2004/11/02
Conius Benedictus
No tempo do imperador Borrelius foi travada a tempo uma perigosa infiltração no Senado de um grupo de fanáticos religiosos que afirmam por todo o lado que o seu líder ressuscitou dos mortos e continua vivo, após ter sido crucificado pelas nossas autoridades, há quase 250 anos, quando Tiberius era imperador, a pedido de uns fariseus da Palestina.
Mas, para além dessa afronta aos nossos deuses, que nos protegem neste mundo sem nos intranquilizarem com o que virá depois, é muito mais grave o que se descobriu num candidato a Senador, um tal de Rocius, pertencente a esse grupo de fanáticos.
Eis que o tribuno Josefo Barrosus quase o admitia no Senado quando se descobriu que Rocius era um crítico da homossexualidade, defendia que há diferenças entre ser homem ou mulher e pretendia proteger a maternidade. Além disso, era amigo pessoal do chefe do grupo, que, frequentemente, andava a monte pelo orbe.
Valeu-nos a pronta acção do senador Dioclecianus Conius Benedictus, que o enfrentou e expulsou do Senado com estas brilhantes palavras (traduzidas do latim para não traumatizar alguém): “Às vezes acontecia que algumas crianças abriam a minha braguilha e começavam a acariciar-me. (...) Se insistiam, também as acariciava. (...) As meninas de cinco anos tinham aprendido como excitar-me. É incrível.” 1
O Senado aplaudiu de pé e respirou de alívio ao perceber que se tinha afastado o perigo de ser posta em causa a orientação sexual, um valor absoluto, logo indispensável, para garantir a felicidade da classe política.
O imperador Borrelius agradeceu a manobra de bastidores que impediu a intentona e recomendou ao tribuno Josefo Barrosus que tivesse cuidado com as convicções religiosas de quem chama ao Senado, porque religião só há uma, o ateísmo e mais nenhuma.
E terminou a sua intervenção, condenando as convicções de Rocius: “as práticas sexuais dos cristãos parecem-me aberrantes” 2, revelando nas entrelinhas que, com esta acção, Dioclecianus se transformara no seu mais digno sucessor à frente do Império.
Dixit
1. Fernandes, José Manuel; “Público”, 28 de Outubro de 2004
2. http://www.hazteoir.org/ (29 de Outubro de 2004)
Manuel Brás
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