2004/07/28
Homens e mulheres de segunda?
“Não posso pegar nas minhas crenças católicas, nos meus artigos de fé e legislar sobre protestantes, judeus ou ateus”. Assim justifica John Kerry, candidato à presidência dos EUA, segundo citação do “Público”, o seu retraimento perante a legislação abortista.
É claro que isto poderia ser dito e feito por muito político português do chamado “centro-direita” ou da “direita”. Bastaria que não estivesse disposto a chatear-se por causa do aborto, e muito menos a comprometer uma fulgurante carreira parlamentar. Afinal de contas, já cá estamos...
Essa ideia que ferraram a alguns “católicos”, sobretudo nos meandros dos vários poderes, de terem uns critérios de vida dentro de casa e outros, diametralmente opostos, fora de casa, dá nisto: esquizofrenia. É claro que as crenças de Kerry podem ser católicas, mas não são verdadeiramente dele porque não as faz suas. Não as assume até às últimas consequências. Portanto, não as tem.
A táctica é velha e resume-se em duas penadas: a partir do momento em que se descobriu que a melhor forma de impôr coisas aos outros é acusá-los de no-las imporem a nós, foi um vê se te avias; diz-se aos “católicos” que não podem impôr convicções pessoais à sociedade, enquanto os outros – supostamente ateus e agnósticos – lhes pedem que aceitem – contra a sua consciência – a convicção de permitir o aborto.
Será que um governante – cristão ou ateu – pode proibir a pena de morte (depois das 12 semanas, claro), o roubo, a fuga aos impostos e a pedofilia? Não estará a impôr as suas convicções? Em nome de quê? Não serão todos estes casos de consciência? Assim, não há razão para impôr critérios pessoais, proibindo e punindo certas práticas.
Mas será que o aborto é uma questão confessional, perante a qual se possam digladiar cristãos, ateus, agnósticos, muçulmanos ou judeus? O que tem de confessional o reconhecimento científico-natural de que a vida humana começa no momento da concepção? O que tem de confessional o direito de um ser humano ser concebido, nascer e ser educado pelos seus pais? O que tem de confessional o direito dos pais escolherem a escola – e inclusivamente de a construírem – e os professores para ensinarem os seus filhos? Será preciso ser cristão para aderir a estas convicções?
Essa táctica de intimidação política e cultural visando a proscrição dos cristãos, particularmente dos católicos, dos centros de decisão e da vida pública é antiga e reflecte-se nos vários órgãos do poder, mediático e político. Talvez seja difícil, senão impossível, encontrar um director de um jornal de referência que seja cristão coerente, ou de uma cadeia de TV, ou de postos-chave da coisa pública.
A recusa da referência ao Cristianismo na constituição europeia é um exemplo sublime disso. Existe uma clara inversão de convicções quando se passa da sociedade civil (na chamada civilização ocidental) para os vários órgãos de poder.
Não é exagero dizer que 80% dos europeus (sociedade civil) são cristãos – endemicamente cristãos, no sentido de que se identificam com uma mundividência cristã – o que não significa que todos sejam coerentes. Sobram 20% de ateus, agnósticos, muçulmanos, judeus. No entanto, no mundo dos poderes talvez haja 20% de cristãos, sendo os restantes 80% ateus, agnósticos, judeus, muçulmanos.
Alguém consegue explicar este fenómeno de inversão profundamente antidemocrático? Ou será que os cristãos são homens e mulheres de segunda?
Manuel Brás
É claro que isto poderia ser dito e feito por muito político português do chamado “centro-direita” ou da “direita”. Bastaria que não estivesse disposto a chatear-se por causa do aborto, e muito menos a comprometer uma fulgurante carreira parlamentar. Afinal de contas, já cá estamos...
Essa ideia que ferraram a alguns “católicos”, sobretudo nos meandros dos vários poderes, de terem uns critérios de vida dentro de casa e outros, diametralmente opostos, fora de casa, dá nisto: esquizofrenia. É claro que as crenças de Kerry podem ser católicas, mas não são verdadeiramente dele porque não as faz suas. Não as assume até às últimas consequências. Portanto, não as tem.
A táctica é velha e resume-se em duas penadas: a partir do momento em que se descobriu que a melhor forma de impôr coisas aos outros é acusá-los de no-las imporem a nós, foi um vê se te avias; diz-se aos “católicos” que não podem impôr convicções pessoais à sociedade, enquanto os outros – supostamente ateus e agnósticos – lhes pedem que aceitem – contra a sua consciência – a convicção de permitir o aborto.
Será que um governante – cristão ou ateu – pode proibir a pena de morte (depois das 12 semanas, claro), o roubo, a fuga aos impostos e a pedofilia? Não estará a impôr as suas convicções? Em nome de quê? Não serão todos estes casos de consciência? Assim, não há razão para impôr critérios pessoais, proibindo e punindo certas práticas.
Mas será que o aborto é uma questão confessional, perante a qual se possam digladiar cristãos, ateus, agnósticos, muçulmanos ou judeus? O que tem de confessional o reconhecimento científico-natural de que a vida humana começa no momento da concepção? O que tem de confessional o direito de um ser humano ser concebido, nascer e ser educado pelos seus pais? O que tem de confessional o direito dos pais escolherem a escola – e inclusivamente de a construírem – e os professores para ensinarem os seus filhos? Será preciso ser cristão para aderir a estas convicções?
Essa táctica de intimidação política e cultural visando a proscrição dos cristãos, particularmente dos católicos, dos centros de decisão e da vida pública é antiga e reflecte-se nos vários órgãos do poder, mediático e político. Talvez seja difícil, senão impossível, encontrar um director de um jornal de referência que seja cristão coerente, ou de uma cadeia de TV, ou de postos-chave da coisa pública.
A recusa da referência ao Cristianismo na constituição europeia é um exemplo sublime disso. Existe uma clara inversão de convicções quando se passa da sociedade civil (na chamada civilização ocidental) para os vários órgãos de poder.
Não é exagero dizer que 80% dos europeus (sociedade civil) são cristãos – endemicamente cristãos, no sentido de que se identificam com uma mundividência cristã – o que não significa que todos sejam coerentes. Sobram 20% de ateus, agnósticos, muçulmanos, judeus. No entanto, no mundo dos poderes talvez haja 20% de cristãos, sendo os restantes 80% ateus, agnósticos, judeus, muçulmanos.
Alguém consegue explicar este fenómeno de inversão profundamente antidemocrático? Ou será que os cristãos são homens e mulheres de segunda?
Manuel Brás
Etiquetas: Em Defesa da Vida, Manuel Brás, pedofilia