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2004/10/19

Outras guerras além Iraque (I) 

Se o mundo inteiro votasse, Bush perdia as eleições. Dizem as sondagens. Admito que sim. Mas, os americanos ainda não foram nessa de pôr os estrangeiros a votar nas suas eleições presidenciais. Por muita ou pouca importância que se dê a escrutínios eleiçoeiros.

É fácil entender porque é que Bush perderia se as eleições fossem mundiais: invadiu uma nação soberana e desencadeou um verdadeiro golpe de estado militar (onde é que eu já ouvi isto?...) que depôs o regime. Passado ano e meio, a guerrilha continua sem se saber quando tudo voltará à normalidade desejada, num país em semi-guerra civil.

Este descontentamento externo contra Bush é o resultado da generalidade das pessoas, hoje em dia, condenar a guerra militar convencional, seja por medo, por achar que nenhuma causa vale a perda de vidas humanas, por não ter causas que valham esse combate, ou ainda pela utopia de julgar que chegaremos a um estádio civilizacional sem guerra – o paraíso terreno – à custa de um convencimento generalizado de que, acima de tudo, o que é preciso é gozar uma vida de ripanço, aconteça o que acontecer.

Quer queiramos, quer não, as pessoas no mundo ocidental, particularmente na Europa, não admitem a guerra dos militares, por razão nenhuma. É uma sensibilidade que se gerou, proveniente de um certo entendimento da vida – que alguns designarão da “modernidade” –, e que vale a pena não ignorar para proveito e crédito de certas causas civilizacionais, mesmo que se saiba que essa sensibilidade está cheia de incoerências e resulta do desvirtuamento e da fraqueza de carácter e das ideias que pululam em Bruxelas e Estrasburgo.

George W. Bush poderá ter as suas fraquezas e limitações, como qualquer mortal, entre outras coisas, na oratória. Talvez Bush seja um simples homem comum e Kerry um iluminado versado no paleio. O que não podemos acreditar é que Bush seja o tonto que certos meios de comunicação pretendem mostrar.

Será legítimo questionar a oportunidade e o acerto da intervenção anglo-americana para o Iraque, para a própria América e para o resto do mundo. Mas, só terão moral para a condenar aqueles que desde o primeiro momento se lhe opuseram e, nesse sentido, preferiam que Saddam Hussein continuasse no poder. Aplaudir a queda de Saddam e do seu regime e depois vir condenar a intervenção anglo-americana é pura canalhice intelectual que vagueia pelos lados de Madrid, Paris, Estrasburgo, Bruxelas e Berlim. Tanto mais que é sabido que uma operação militar daquela envergadura não se pode estabilizar em poucos meses.

Um interessante caso de estudo é saber quais são os planos, os interesses e as ideias à volta da guerra do Iraque. Será que as várias forças em conflito político, diplomático e militar – Bush e uma parte da América, Kerry e outra parte da América, a Internacional Socialista, a UE, a ONU – se enfrentam só neste cenário ou noutros mais abrangentes, de tal modo que podemos afirmar que está em curso um enfrentamento mais vasto, entre duas civilizações incompatíveis? Dito de outro modo: será que existe uma guerra entre dois modos de conceber o homem, a vida e o mundo?

Creio que é disto que, de facto, se trata.

Essa guerra existe e trava-se em cada dia na nossa civilização. Invisível, subtil, perniciosa. As pessoas admitem-na porque não faz barulho. Essa guerra é o “novo paradigma” socialista da ONU contra as estruturas clássicas liberais da civilização ocidental: a família (pai, mãe e filhos), as associações profissionais, culturais e sociais, os municípios, as Nações.

Para consumar esta guerra, a ONU muniu-se de uma ideologia, assente no igualitarismo radical, isto é, na costumeira ideia de que é tudo a mesma coisa, do compromisso e da cumplicidade da UE e de um número crescente de ONG’s para a “implementar” nas sociedades.

Estamos a falar de ONG’s como Greenpeace (a apologia do desenvolvimento sustentado de cariz malthusiano), o IPPF (a apologia do combate à natalidade, do aborto como direito “reprodutivo”), de organizações feministas (a apologia do gender, da superação dos determinismos biológicos, da igualdade absoluta homem-mulher), de organizações homossexuais (a apologia da orientação sexual e seus direitos, da igualdade homo-hetero).

Eis uma verdadeira guerra mundial, porque civilizacional, à volta da forma como se concebe a igualdade em UN Square e em Bruxelas, para a qual a Europa – profundamente dividida entre mundividências antagónicas inconciliáveis, em guerra nos últimos 200 anos – ainda não acordou.

A América já começou a dar respostas a essa guerra. Com mais ou menos simpatia, vale a pena conhecê-las. Pelo menos para ajudar a combater a fragilidade europeia.

É dessa guerra que vamos falar em próximos postais.

Manuel Brás

(continua)

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