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2004/07/13

Os Esquerdistas que Temos são do Mais Reaccionário que Há 




A concepção que têm da Democracia muitos dos "democratas" que se manifestaram a respeito (sem respeito, aliás) da decisão do Presidente da República, contrária à antecipação das legislativas, é a concepção de um regime político acéfalo e desarticulado.

Acéfalo por desmiolado e sem cabeça ou cabeças.

Desarticulado por ignorar que a sociedade não é a simples soma amorfa dos indivíduos que dela fazem parte, mas um agregado desses indivíduos e dos grupos e instituições em que eles, voluntariamente ou por legado e tradição, se inserem e organizam: Estado, autarquias, partidos, famílias, empresas, sindicatos, ordens e associações profissionais e empresariais, organizações de produtores, organizações não governamentais (o.n.g.), organizações desportivas e organizações de solidariedade social, etc., etc...

A esquerda que se vem manifestando desde 6ª feira, dia 9 à noite, contra a decisão do P.R., quase sempre acintosamente e de modo profundamente desrespeitoso para o Presidente, se não é, comporta-se como estupidamente individualista.

Coisa que, em absoluto, não seria de esperar de esquerdistas...

Esquerdistas parecem ser fundamentalmente os defensores dos fracos e marginalizados, e como tal pelo menos se apresentam sempre.

Mas os fracos e marginalizados, se permanecerem isolados, puramente indivíduos sem ligações que os protejam e promovam, nunca sairão disso mesmo: de fracos e marginalizados.

Compreende-se então, pois, o esquerdismo desses esquerdistas.

Não querem os fracos e marginalizados integrados nas associações e corpos orgânicos natural e espontaneamente constituídos que a sociedade oferece.

Portanto, resta aos esquerdistas aquilo que nunca conseguem disfarçar completamente, como sua ambição política essencial: destruir os corpos orgânicos existentes, para que não contaminem e conquistem os "seus" fracos e marginalizados; construir no lugar desses os corpos falsamente orgânicos por eles imaginados para o arregimentamento dos "seus" fracos e marginalizados; e, a coroar toda a construção, instalar um Estado todo poderoso, sem possibilidade de brechas de qualquer espécie, donde os "seus" fracos e marginalizados não possam evadir-se.

Em suma, os "esquerdistas" da espécie a que sem dúvida os mais perfeitos dos nosso pertencem, não são outra coisa que retrógrados aspirantes à reconstrução do Estado totalitário.

É bom que às vezes sejam completamente encostados à parede das suas contradições, como desta feita os tratou o Presidente da República, para nos não deixarem esquecer a sua natureza profunda de reaccionários empedernidos, felizmente desempregados e acéfalos.

A.C.R.

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