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2008/04/04

CONTA-ME COMO FOI …(12)
UMA FAMÍLIA DESTROÇADA… EM RUÍNAS 

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Não devo protelar mais a notícia que praticamente destroçou a vida do excelente Senhor do Paço do Anjo da Guarda, a avaliar pelo estado em que o deixámos quando recebia os Senhores do Solar da Bela Vista, que foram oferecer-lhe os meios necessários para acabar de restaurar o seu Solar, destruído pelo fogo.

Cumprindo os piores pressentimentos do tio, a sobrinha dele aparecera grávida de meses!

Grávida do rapazola afilhado do padre-capelão do Solar do Anjo da Guarda, tinha de presumir-se, porque ela não confirmava nem negava, mas fazia finca-pé em que fosse o pai da criança a dizê-lo, chorando cada vez mais copiosamente.

No seu desespero, o tio não acertava de compreender o despropósito da sobrinha, como lhe chamava a criada grave da casa, que também fora ama dela enquanto pequenina.

Na verdade, estavam todos desorientados, incapazes de encontrar uma saída para o abismo em que se viam.

O padre-capelão não compreendia o afilhado; a velha ama não compreendia o rapazola nem a rapariga; o Senhor do Paço não compreendia ninguém; o rapazola encontrara um pretexto qualquer para desaparecer; e todos tinham tacitamente acordado em que nada se deixasse transpirar para fora, enquanto o imbróglio não se resolvesse ou não o resolvesse alguém.

O padre-capelão partiu à procura do afilhado e todos ficaram na expectativa de que voltasse rapidamente, com o problema resolvido.

Assim lho fez sentir também o pobre Senhor do Paço, abraçando-o fortemente à despedida, evitando as lágrimas com enorme dificuldade e muita determinação, esforço a que o excelente Senhor do Paço acabou por ceder, caindo inanimado na cama que estava mais perto.

Todos o julgaram morto, porque nem o mais pequeno sinal de vida parecia animá-lo, deixando recear que tivesse caído em coma definitivo.

Alarme falso, efectivamente, tal qual logo se veria.

Como se uma súbita decisão, incompreensível, lhe tivesse tomado conta das forças que afinal lhe restavam, o Senhor do Paço do Anjo da Guarda levantou-se dum salto, assim pareceu, e quase disparou pela porta fora, dando-se só o tempo de parar para explicar…

“Vou à procura desse garoto e do padre-capelão, que já calculo onde param!”

E tínhamo-lo todos julgado praticamente liquidado!

Não chegou a demorar-se vinte e quatro horas e foi entretanto dando notícias vagas.

Não tardou, mal regressado, a ir para a cama, onde permaneceria uma semana sem falar a ninguém.

Mas não sem antes gritar a terrível notícia à velha ama, que o julgou doido furioso.

“O Pai do nosso menino é o padre-capelão!”

A.C.R.

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