2008/05/26
Pobre Ocidente
Manuel Brás
O que mais parece fascinar todos aqueles que têm raízes em civilizações diferentes do Ocidente – árabes, islâmicos, chineses, africanos, etc – não é tanto a nossa riqueza material, o bem estar, a “qualidade de vida” – que, pelos vistos, não é assim tanta –, como a capacidade de nos amaldiçoarmos e dividirmos estupidamente a nós próprios numa luta fratricida de dois séculos, especialmente na Europa. Essas outras civilizações olham para nós, sorriem espantados e têm todas as razões para supor que estamos em liquidação e trespasse. E estamos mesmo. Ou teremos chegado ao limbo da impassibilidade para nos borrifarmos para o que possa acontecer no futuro?
Porque é que muitos europeus, ou melhor, os media europeus, estão zangados, em termos existenciais e anímicos, com a América?
Guerra ao terrorismo? Iraque?
Admitamos que a invasão do Iraque foi um erro, uma precipitação. Não porque não houvesse lá armas de destruição maciça – que as houve a seu tempo; para onde terão ido? Aceitam-se apostas – mas pelo simples princípio de respeitar a soberania de um País que, ao momento, não tinha atacado ninguém.
Porém, já não podemos voltar a 2003 e reverter o processo. É inútil continuar a discutir o acerto da invasão do Iraque como se pudéssemos voltar atrás. Não podemos. Sejamos realistas, que é o que falta aos europeus.
Resta-nos aproveitar a situação para instalar nas várias frentes do Médio Oriente (MO) – Palestina, Líbano, Iraque, Irão, Afeganistão e Paquistão – uma nova ordem política que conduza a uma convivência mais estável e pacífica para todos: ocidentais e orientais.
Esse processo tem que ser liderado pelo Ocidente e por quem pode no Ocidente. Mas isso demora tempo, o que obriga à permanência militar e diplomática dos ocidentais, especialmente americanos, mas não só. É isto que os políticos têm que ter a coragem de assumir e fazer os ocidentais entender.
Isto não é o ideal. É o real. Muito pior seria abandonar o Iraque, cujas consequências previsíveis seriam uma guerra civil, a entrega de uma parte do Iraque ao Irão, um eventual alastramento bélico a países vizinhos.
Se não forem os ocidentais a liderar o processo, realisticamente os americanos, com as limitações e falhanços que sempre sucedem, quem é que toma conta do MO? O Irão de Ahmadinejad? O Hezbollah? O Hamas? É esta gente que querem a liderar os destinos do MO e, talvez, do mundo?
Mas eis que alguém teve a coragem de meter a boca no trombone e resolveu queixar-se e acusar a administração Bush por aquilo que talvez sejam as verdadeiras razões da sanha antiamericana nos media europeus: as restrições à investigação com células estaminais embrionárias – não as adultas, que é encorajado – pelo facto de implicarem a destruição de embriões humanos, a abertura à discussão do creacionismo como explicação para a evolução dos seres vivos – e note-se que creacionismo não é o mesmo que fixismo, tal como evolução não é, necessariamente, o mesmo que darwinismo, que é uma teoria evolutiva com as suas particularidades científicas e epistemológicas – ao que podíamos acrescentar as restrições a certas práticas abortivas. E muito bem.
Finalmente começam a saltar as verdadeiras razões da sanha antiamericana.
Mas não a situação no Iraque.
Por uma razão muito simples.
Fosse Bush da Internacional Socialista e não haveria metade das preocupações com o Iraque, porque aí os americanos estariam no MO para libertar os povos das grilhetas do fanatismo religioso.
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