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2007/04/18

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte V – N.º 03 

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Nos primeiros anos, o capitão comendador não teve razões de queixa, os juros foram-lhe pagos pontualmente, percebeu ele que em boa parte por força de outros empréstimos, obtidos junto da banca onde o peso social e político da CO contava muito.

Mas com a morte do Rei D. Carlos e do Príncipe Herdeiro no atentado do Terreiro do Paço, em Fevereiro de 1908, a banca tornou-se muito mais cautelosa na apreciação do peso político dos seus clientes.

Tanto mais que os republicanos emergiam, em eleições e na audácia com que falavam e se impunham, no parlamento e na rua, como força política cada vez mais ameaçadora para a sobrevivência do sistema político ainda em vigor.

Com a proclamação da República, em 1910, confirmaram-se os piores receios e a CO declarou falência, impossibilitados como ficaram os proprietários de continuar a cumprir os seus muitos e grandes compromissos para com diversos credores, o maior dos quais nem seria o comendador Zé Gomes, embora muito grande.

Em 1912, foram à praça os bens todos da CO, rústicos, fabris e urbanos, incluindo o solar da Seia e tudo o mais que a Casa possuía no concelho e redondezas.

O capitão comendador José Gomes não teve praticamente concorrência de licitantes à sua altura, porque os valores em questão eram demasiado altos e a conjuntura política e económica pouco propícia também a actos de audácia extrema de investidores de adequado gabarito.

Mas Zé Gomes não hesitou e talvez não tivesse outro remédio, senão comprar o que quis dos lotes todos que foram à praça, por muito menos de metade do valor que o mercado lhes atribuía.

E, no meio de tudo, a jóia com que jamais ousara sequer sonhar, o solar de Seia da Casa das Obras!

Disse-se que comprara o juiz que organizou a arrematação judicial, para que as bases de licitação não fossem postas mais altas, mas na verdade ninguém via, objectivamente, razão ou razões para que tal fosse necessário ou de supor.

Eram apenas os habituais arrotos de invejosos.

Creia-se ou não se creia, um súbito pudor pareceu apossar-se do “capitão”.

Ou talvez fosse – igualmente surpreendente ou mais – um sentimento de não sentir-se à altura.

O facto é que, no próprio dia do resultado da licitação, e mal cumpridas as formalidades essenciais da situação, logo o “comendador capitão” quis retirar-se para Lisboa, donde se dispunha a partir no primeiro vapor para o Congo, tão de pressa quanto possível.

Caiu em si, porém, e voltou atrás antes de irremediavelmente embarcado.

Mas apenas – projectava ele – para precisar e completar melhor certas ordens e recomendações que fizera ao feitor recém-nomeado, um jovem inteligente mas de nenhuma experiência. Era seu afilhado, conhecia-o bem e aos pais mas, com efeito, deixava-lhe de um momento para o outro todas as pesadas responsabilidades de gestão do seu património no concelho de Seia e limítrofes, património que assim, do pé para a mão, tornava o “capitão” Zé Gomes, sem contestação ou dúvida possível, o maior proprietário de toda aquela região.

Prometera, em todo o caso, recompensá-lo generosamente e confiara-lhe o seu código telegráfico secreto, para a todo o momento poderem informar-se de tudo um ao outro, fosse urgente ou não.

Sentiu que conquistara definitivamente o afilhado e feitor, com essas provas de confiança e da importância das tarefas que nele delegava sem reservas.

Ao seu estilo de sempre, o “capitão” exigia dedicações para a vida e para a morte.

A.C.R.

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