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2004/07/09

A filosofia do desporto 

Lembro-me de, após a vitória sobre a Holanda que nos qualificou para a final do Euro 2000, ter dito a alguém que ainda não tínhamos ganho nada.

O que suscitou um comentário acusador do radicalismo da minha observação para concluir que, afinal, o desporto não é como a vida.

Isto coloca-nos diante do problema da seriedade ou da ludicidade com que devemos encarar o desporto. Devemos levar o desporto a sério, ou não? Será o desporto sério como a vida, ou a vida um jogo como o desporto? Talvez as duas coisas sejam verdade.

À partida o desporto reveste-se de certas características contrárias ao ar do tempo.

O exercício da capacidade de superação individual contrasta com a mediocridade com que as crianças convivem logo desde tenra idade nos bancos da escola; o contributo pessoal para a equipa contrasta com o atomismo individualista reinante e – mais relevante – só uma equipa pode vencer, o que fará por mérito de alguma coisa, porque na ONU ainda não inventaram o direito à vitória.

Até lá, na competição desportiva vigora a recusa do empate – daí os prolongamentos e os penalties – e a rejeição da igualitária distribuição de pontos.

É o mata-mata, como diz o mestre Scolari.

Na vida, como no desporto. No desporto, como na vida.

Manuel Brás

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