<$BlogRSDUrl$>

2008/05/23

CONTA-ME COMO FOI… (19)
MAS NEM ASSIM… A SUPRACITADA DAMA… 

(<--)

Ela tinha o fogo em cada poro do corpo… e da alma. As núpcias foram de sonho… Mas, apesar dos seus “feitos” todos, dia e noite, nem assim ele lhe bastava, que mal parava de satisfazê-la, e obviamente satisfazer-se, já a sua dama estava a pedir nova continuação.

A certa altura o vigoroso moço já não sabia que mais fazer…

Ainda ensaiou certas cautelas e mesmo alguns truques que tinham chegado a afigurar-se-lhe hábeis…

Em vão.

Teve até a certeza de que em geral o efeito era contrário: a excitação dela tornava-se maior e ainda mais exigente.

Resolveu consultar um seu conhecido e amigo muito mais velho que, por isso, era capaz de guardar segredo.

O pior mal do rapaz, de algum modo, era gostar “daquilo” tanto como ela…

As “posses” é que não sobravam, que ela estava cada dia mais derrancada.

Não conto aqui os conselhos do amigo, para não me acusarem de pormenores licenciosos. Mas ainda mais por não querer igualmente ser acusado de revelar modos de acalmar fêmeas insaciáveis, mesmo cortando-lhes nas doses. Do que, aliás, ela não deixou de acabar por queixar-se às amigas, cada vez mais sedentas de pormenores, mas muito cautelosas em revelá-los, com a velha ameaça da dama amiga, sempre presente, de esfaqueá-las, sem piedade, pelas inconfidências que chegassem aos ouvidos do já agora seu marido.

Todas acreditavam que a ameaça seria rigorosamente cumprida; sabiam que a dama-chefe não falava por falar, nem se limitava ao jogo das ameaças a ver quem desistiria primeiro, como qualquer mulher primária e sem vergonha na cara.

Na verdade, todas a temiam de morte. Como ela as temia a todas. Não de morte mas de um certo fastio insuportável, isto é, suportável mas com fastio…

Até ao rapaz, mesmo ao rapaz começava a estender-se o fastio dela, e nem se lembrava de como isso podia ter principiado. Pensou que fosse pelos excessos íntimos de ambos. Também ela fez questão de reduzi-los à normalidade. Quando julgou tê-lo conseguido percebeu que ia perder o rapaz, seu marido à face de Deus e do Estado.

Por acaso, mero acaso na realidade, um desses dias cruzou-se com o seu antigo marido e pai dos dois filhos de ambos. Ela imaginou um reencontro providencial e não o deixou escapar, como de bastantes outras vezes. Sem saber como nem porquê, achou-se ela de repente a falar do seu recente casamento e a contar-lhe que as coisas iam mal. Não lhe foi difícil a ela confessá-lo, exagerando como se isso fosse indispensável para o suposto e súbito objectivo a atingir, ao ponto de se comover e o fazer sorrir a ele.

“Não rias! – implorou ela com uma espécie de meiguice – Não rias, porque pressinto que vou ficar mais só que nunca e já não sei, desaprendi completamente como seja viver só…”

Ele voltou a sorrir e apeteceu-lhe experimentar ser ainda mais cruel, mais cínico. Ali mesmo, ver até onde chegava a farsa que ela estava a representar, achava ele, julgando como sempre conhecê-la bem e seguro de que ela não teria mudado nada. Mas teve a surpresa de ouvi-la dizer quase num murmúrio…

“Sim, ouve. Não duvides. Passaram anos e mudámos ambos muito. Alguma coisa pelo menos, o suficiente com certeza. Quando já não suportar a solidão vou ter contigo e ainda vais ser tu que me hás-de salvar!”

Ele não encontrou outras palavras senão estas…

“Vai-te lixar, Margarida. Continuas a mesma brincalhona de sempre… Adeus, contigo não faço farinha… Nem tu comigo, caríssima.”

E desapareceu a acenar-lhe adeus já de longe e ela a ver-lhe ainda o mesmo sorriso no rosto, cada vez mais distante e esbatido.

A.C.R.

(-->)

Etiquetas: , ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional