populacional, como a China, a Índia e o Brasil, são hoje as locomotivas do mundo, enquanto os ocidentais se permitem o luxo de atirar pela retrete do aborto milhões de seres humanos, mantendo crescimentos próximos de zero.
É frequente ouvirmos políticos e comentadores atribuir a crise à ganância de uns quantos agentes económicos e financeiros que pretenderam enriquecer rapidamente. Outros, além disso, acrescentam com não menos verdade que no Ocidente se tem vivido acima das possibilidades à custa da concessão fácil de crédito ao consumo com o consequente endividamento.
Análise suficiente para identificar aspectos morais da crise e concluir que a crise tem razões e motivações morais, como não podia deixar de ser, uma vez que toda a acção humana, pelo facto de o ser, é necessariamente moral, seja isolada ou enquadrada numa complexa sociedade.
Já Ortega avisava que as crises sacodem periodicamente a árvore para que caiam os frutos podres.
Uma vez identificada a matriz moral da crise, que até os políticos admitem, logo se apressam a desenhar o perfil de cidadão que precisam para sair do buraco: gente sóbria, solidária e responsável.
Sobriedade, solidariedade e responsabilidade, três qualidades ou virtudes chave para sair daqui.
A questão é saber onde se faz gente assim. Em que mercado se compra a sobriedade? Onde está cotada a solidariedade? Qual o preço da responsabilidade? Os media, os livros, os programas escolares, as cátedras universitárias formam gente com este perfil? Obviamente não. Não há mercado para estes bens.
Este perfil forma-se na família, a instituição que certa modernidade despreza como obsoleta. Porquê a família? Porque a família está fora da economia. A família não está submetida a critérios de eficiência ou êxito imediato, a curto prazo. Na família os bens trocam-se gratuitamente, não há cotações, as pessoas e as suas relações são valores estáveis.
Adaptado de www.unav.es/nt (Reyes Calderón)
manuelbras@portugalmail.pt
A questão é saber se a crise é epidérmica ou se o que vemos é a ponta de um iceberg. Estamos perante uma simples crise que passa com umas leves reformas ou o que vemos é consequência de outra doença mais profunda, moral e social? Isto é uma gripe ou uma doença grave?
O crescimento da economia mundial em 2009 foi semelhante ao de 1945. Certos regimes acusados de não respeitar os direitos humanos são prestamistas universais. Consta que Manhattan é propriedade de árabes e russos e que Berlim está à venda. Fundos soberanos compram o Ocidente como quem joga ao Monopoly. Na Europa discute-se a manutenção de direitos laborais adquiridos, continua a confiar-se em empregos na função pública para toda a vida e a contar o tempo que falta para a reforma. Noutros lugares do mundo muitas pessoas conseguiram passar a ter uma refeição por dia, enquanto produzem em massa a preços imbatíveis. Países condenados, há décadas, ao fracasso devido ao excesso populacional, como a China, a Índia e o Brasil, são hoje as locomotivas do mundo, enquanto os ocidentais se permitem o luxo de atirar pela retrete do aborto milhões de seres humanos, mantendo crescimentos próximos de zero.
É frequente ouvirmos políticos e comentadores atribuir a crise à ganância de uns quantos agentes económicos e financeiros que pretenderam enriquecer rapidamente. Outros, além disso, acrescentam com não menos verdade que no Ocidente se tem vivido acima das possibilidades à custa da concessão fácil de crédito ao consumo com o consequente endividamento.
Análise suficiente para identificar aspectos morais da crise e concluir que a crise tem razões e motivações morais, como não podia deixar de ser, uma vez que toda a acção humana, pelo facto de o ser, é necessariamente moral, seja isolada ou enquadrada numa complexa sociedade.
Já Ortega avisava que as crises sacodem periodicamente a árvore para que caiam os frutos podres.
Uma vez identificada a matriz moral da crise, que até os políticos admitem, logo se apressam a desenhar o perfil de cidadão que precisam para sair do buraco: gente sóbria, solidária e responsável.
Sobriedade, solidariedade e responsabilidade, três qualidades ou virtudes chave para sair daqui.
A questão é saber onde se faz gente assim. Em que mercado se compra a sobriedade? Onde está cotada a solidariedade? Qual o preço da responsabilidade? Os media, os livros, os programas escolares, as cátedras universitárias formam gente com este perfil? Obviamente não. Não há mercado para estes bens.
Este perfil forma-se na família, a instituição que certa modernidade despreza como obsoleta. Porquê a família? Porque a família está fora da economia. A família não está submetida a critérios de eficiência ou êxito imediato, a curto prazo. Na família os bens trocam-se gratuitamente, não há cotações, as pessoas e as suas relações são valores estáveis.
Adaptado de www.unav.es/nt (Reyes Calderón)
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Capitalismo, Em Defesa da Vida, Em defesa do Ocidente, Manuel Brás