2008/01/14
Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 20 – RUMOS NOVOS
(<--)
Um importante Banco português com sucursal em Pretória abordou os representantes da UL durante as diligências em curso para a criação do pólo da Universidade na África do Sul.
Porquê?
Porque alguém na sucursal soube da orientação ousada e original dada às diligências em questão e pôs o assunto à consideração da sede do Banco, em Lisboa.
Afigurara-se-lhes muito interessante terem a UL como cliente.
O interlocutor, na sede, logo aconselhou prudência, dado lhe terem parecido inéditos e inseguros os aspectos políticos implicados na criação duma “federação”, aspectos que se poderia considerar porem em causa a soberania nacional de cada um dos Países onde a UL já funcionava ou onde se preparava para vir a funcionar em breve.
Por uma estranha inspiração imediata, o homem cada vez mais forte da UL em Pretória, sabedor destas reticências, saiu-se logo com uma oportuna tirada para o agente bancário com quem tratava…
“Concordemos que há riscos – admitiu Jucelino. – Mas que há também perspectivas imensas! Quem primeiro correr esses riscos será também o primeiro a aproveitar as grandes chances oferecidas… Peça ao seu chefe da sede que ouça em Lisboa o Doutor Rufino, secretário-geral da UL e o grande motor dela… Tem ideias luminosas sobre o presente e o futuro da Universidade! Julgo que o presidente do vosso Banco e o nosso secretário-geral são os dois empresários mais sensacionais, com certeza os de mais visão que há nesta altura em Portugal, pode crer!”
O isco ficava lançado e o rastilho aceso, acreditava Jucelino, a quem a fama do Banco e o pensar detidamente no assunto, cada vez o abriam mais para o extraordinário potencial que adviria para a “federação” e a UL, tinha a certeza, uma vez associadas e com o apoio em exclusivo duma organização bancária dotada da enorme capacidade de irradiação, crescimento e penetração que o banco português demonstrava.
Jucelino já não tinha dúvidas sobre as possibilidades dessa nova aventura que era indispensável e urgente correr e explorar, como só na UL e nesse Banco se sabia fazer, em Portugal, tanto quanto constava correntemente sobre o Banco e o seu grande líder e fundador.
Quem era?
Um misterioso senhor, vindo mal se sabia de onde, que desatara a comprar pequenos bancos, logo reorganizados de alto a baixo, constituindo com eles, em poucos anos, um dos três maiores bancos da Península.
E era tudo, não sendo nada pouco.
Vivia, porém, com um fantasma dentro de si, o fantasma do seu sucessor pessoal que lhe era imperativo descobrir e não conseguia, por muitas voltas que desse pela gente à sua volta.
O lado político que o empreendimento bancário pudesse vir a assumir, por “contágio” da “federação”, também não lhe facilitava as coisas…
Mas chegavam coisas de Kinshasa, confirmando a dificuldade, se não impossibilidade, de fugir às implicações políticas do empreendimento.
O governo de lá havia descoberto a “federação”!
Com uma tal fúria de zelo e persistência que, de um momento para o outro, passara visivelmente a apostar em não se deixar ficar de fora.
Acima de tudo, o governo de Kinshasa dava ares de muitíssimo interessado no projecto político, mais do que nos apoios que directamente poderiam vir do Banco português, como poder financeiro de excepcional alcance e envergadura que geralmente constava ser.
Era, poderia vir a ser um notável reforço do esquema preparado. Não devia, apesar de tudo, minimizar-se a política, no seu papel de fermento da massa toda…
Em Lisboa, Rufino concordou, deu o seu aval.
E decidiu mesmo que Celestino Maria os representaria e à UL junto do Banco, para todos os efeitos do entendimento previsto e acordado, bem como para eventuais novas negociações.
Mas quem substituiria Celestino Maria nas suas tarefas actuais de animação, promoção e coordenação da UL, já de si tão absorventes?... Rapidamente Rufino e Jucelino puseram de parte as hesitações, para concluírem que, entretanto, o problema não se poria, tão evidente era que Celestino Maria, nas suas capacidades de gestor e animador das iniciativas da UL, jamais mostrara a mais pequena limitação executiva que prejudicasse as estratégias globais definidas entre os três.
Quando lhe disseram das suas novas responsabilidades, Celestino Maria observou, com evidente convicção, que os companheiros estariam a presumir perigosamente das suas capacidades. Avançou mesmo com uma pergunta que não permitia dúvidas…
“E se estabelecêssemos um sistema de rotação da função entre nós três?...”
Os outros dois sorriram como se ouvissem uma graça, mas encerraram a questão adiantando que ambos estariam disponíveis para ajudá-lo, caso sentisse necessidade ou conveniência, alguma vez, incluindo conversações com Kinshasa.
“E ponto final!” – exclamaram os três em uníssono.
A.C.R.
(-->)
Etiquetas: Conta-me como foi..., Ensino, Memórias das minhas Aldeias, Universidade Livre