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2004/11/03

Outras guerras além Iraque (IV) 

(continuação)

Um conceito chave no holismo da doutrina onusiana é o de desenvolvimento sustentado, definido pela Comissão liderada por Gro Harlem Brundtland em 1987, adoptado na Cimeira do Rio de Janeiro em 1992 e reiterado em Joanesburgo (2002).

É um conceito apelativo, fácil de aceitar pela generalidade das pessoas, que parece oferecer a resolução integrada de questões ambientais e sócio-económicas. Com ele se preconiza que a utilização dos recursos naturais pela presente geração não pode, nem deve, comprometer a possibilidade das futuras gerações deles igualmente usufruirem.

Com esta formulação pretende-se um equilíbrio entre protecção ambiental, equidade social e crescimento económico: pretensão razoável e convincente que poderia ser um programa de trabalho para uma sensibilização e responsabilização ambientalista dos agentes da sociedade civil.

No entanto, a ausência de mais explicações abre a porta aos equívocos de que a linguagem onusiana está exausta.

É que o ambientalismo veiculado pela ONU e ONG’s alinhadas é ditado pela esquerda, malthusiano e exclusivista. Nele é patente a exclusão das estruturas sociais clássicas: famílias, empresas, associações profissionais e culturais, municípios e Nações. Todas estas estruturas, que a História consagrou, são consideradas pelo ambientalismo de esquerda como incapazes de corresponder às exigências que eles fixaram. Resta agora saber, então, a quem interessam essas exigências de protecção ambiental e quem as pode cumprir, o que remete para a implementação da ideologia onusiana e a substituição das estruturas clássicas por outras, pomposamente, designadas por modernas.

Antes da queda do bloco soviético o optimismo marxista prometia o paraíso na terra; hoje, o esquerdismo ambiental pede o poder para que a terra não se transforme num inferno. Mudança significativa ou aparência?

À esquerda as utopias nunca acabam; sempre se acredita que com novas estruturas, comissões, organizações e regulamentos é que a coisa vai, desde que sejam eles a ditar o mainstream. Uma dessas utopias reside na crença que muita gente tem de que são os governos ou o Estado quem arranja emprego para as pessoas, sobretudo desempregadas. Tirem daí a ideia. Esse é mais um falhanço do modelo socialista.

As estruturas empresariais clássicas garantem mais rendimento que as empresas estatais. Alguém tem dúvidas sobre isto? Daí que seja estranha e absurda a pretensão de que a protecção ambiental deva ser liderada e protagonizada pelas ONG’s em detrimento da responsabilização da iniciativa privada.

Outros termos equívocos são a “eliminação da pobreza” e, a ele anexo, a “redistribuição da riqueza”. Existe um crescente número de ONG’s menos conhecidas que não pretendem ajudar os pobres a alimentarem-se a si próprios. Eles não pretendem que os pobres enriqueçam ou prosperem: o seu objectivo é eliminar a pobreza. O que não é a mesma coisa. Ajudar as pessoas implica descer a casos concretos, de pessoas reais que pedem ajuda, procurar o que realmente precisam para se valerem por si mesmas. Os objectivos de erradicação da pobreza envolvem planos utópicos que são impostos de cima às pessoas “para o seu próprio bem”.

O caso do Protocolo de Quioto é paradigmático. Se alguém pensa que tem alguma coisa a ver com o controlo das (supostas) mudanças climáticas, desengane-se. Se fosse implementado, a sua verdadeira função seria a “distribuição da riqueza” das nações industrializadas para as menos industrializadas, que, por força deste protocolo, receberiam, basicamente, fundos para não se desenvolverem.

Enquanto a generalidade da Europa continua paralisada no pensamento e incapaz de dar respostas alternativas às questões políticas e sociais do século XXI, alguns pensadores neocons, do outro lado do Atlântico, como Aaron Wildawsky 1, para já não falar em Irving Kristol, procuram responder ao socialismo onusiano, por exemplo, com a teoria dos valores culturais.

Porque é que os europeus não fazem algo parecido em vez de se dedicarem a denegrir gratuitamente os americanos? Onde estão, quem são, os novos pensadores e intelectuais europeus capazes de protagonizar uma Europa de Nações frente ao monstro totalitário que nos querem impôr com a Constituição Europeia?

1. www.worldsecuritynetwork.com

Manuel Brás

(continua)

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