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2008/01/09

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte VIII – N.º 18 – QUE LOUCURA! 

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Na reunião seguinte voltaram a estar presentes os mesmos quinhentos ou seiscentos candidatos da antevéspera, mas os questionários respondidos pelos próprios e seus conhecidos, colegas e amigos foram em número superior a três mil, todos assinados e com os nomes e endereços dos respectivos pais devidamente expressos, em letras suficientemente gordas.

Os endereços indicados eram duma boa parte de quase toda a África do Sul!

Perante tal sucesso Jucelino, varado de espanto, exclamou apenas...

“Mas que loucura! Que loucura!”

Os três outros membros da direcção do pólo, ali presentes com Jucelino, concordaram com mais espanto ainda…

“Mas que loucura! Que diabo de loucura! Como vamos resolver os problemas desta avalanche, é que não sabemos!”

“Qual não sabemos!” – atalhou prontamente, o filho do soba, para logo continuar…

“Nós não saberíamos resolver o problema era se as respostas fossem poucas ou pouquíssimas, ou ainda mesmo que assim… assim…

“Como são muitas, muitíssimas… o problema, por enquanto, é meramente estatístico. Entregamos as três mil e tal respostas aos cuidados do nosso gabinete de estudo dos dados obtidos e amanhã à noite apreciamos em conjunto a análise do gabinete. Concordam?...”

Pois que haviam de fazer, senão concordar?

Cada um deles reviu mentalmente os compromissos já tomados, que teria de alterar. Mas o hábito era grande de isso acontecer. Claro que as mulheres, amigas ou namoradas iam ter as suas fúrias, que ele como sempre endossaria para as costas largas de Jucelino. Mesmo para as costas ainda mais largas de Celestino Maria, embora ausente desde havia dois ou três dias, na Europa, aonde fora dar conta da situação em Pretória e pôr problemas, receber instruções, sintonizar enfim o “Chefe” e “Mestre” para as novas orientações que as grandes mudanças ou desenvolvimentos recentes de todo o panorama africano acabariam por impor na estratégia da UL… A UL de dois ou três Continentes, tantos continentes quantos os da “Federação” de Estados por ela inspirada e, na verdade, promovida… Uma e outra, nem saberia dizer porquê, surgiam de súbito aos olhos de Jucelino como já possivelmente tentadas a singrar em direcção a um centralismo que viria a ser nefasto, achava ele que inevitavelmente nefasto, a concretizar-se.

“Temos antes de mais de provar que não somos nazis… como alguns de nós gostariam de ser e como outros gostariam de fazer-nos parecer…”

Era uma decisão sua, havia um certo tempo, mas que Jucelino não sabia ainda exactamente como pôr em prática, para grande arrelia dele e do “Chefe” e “Mestre”, por mais voltas que dessem ao problema, cada vez com mais frequência e sempre que podiam fazê-lo a sós, sem sequer a quase certeza de escutas perfeccionistas ali por perto.

Constando embora que eram omnipresentes à sua volta…

“E nem ao menos os judeus estão mortos!” – lembrou-se ele de lamentar, sentindo aumentar o peso do insucesso na consciência, como se insucesso e consciência fossem exclusivos seus ou obras sua.

Como resolver o fundo da questão, se nem mesmo Rufino, o engenhoso, o genial, o grande Rufino, até essa altura, tinha encontrado uma solução segura!

“Todos os suspeitos têm direito a um julgamento imparcial – dizia Rufino da última vez. - Mas a nós não no-lo garantem, nem agora nem talvez em nenhuma ocasião, no futuro. Não concordas?...”

Sim concordava. Mas não aceitava, custava-lhe a aceitar que não houvesse remédio, fosse ele qual fosse, de preferência um que mostrasse as coisas à transparência, tal qual elas eram, e não como os adversários e os desconfiados mostravam querer que elas fossem, porque lhes interessava e agradava.

Era certo que os nazis tinham podido ganhar a guerra e que isso os tornava simpáticos e interessantes aos olhos de muitos que, por essa aparente simpatia ou interesse suposto, podiam eventualmente passar por nazis ou simpatizantes nazis, mesmo por cúmplices de nazis e fascistas ou outros totalitários de ainda pior espécie.

Como não?...

Teve de súbito consciência de haver achado, pois, uma solução infalível e impossível de iludir ou ignorar, fosse quem fosse o espertalhão que o tentasse.

O combate constante e incansável ao centralismo, sob todas as suas formas, inclusive e sobretudo as formas ditas “democráticas”, devia de facto – concluía cada vez mais seguro de si – tornar-se a marca de excelência e inconfundível do anti-nazismo mais genuíno.

O eterno combate ao “centralismo democrático”…

A.C.R.

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