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2008/04/09

CONTA-ME COMO FOI …(13)
UM PADRE SEM NORTE 

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O povo, esse não queria acreditar e não acreditaria mesmo, não fosse o silêncio geral.

Os padres colegas do padre-capelão, esses não sabiam que fazer ou dizer naquela emergência, sem conhecerem a verdade de fonte segura.

Mas a fonte mais segura, acreditavam eles, o padre-capelão, desaparecera sem deixar rasto, isto é, rasto que se visse ou ouvisse.

Fosse como fosse, a fuga parecia incriminá-lo aos olhos de todos…

E ele, em todo o caso, preferia por enquanto, ninguém dizia fugir – porque, com o enorme respeito que lhe votavam ou haviam votado, ninguém ousava – preferindo todos chamar aquilo “esconder-se”, mesmo que tal fosse tomado por cobardia do padre-capelão.

Mas ele estaria apenas escondido, à espera do que o escândalo amainasse. De facto fora esconder-se no Paço, junto do Bispo.

Vencida a surpresa e o formidável espanto, o conselho do Bispo não foi senão um.

“Vai ter com ela e pede-lhe que case contigo. Prometeste a Deus castidade e celibato, mas o escândalo e o teu pecado – só Deus sabe! – serão menos graves que as promessas mentirosas que terás feito à rapariga. Não achas?... Pior ainda, talvez os ardis que praticaste, sem pudor, para seduzi-la. Tens de pagar. Não sei se alguma vez ela te aceitará como marido – digo-te já – mas tens de tentar… É o teu dever de consciência, acredito, e também aquilo que a minha consciência te diz, antes de mais.”

“E o tio?...” – retorquiu o padre-capelão, sem uma só vez lhe ter ocorrido a ruína que, em qualquer caso, aconteceria aos seus ambiciosos e até aí bem logrados planos de apostolado.

Mais tarde usaria isso como argumento para demonstrar a sua inocência e boa-fé, em que ele queria desesperadamente que todos acreditassem, ou pelo menos os colegas da sua maior estima e consideração.

“Mas deves falar primeiro com o tio” – recomendou-lhe ainda o Bispo.

O Bispo conhecia largamente o amor, os seus meandros e ardis, por ouvir falar dele ao confessionário, mas sabia pouco ou mesmo nada do amor propriamente dito e ainda menos das surpresas nascidas dele e dos seus enganos e desenganos, nem das suas voltas e reviravoltas, que nem ao Diabo lembrariam.

Ou será o amor uma encarnação do Diabo?

Enfim, e resumindo, o Bispo desconhecia profundamente a lógica – ou as lógicas? – do amor.

E o padre-capelão pouco mais sabia disso.

Na verdade, se o amor fosse efectivamente encarnação do Diabo, do amor saberiam eles, Bispo e padre-capelão, melhor que ninguém, isto é, saberiam eles, de facto a fundo, porque do Diabo conheciam eles tudo, ou mesmo mais que tudo, desde os bancos das salas de aulas dos seminários, desde os seus dez ou doze anos...

Portanto, é indesmentível não ser o amor encarnação do Mafarrico.

Mas de quê, então?

A.C.R.

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