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2008/04/16

CONTA-ME COMO FOI …(14)
O CLERO ÀS ARANHAS, QUEM DIRIA... 

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Nem tanto, talvez.

A clerezia dali, com efeito, andava sem saber, ou hesitante, em como reagir.

Era já evidente, ou ameaçava tornar-se, uma trapalhada cada vez maior.

O padre-capelão não estava desorientado, mais que os outros, mas tinha de sobejo a perder, sentia-se portanto no centro da tempestade e não parava de pensar nisso.

Até, e sobretudo, enquanto seguia o seu programa preferido na TV, a série diária, ininterrupta, de filmes americanos de entretenimento e imaginação, mais ou menos disparatada e com pouco sentido ou nenhum, que ele fazia disparar no aparelho lá de casa, mal regressava no fim do trabalho, sempre depois das seis e antes das seis e meia.

Depois de muito observar e reflectir, era o que ele mais admirava na América e nos americanos, aquela formidável, gigantesca organização, uma incomparável indústria, para entreter, divertir, ocupar os ócios mundiais, com histórias da carochinha do dia-a-dia estadunidense, em todos os quadrantes, imagináveis e sobretudo inimagináveis.

Isso sim, mais que qualquer outra coisa, fosse o que fosse, era com isso, sim, que os americanos fascinavam, condicionavam e dominavam as inteligências e as vontades do mundo todo, todinho.

Que espantosa indústria, como não existia outra, de perto ou de longe, ou jamais existira, nem jamais viria a existir!

Sem ponta de dúvida, jurava ele a si próprio, encantado com a sua descoberta do mais surpreendente segredo da grandeza americana, que todos tinham diante dos olhos e não se davam por isso, nem parecia interessar a ninguém. Como se “servir” os americanos não tivesse sempre um preço qualquer, antes grande que pequeno, obviamente, e pago sempre, sempre a pronto e a contado.

Surpreendentemente, porém, isso iria também inspirá-lo a ele próprio, padre-capelão, e talvez proporcionar-lhe uma saída, naquele beco aparentemente sem saída do clerical imbróglio das paróquias em volta da sua… e a começar pela sua, como era justo e se lhe impunha a ele, grão-mestre daquela trama toda, não propriamente inesperada, nem imprevisível.

Santo Deus! Como aquilo lhe andava no gosto e no goto!

“Na vida – dizia ele – só há os dramas que Deus nos manda ou os que só nós ensarilhamos e inventamos. É o nosso fado. Temos de enfrentá-los de peito feito e cara alegre! Não é, amigos e camaradas distintos?...”

Pois então, se lhe calhara a ele agora aquele drama, aquele drama partilhado com a rapariga, também desta vez não tinha de hesitar, nem podia, por si e por ela, hesitar ou sequer dar a mais pequena ideia de que hesitava.

Já demorara demais.

Tinha de avançar já, para não pôr em risco a sua fama de homem decidido e de uma só cara, que bastante lhe custara a ganhar e, mais ainda, a tornar indesmentível.

Só ele sabia!

O garoto não tardava muito a nascer, que qualquer coisa podia precipitar a sua vinda a este mundo extra-uterino… – e tudo teria de estar resolvido.

“E é para já!” – empurrou-se a si mesmo.

Pediu ao colega amigo de maior intimidade que o acompanhasse naquele transe.

Só quando chegou à porta “dela”, deu pelo insólito da situação.

“Que vem este parvo fazer?” – murmurou para consigo.

“Vai-te embora, que não tens nada que fazer aqui…”

“Vai! Vai!” – insistiu mais e mais forte, como se o outro não compreendesse ou não quisesse compreender.

E o pobre do colega deu às de “vila Diogo”, sem mais demora.

Encheu o padre-capelão o peito de ar e foi direito à porta da casa onde agora vivia a rapariga.

A.C.R.

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