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2004/07/15

As duas Américas 

A desastrada e inútil – em meu entender – intervenção anglo-americana no Iraque teve o carisma de unir do outro lado da trincheira política e mediática pessoas, movimentos e forças políticas dos mais variados quadrantes. Resumindo: apanharam de todos os lados. Politicamente, claro.

Os últimos meses não foram fáceis: o constante clima de guerra civil alimentado pela presença das forças invasoras e pelos vários grupos rivais que tentam alcandorar-se no poder, os atentados a militares e civis e a agitação do islamismo triunfante deixam dúvidas quanto ao futuro próximo na hora da transmissão do “poder”, que ocorreu dois dias antes do previsto.

As tropas permanecem. É o mínimo que se lhes pode exigir. Agora têm de ir até ao fim. Custe o que custar. Sob pena de se desencadear uma guerra civil a 100%. Depois de feita a asneira, retirar de imediato e completamente seria outra asneira ainda pior.

Esta nova fase da vida do que resta do Iraque fará a revelação dos seus poderes efectivos e emergentes. Será o tempo de descobrir a correlação das forças vivas do poder no Iraque: os xiitas do sul, apoiados pelo Irão, os sunitas ao centro e os curdos ao norte. O que sairá dali?

Tão misteriosas como as que levaram George W. Bush a invadir o Iraque – se não quisermos enveredar de imediato pela tese do controlo do petróleo, sempre possível – são as razões que levaram o eixo franco-alemão – a UE jacobina – a não alinhar com a invasão do Iraque e até a demonstrar uma resistência ao diktat americano como há muito não se via. Respeito pela soberania de uma Nação ou simplesmente medo da guerra? A resposta cabal a esta pergunta pode-nos elucidar sobre o tipo de europeus que temos em Bruxelas, em Estrasburgo e mais alguns governos por aí.

Parece óbvio que Bush terá de trabalhar arduamente durante os próximos 4 meses para conseguir a reeleição. O que será bastante difícil, mas não é impossível. Porém, é evidente que se Bush perder as eleições será exclusivamente por sua própria culpa. O que seria uma pena. Não só para a América, mas também para o mundo que recusa uma governação mundial.

Porque o que está em jogo não é só a errática política externa americana dos últimos dois anos que, aliás, é a mesma dos últimos 80 ou 90 e, por conseguinte, não é exclusiva de Bush.

O que está em jogo são duas Américas, duas visões do mundo e, logicamente, também duas Europas.

Bush pode representar, externamente, uma ameaça ao mundo árabe e à sua expansão cultural e política, mas representa também a recusa da revolução cultural operada no seio da ONU nos anos 90 – a ideologia onusiana – com a sua ética planetária e a imposição dos seus direitos ao mundo, definidos e ditados pelos iluminados.



Kerry, pelo contrário, representa a antiglobalização económica, não por ser globalização mas por ser económica. Porque Kerry, como todos os socialistas, pretende impôr uma globalização à medida das utopias e dogmas do socialismo: uma férrea globalização social e cultural – um pensamento único para uma governação única –, a ONU como única instância capaz de definir direitos – como se cada homem, por si mesmo, não fosse capaz de discernir os direitos humanos. Kerry pretende, enfim, pôr a América a mandar no mundo através da ONU que, assim, funciona como longamanus da Internacional Socialista.

E isto, é mau para a Europa, porquê? Porque é esta, exactamente, a mesma lógica da constituição giscardeana, – o mais possível à revelia dos povos europeus – que o eixo franco-alemão pretende impôr, o que não é mais do que a aplicação da receita onusiana à Europa inteira. É também isto que representa Kerry.

Pode-se dizer que Bush defendeu os interesses da América, inclusivamente, principalmente ou até exclusivamente económicos, mas nunca quis impôr uma governação mundial à Europa. Pelo contrário, a sua controversa decisão de invadir o Iraque teve como (boa) consequência a divisão no seio da “União” Europeia, entre os eixos franco-alemão e luso-britânico, o que contribuiu decisivamente para que a constituição giscardeana perdesse tempo e oportunidade. Não fora isso e talvez hoje o caso já estivesse arrumado.

Bush representa uma Europa de Nações soberanas, livres e independentes, o respeito pelas instituições multisseculares que o tempo consagrou, como a família e a maternidade, a recusa da instrumentalização dos primeiros momentos da vida humana, a recusa do subsídio e do privilégio a estilos de vida alternativos.

A Europa está em declínio. Na América, alguns autores definem a situação populacional europeia como um suicídio demográfico.

A constutuição europeia é um dos sinais e, ao mesmo tempo, uma das causas de tal declínio. A sua rejeição é fundamental para a soberania e liberdade das Nações Europeias. O resultado das eleições na América terá as suas consequências no Velho Continente.

Assim, como se viu que espanhóis ganharam as eleições em 14 de Março, vamos lá a ver que América e que americanos ganham as eleições de Novembro.

Manuel Brás

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