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2008/05/20

CONTA-ME COMO FOI… (18)
A VIOLAÇÃO DE FACTO DUM MENOR 

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O certo é que, passados poucos dias, soube-se pela boca dos próprios que iam casar!

Os sorrisos irónicos com que a notícia foi recebida correram como rastilhos de rosto em rosto, por todo o concelho e concelhos limítrofes, onde os figurantes não eram desconhecidos.

Ele ia fazer apenas dezassete anos e ela não passara ainda dos trinta e cinco.

Mas, de certo modo, conseguiram não dar escândalo, pelo menos naquilo que certas pessoas mais podiam temer ou desejar que o dessem.

Ele, como se sabe, não tinha ninguém de família a quem precisasse de prestar contas e ela, a “dama”, há anos que se livrara dos dois filhos do seu único matrimónio, mandando-os, primeiro, estudar para Lisboa e, depois, incitando-os a fixarem-se muito mais longe, no estrangeiro transatlântico, onde se sabia que o trabalho de ambos era muito estimado. Pelo menos era do que a mãe mais se orgulhava, a luzirem-lhe os olhos do seu puro amor materno sem mancha e naturalmente muitíssimo envaidecido… Além de algumas vezes enraivecido, de ciúmes...

Um dos rapazes era mesmo ligeiramente mais velho que o novo marido-amante da mãe e ambos duas estampas de mocetões, de que ela exibia as frequentes fotografias às amigas, para ouvir-lhes as apreciações que elevavam o seu orgulho ainda mais ao rubro.

Mas com o casamento, juntara a esse outros motivos grandes de orgulho…

Uma casa como o solar do novo marido sempre fora um sonho dela, sonho que jamais esperara concretizar tão completamente e – vá lá! – tão cedo.

“E para mais – segredava-lhe a amiga mais ousada e com menos papas na língua -…

E para mais com um borracho destes!”

E a amiga continuava…

“Mas do que tu mais gostaste ainda, foi da cerimónia na igreja com a ida e volta e todo aquele espanto dos basbaques e invejosos! Já não te passava pela cabeça voltares a usar flor de laranjeira…”

“Sim, talvez. Espanto sobretudo das invejosas. Mas olha que ainda não me perdoaram nem vão perdoar nunca a flor de laranjeira…”

“Sabes? – retorquiu a amiga – Vê tu que eu própria tenho dificuldade ainda em acreditar. Foste uma mestraça!... Grande poça! Levares à certa um Arcanjo assim!”

“Caí-lhe no goto, que é que queres?”

“Sim, caíste-lhe no goto, todas concordamos… Mas como, Senhor! – e levantava os olhos ao céu – Que é que tu fizeste para cair-lhe no goto a tal ponto!... Sim, sim, já nos contaste…”

“Nos contaste, não! Só a ti contei, hem! Para assentarmos de uma vez por todas. Se alguém andasse por aí a contá-lo, só poderia ser porque tu tivesses andado a assoalhar os segredos meus e dele! Olha que eu não sou o padre-capelão! Mete isso bem, mas mesmo bem, nesse bestunto. Se eu alguma vez vier a descobri-lo melindrado pelas vossas línguas de trapos… Ai de vós todas, seja qual for a culpada!”

E de repente como arrependida de tanta dureza…

“Já te contei?... Ele pouco sabia da vida. Com aquele desenvolvimento todo, do homem mais completo que eu já tinha encontrado no meio das nossas aventuras todas, tu sabes… Tu sabes que ele nunca tinha estado no meio das pernas duma mulher?... Nunca to tinha dito?...”

“Não. Pelos vistos, tens sempre alguma surpresa a acrescentar, não é?... Mas essa é de topete! E vou dizer-to com toda a lealdade de tua maior amiga. Pois é certo como estarmos as duas aqui, é certo, e não mudo, que não acredito em tal topete!”

“Juro! Juro! Juro! Casto que nem uma virgem! Casto! Casto! Casto! Ensinei-lhe tudo… Tive de ensinar-lhe tudo!”

“Mas por onde tinha andado essa prenda?... O teu trabalhão! Tiveste de ensinar-lhe toda a divina arte de carícias e afagos…”

“Sim. Toda, toda a panóplia do tiro ao alvo e do encaixa, encaixa lá, que se faz tarde… Mas sem pressas!”

A.C.R.

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