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2004/07/09

E agora, Portugal? 

Não era preciso a selecção ter ido à final do Euro 2004 para que este cumprisse a sua missão. Porque ficou cumprida antes do 1º jogo, por sinal da derrota, como o foi o último, com a mesma Grécia: ficou demonstrado através de uma inefável mas omnipresente fúria vexológica que Portugal ainda existe.

A bandeira é um símbolo, e estes servem para alguma coisa.

Só por isso, já valeu a pena.

Podemos acusar tal pretensão de superficial. Nem por isso deixa de ser absolutamente verdadeira: a selecção de futebol uniu os portugueses como talvez nenhuma outra coisa nos últimos 30 anos. A selecção era mesmo nacional: estava acima de todas as preferências e clubismos. Portugal identificou-se com a epopeia futebolística – dir-se-á na falta de outra melhor – que, obviamente, não podia dispensar o fatuum.

Supremo e secreto gozo foi verificar que a fúria vexológica nasceu da sociedade civil, do mais profundo da Nação, e que os portugueses perderam a vergonha dos seus símbolos e se identificaram com eles. Supremo e secreto gozo foi verificar que a iniciativa não só não partiu dos políticos e governantes – como poderia ser tal? – como os arrastou sem tugir nem mugir. Alguns bem gostariam de insultar os portugueses de fanáticos nacionalistas, mas a quantidade era tanta que nenhum se atraveu a tão contraproducente piropo.

Como devemos entender o facto indesmentível de nas antigas províncias ultramarinas as pessoas terem saído para a rua com bandeiras portuguesas, acompanhando com alegria o que sucedia na Metrópole durante o Euro? Inequivocamente essas pessoas identificam-se com Portugal, muito para além daquilo que os acordos políticos possam estabelecer. Isto não é a apologia de coisa alguma. É só tentar entender um sinal muito curioso.

Podemos questionar porque é que os portugueses manifestam a sua identidade e unidade de forma exuberante e assombrosa quando sentem aproximar a vitória e a hora da glória, enquanto se retraem e dispersam nas horas difíceis. Isso daria para muitas considerações.

E agora? Porquê manifestar este sentido nacional apenas no futebol e não em outras coisas, porventura, mais profundas da vida portuguesa?

Há causas verdadeiramente nacionais em jogo, que pedem a mobilização de todos os portugueses – mais ou menos envolvidos na política –, tais como a soberania, a liberdade e a independência nacionais, a batalha da família, da natalidade, do repovoamento do interior, a batalha do trabalho realizado com perfeição e competência. E, convenhamos, não é pouco.

O mesmo entusiasmo que os portugueses dispensaram ao futebol espera-se que dediquem agora a estas outras causas nacionais.

Perguntará o Portugal escondido e esquecido: o que posso eu, ilustre desconhecido, fazer pela Nação? Fazer bem o seu trabalho, com competência. Se assim for, já não é nada mau.

Se todos os portugueses fizessem isso...

Manuel Brás

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