2008/05/05
Maio 68, “actualização de sociedades anacrónicas”?
Há quem o diga.
E citam “a pílula; o aborto livre e gratuito; a emancipação das mulheres; as aulas mistas; a maioridade legal aos 18 anos; o fim de todas as censuras; a mobilidade social; o aligeiramento (assouplissement) do trabalho; as reformas do ensino e da escola; a liberalização e libertação das rádios e das televisões: a mundialização dos ouvidos, dos cérebros, das notícias e dos capitais”.
Ouvido hoje da boca dos idólatras de Maio 68, pode acreditar-se que tudo isso resultou da movimentação nascida, naquele mês, entre os estudantes universitários de Paris, que efectivamente contagiaram os estudantes universitários de alguns outros países ocidentais.
Mas tudo aquilo estava em marcha desde havia anos, mais de vinte em muitos casos.
Foram os estudantes de Paris ao menos os aceleradores daquelas tendências libertárias e libertinas enunciadas e vindas de facto de longe ou de muito longe, ao longo dos trinta anos anteriores, de grandes solavancos bélicos e de grande desenvolvimento económico e enriquecimento que se lhes seguiram, na Europa e na América do Norte?
O facto, em França, é que o regime de De Gaulle os derrotou no terreno, e nos escrutínios eleitorais que se seguiram, fazendo regressar às Universidades pacificadas os estudantes revoltados, como aliás aconteceu também em Portugal, caso principalmente da Universidade de Coimbra, já em 69.
Poderá, no entanto, dizer-se, como disse Toni Negri, que “Maio 68 mudou tudo, mudou-nos a nós (isto é, a eles), pelo que as jovens gerações não precisam de se lembrar. Está no seu ADN. Elas têm 68 no corpo”?
Ou é outra vez excesso de fantasia e fatuidade? E vontade de assumir mudanças históricas que já estavam na calha e andariam por si, sempre, mesmo que os estudantes franceses não tivessem vindo para as ruas armar barricadas em revolta contra a disciplina nas escolas e o ensino universitário?
Julgo, sim, que Maio 68 foi principalmente um grande bluff que os seus protagonistas franceses ainda vivos tentam, às vezes comicamente, engrandecer aos olhos dos que há quarenta ou cinquenta anos não eram nascidos, sequer, e não podem portanto avaliar pessoalmente o que tudo isso teve e tem de farsa assumida.
Os supostos actores de Maio 68, os “soixante-huitards” ainda hoje activos, que procuram mais ou menos desesperadamente, infantilmente até, recuperar louros de acontecimentos que os não tiveram, esqueceram o melhor daquilo que um dos seus próprios slogans mais felizes lhes aconselhava!
“Tomemos a revolução a sério,
mas não nos levemos a sério.”
Efectivamente…
Tomaram e tomam a “revolução” a sério como se de revolução se tivesse realmente tratado, mas ao contrário do que o slogan também aconselhava…
Levaram-se e continuam a levar-se também eles próprios a sério!
É compreensível que tentem a si mesmo atribuir-se motivações, responsabilidades, objectivos e heroísmos que não tiveram, nem podiam ter.
É uma falsificação movida fundamentalmente pela vaidade de se tomarem por instrumentos e autores que não foram.
Não nos deixemos levar pela sua megalomania, saudosismo e fingimentos.
A.C.R.
E citam “a pílula; o aborto livre e gratuito; a emancipação das mulheres; as aulas mistas; a maioridade legal aos 18 anos; o fim de todas as censuras; a mobilidade social; o aligeiramento (assouplissement) do trabalho; as reformas do ensino e da escola; a liberalização e libertação das rádios e das televisões: a mundialização dos ouvidos, dos cérebros, das notícias e dos capitais”.
Ouvido hoje da boca dos idólatras de Maio 68, pode acreditar-se que tudo isso resultou da movimentação nascida, naquele mês, entre os estudantes universitários de Paris, que efectivamente contagiaram os estudantes universitários de alguns outros países ocidentais.
Mas tudo aquilo estava em marcha desde havia anos, mais de vinte em muitos casos.
Foram os estudantes de Paris ao menos os aceleradores daquelas tendências libertárias e libertinas enunciadas e vindas de facto de longe ou de muito longe, ao longo dos trinta anos anteriores, de grandes solavancos bélicos e de grande desenvolvimento económico e enriquecimento que se lhes seguiram, na Europa e na América do Norte?
O facto, em França, é que o regime de De Gaulle os derrotou no terreno, e nos escrutínios eleitorais que se seguiram, fazendo regressar às Universidades pacificadas os estudantes revoltados, como aliás aconteceu também em Portugal, caso principalmente da Universidade de Coimbra, já em 69.
Poderá, no entanto, dizer-se, como disse Toni Negri, que “Maio 68 mudou tudo, mudou-nos a nós (isto é, a eles), pelo que as jovens gerações não precisam de se lembrar. Está no seu ADN. Elas têm 68 no corpo”?
Ou é outra vez excesso de fantasia e fatuidade? E vontade de assumir mudanças históricas que já estavam na calha e andariam por si, sempre, mesmo que os estudantes franceses não tivessem vindo para as ruas armar barricadas em revolta contra a disciplina nas escolas e o ensino universitário?
Julgo, sim, que Maio 68 foi principalmente um grande bluff que os seus protagonistas franceses ainda vivos tentam, às vezes comicamente, engrandecer aos olhos dos que há quarenta ou cinquenta anos não eram nascidos, sequer, e não podem portanto avaliar pessoalmente o que tudo isso teve e tem de farsa assumida.
Os supostos actores de Maio 68, os “soixante-huitards” ainda hoje activos, que procuram mais ou menos desesperadamente, infantilmente até, recuperar louros de acontecimentos que os não tiveram, esqueceram o melhor daquilo que um dos seus próprios slogans mais felizes lhes aconselhava!
“Tomemos a revolução a sério,
mas não nos levemos a sério.”
Efectivamente…
Tomaram e tomam a “revolução” a sério como se de revolução se tivesse realmente tratado, mas ao contrário do que o slogan também aconselhava…
Levaram-se e continuam a levar-se também eles próprios a sério!
É compreensível que tentem a si mesmo atribuir-se motivações, responsabilidades, objectivos e heroísmos que não tiveram, nem podiam ter.
É uma falsificação movida fundamentalmente pela vaidade de se tomarem por instrumentos e autores que não foram.
Não nos deixemos levar pela sua megalomania, saudosismo e fingimentos.
A.C.R.
Etiquetas: Ensino