2008/05/27
De Fukuyama a Robert Kagan
Manuel Brás
Todos nos recordamos daquele que talvez seja o livro mais conhecido – e enigmático – de Francis Fukuyama: “The End of History and the Last Man”, aparecido em 1992, quando se adivinhava uma nova era, irreversível, na política internacional, em virtude da derrocada da União Soviética e do comunismo, pelo menos enquanto sistema económico.
Miguel Monjardino apresenta na sua coluna do Expresso (24/05/2008) uma recensão ao último livro de Robert Kagan “The Return of History and the End of Dreams” (Atlantic Books, 2008), em que o autor faz uma análise da política internacional desde 1991 a 2008 e avança com uma tese, em consideração e dabate nas comitivas de candidatos presidenciais como John McCain e Obama.
O título não será inocente, nem mera coincidência. É sugestivo da tese.
A tese é que “o período 1991-2008 deve ser visto como uma pausa na política internacional” e “em vez da transformação anunciada e desejada em 1991, assistimos hoje ao regresso da História e ao fim de alguns sonhos euro-atlânticos”. O autor vê sinais de “regresso à normalidade” na competição pelo poder e influência a nível global e regional (envolvendo países como os EUA, China, Rússia, Japão, Índia, Irão, alguns países europeus), na competição ideológica entre as democracias liberais e as autocracias e na luta sem quartel entre islamitas e partidários de um poder político não confessional em países maioritariamente islâmicos, desde Marrocos ao Paquistão.
O que Kagan reconhece, até como conselheiro de McCain, é a entrada numa “idade de divergências”, que chegou ao fim o período da nebulosidade e da indefinição na política internacional, das expectativas de um único bloco, de uma única globalização, o que parece ser apoiado pelas divisões no seio do Conselho de Segurança da ONU, e em outras variadas instâncias da ONU, bem como pela dificuldade em identificar e definir uma única “comunidade internacional”.
O socialismo assentou arraiais nalguns países da América Latina (Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua), a Rússia recompõe-se do desastre comunista e, embora em acentuado declínio demográfico, tem pretensões de afirmação internacional, a China e a Índia tornam-se potências económicas e industriais. A vitória política, ideológica e geoestratégica sobre o comunismo e o marxismo não foi total. O marxismo e o comunismo recuaram sobretudo na economia, perderam posições na maior parte dos países vizinhos da Rússia, mas ficaram metástases ainda longe de ser erradicadas.
Face a tudo isto Kagan defende a necessidade de entrar numa nova fase da politica internacional com a formação de um Concerto das Democracias, constituído por países com sistemas políticos afins, como os EUA, nações europeias, membros da NATO e países como a Austrália, o Brasil, a Índia e o Japão.
No fundo, esta proposta de união geoestratégica reconhece que existem várias globalizações – e não só uma, como por vezes se quer fazer passar – e que essas globalizações, após uns anos a vaguear, decidiram aterrar.
A História continua.
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