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2004/07/16

Uma guerra inútil? Não será imoral pensar que uma guerra pode ser útil? 



Diz-se às vezes da intervenção anglo-americana no Iraque que foi inútil.

De certo modo, toda as guerras são ou foram inúteis, até "desastradas", se nos cingirmos a perigosos moralismos ou a ainda mais perigosas visões pacifistas, o que sei bem não ser o caso do Manuel Brás do nosso poste de ontem.

Como, creio, seria imoral admitir que uma guerra possa ser útil, limitemo-nos aos factos: todas as guerras deixam marcas e resultados; nada, depois delas, continua a ser como dantes.

No caso da reacção americana ao "11 de Setembro", terá primeiro de perguntar-se, até: poderia ter sido de outro modo, isto é, os Americanos poderiam não ter reagido pela força aos ataques que a 11 de Setembro de 2001 foram desencadeados directamente contra o seu próprio território?

É perfeitamente desastrado e inútil supor que não contra-atacariam em força.

Que seria talvez já hoje de todos nós, se os Americanos não tivessem reagido com o máximo rigor?

Quero dizer: seria sempre inevitável, porque necessário, útil para todos e estrategicamente indispensável, que os Americanos reagissem e contra-atacassem em grande força.

No Iraque ou noutro(s) lado(s).

Ponto assente, pois.

Mas porquê no Iraque?

Antes porém de seguirmos por esse caminho, parece-me importante constatar que, segundo todos os indícios e informações, os Americanos estão hoje muito mais fortes e com mais capacidade de intervenção para enfrentar novos surtos de terrorismo.

É bom para todos nós.

E isso é uma primeira e importantíssima consequência da sua decidida mobilização para o contra-ataque ao terrorismo.

Os gastos dos EUA com a defesa aumentaram entretanto muito; e esta foi-se aperfeiçoando tecnológica e estrategicamente, de modo extraordinário.

Militar e pragmaticamente, podemos sentir-nos hoje todos, no Ocidente, muito menos inseguros, apesar dos ataques terroristas de Marrocos e das estações de Madrid.

A primazia técnica dos E.U.A. na guerra, como na produção para fins pacíficos, é cada vez maior.

Se poderão os E.U.A. aguentar sozinhos, indefinidamente, um tal sobresforço, é outra questão.

Mas não têm que pôr-se em causa ou em dúvida a utilidade, a coragem, a determinação e a grandeza com que os E.U.A. o vêm assumindo, em dinheiro e em sangue e sofrimento dos seus soldados e famílias.

Será inevitável que a lânguida Europa acabe por colaborar sem timidez nessa colossal mobilização de todo o tipo de recursos.

Pensar ou premeditar o contrário traduz-se em cobardias a pagar caro.

E ficar-se-à cada vez mais dependente da vontade e disposição dos E.U.A. para nos defenderem.

Também isto pode ficar já assente, isto é, no fundo, que tirar todos os benefícios duma guerra que outros pagam e, no fim, pôr em questão a sua utilidade ou oportunidade, é indecoroso ou pior.

Tudo certo, mas porque havia de ser o Iraque a fazer de primeiro trampolim* para a reacção inevitável aos ataques do "11 de Setembro"?

A.C.R.

* Trampolim: "Meio habilmente utilizado para atingir um determinado fim".

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