2006/03/14
O que foi o Círculo de Estudos Sociais VECTOR? (3)
O PREC; a Universidade Pública, a Universidade Livre - 1
(ver poste anterior sobre o assunto)
Em 1975, o País fez frente ao PREC e ganhou. Por mérito do Povo Português, por mérito de algumas das suas elites, sobretudo as elites católicas, e, se há que destacar uma personalidade individual da resistência, destaque deve dar-se ao então Arcebispo Primaz de Braga D. Francisco Maria da Silva, que, com os seus mais próximos colaboradores, soube pôr o País em movimento, durante os meses do PREC.
O PCP só compreendia a força, só tremia diante da resistência activa, e essa foi-lhe oferecida, sem temor nem hesitações, pelas grandes massas de católicos e simpatizantes católicos, militantemente anti-comunistas, educados nos quarenta anos anteriores pela Igreja e pelo Estado.
Sem essa formação profunda, o mais provável é que o PCP tivesse conseguido arrastar e enganar os Portugueses.
Depois houve alguns, um ou outro, que também deram uma ajuda, digamos que pondo “uma cereja no bolo”, como os “mários soares” deste mundo que tinham acabado por perceber, depois de bastantes dúvidas, para onde e por onde ia o Povo português e quem eram os seus verdadeiros líderes e aquilo que verdadeiramente o movia.
Enfim, com a derrota do PCP em 1975 termina o 1º verdadeiro ciclo político pós-Abril.
Destruída a universidade pública durante o PREC e nada se anunciando para recuperá-la, tal era a paralisia do Ministério da Educação, o VECTOR compreendeu depressa que o combate político tinha de passar a ser desenvolvido noutro plano completamente diferente, o plano cultural e, em especial, o plano do ensino superior e universitário.
Um grupo dos principais dirigentes do VECTOR juntou a si alguns antigos professores universitários, então “saneados”, e nos primeiros meses de 1976, reunindo-se na Editorial Resistência, rua Nova de São Mamede, em Lisboa, começam por considerar a criação de salas de estudo para estudantes do ensino superior público, onde pouco se estudava porque pouco se ensinava e onde se instalara mesmo a rotina das passagens administrativas (assim chamadas, porque obtidas por meros lançamentos misteriosos de notas nos livros guardados nas secretarias…).
Os dirigentes do VECTOR acharam que salas de estudo era pouco e exigiram que se planeasse, sim, desde logo uma Universidade, para a qual eles próprios indicaram o nome de Universidade Livre que consideravam ideal, o qual lhes fora sugerido pelo presidente da Assembleia Geral do VECTOR, o Prof. Doutor Guilherme Braga da Cruz, então também no estado de “saneado” da Universidade de Coimbra.
Devo dizer que os Professores universitários, associados à preparação da iniciativa, consideravam então o VECTOR uma espécie de pára-raios político.
Extraordinário?... Não tanto como pode parecer à primeira vista.
Era o prestígio nacional alcançado pelo VECTOR que falava neles, porque talvez o considerassem “protegido” da Igreja, mas era sobretudo o seu prestígio internacional. Dele lhes dava testemunho especial o Prof. Doutor Henrique Martins de Carvalho, o qual, tendo participado em Lausanne, dias antes do 25 de Abril, no congresso anual de três dias presidido por Jean Ousset, com mais de quatro mil participantes de vinte e tal países, viera impressionadíssimo pela força e capacidade mobilizadora do Office e pelo extraordinário acolhimento aí dado à numerosa representação do VECTOR, com o enorme eco que aliás isso logo encontrara nalguma imprensa nacional.
Tudo a concorrer como o Prof. H.M. de C. lhes assegurava, àqueles professores, para que o VECTOR fosse, no seu entender, a única entidade portuguesa, a poder lançar então uma iniciativa de ensino superior privado, como a UL.
Sobre o acolhimento dado à iniciativa pelo Governo da altura, lembro que era ministro da Educação o socialista Doutor Sottomayor Cardia, de quem já aqui falei em 2005/06/01. Ao receber-nos em audiência, em que o presidente da Direcção do VECTOR lhe explicou o projecto, no nome da delegação que o acompanhava, constituída principalmente por professores “saneados” e outros, que seriam os primeiros professores da UL, o ministro estimulou-nos a avançar decididamente, dando a entender que ignorássemos as lacunas legais.
Viria a perceber-se que o ministro deveria entender a UL como um factor de concorrência utilíssimo das Universidades públicas, que acabaria por obrigá-las a repensar e vencer o caos em que estavam mergulhadas.
Assim veio a acontecer, de facto.
Se o ensino público universitário não soçobrou então, de todo, deve-o em muito boa parte ao aparecimento da UL, em Lisboa e no Porto.
Depois, seguindo o exemplo da UL, outras Universidades privadas surgiram no País e a frequência do Ensino Superior atingiu níveis impensáveis, que não alcançaria se reduzido apenas ao ensino público, o qual não possuía capacidade nem ambição para acolher tantas dezenas de milhares de alunos, sem dúvida algumas centenas de milhares, que não teriam outra esperança de licenciar-se senão pela UL e pelas demais Universidades privadas criadas a partir dela, nestes quase trinta anos.
Mas Sottomayor Cardia terá sem dúvida sido o governante que melhor nos compreendeu, passando sem pestanejar por cima da ideia, que também havia, de que o VECTOR seria uma perigosíssima organização de extrema-direita, a crescer para subverter o regime.
A esquerda responsável não olhou a isso, mas os Governos de direita, que se seguiram, serviram-se desse papão como pretexto para destruir a UL, no que foi um gigantesco logro, sem par.
Tinha a UL sido a nossa maior vitória mas também foi a nossa maior derrota.
Prefiro, porém, pensar que, do ponto de vista do País, o que mais importou foi a ideia, a iniciativa e a nossa concretização dela, e não quem se apropriou dos estabelecimentos criados e do movimento desencadeado.
E, nesse caso, a maior vitória continua a ser a do VECTOR!
Ou da sociedade civil então por ele encarnada.
A.C.R.
(continua)
Em 1975, o País fez frente ao PREC e ganhou. Por mérito do Povo Português, por mérito de algumas das suas elites, sobretudo as elites católicas, e, se há que destacar uma personalidade individual da resistência, destaque deve dar-se ao então Arcebispo Primaz de Braga D. Francisco Maria da Silva, que, com os seus mais próximos colaboradores, soube pôr o País em movimento, durante os meses do PREC.
O PCP só compreendia a força, só tremia diante da resistência activa, e essa foi-lhe oferecida, sem temor nem hesitações, pelas grandes massas de católicos e simpatizantes católicos, militantemente anti-comunistas, educados nos quarenta anos anteriores pela Igreja e pelo Estado.
Sem essa formação profunda, o mais provável é que o PCP tivesse conseguido arrastar e enganar os Portugueses.
Depois houve alguns, um ou outro, que também deram uma ajuda, digamos que pondo “uma cereja no bolo”, como os “mários soares” deste mundo que tinham acabado por perceber, depois de bastantes dúvidas, para onde e por onde ia o Povo português e quem eram os seus verdadeiros líderes e aquilo que verdadeiramente o movia.
Enfim, com a derrota do PCP em 1975 termina o 1º verdadeiro ciclo político pós-Abril.
Destruída a universidade pública durante o PREC e nada se anunciando para recuperá-la, tal era a paralisia do Ministério da Educação, o VECTOR compreendeu depressa que o combate político tinha de passar a ser desenvolvido noutro plano completamente diferente, o plano cultural e, em especial, o plano do ensino superior e universitário.
Um grupo dos principais dirigentes do VECTOR juntou a si alguns antigos professores universitários, então “saneados”, e nos primeiros meses de 1976, reunindo-se na Editorial Resistência, rua Nova de São Mamede, em Lisboa, começam por considerar a criação de salas de estudo para estudantes do ensino superior público, onde pouco se estudava porque pouco se ensinava e onde se instalara mesmo a rotina das passagens administrativas (assim chamadas, porque obtidas por meros lançamentos misteriosos de notas nos livros guardados nas secretarias…).
Os dirigentes do VECTOR acharam que salas de estudo era pouco e exigiram que se planeasse, sim, desde logo uma Universidade, para a qual eles próprios indicaram o nome de Universidade Livre que consideravam ideal, o qual lhes fora sugerido pelo presidente da Assembleia Geral do VECTOR, o Prof. Doutor Guilherme Braga da Cruz, então também no estado de “saneado” da Universidade de Coimbra.
Devo dizer que os Professores universitários, associados à preparação da iniciativa, consideravam então o VECTOR uma espécie de pára-raios político.
Extraordinário?... Não tanto como pode parecer à primeira vista.
Era o prestígio nacional alcançado pelo VECTOR que falava neles, porque talvez o considerassem “protegido” da Igreja, mas era sobretudo o seu prestígio internacional. Dele lhes dava testemunho especial o Prof. Doutor Henrique Martins de Carvalho, o qual, tendo participado em Lausanne, dias antes do 25 de Abril, no congresso anual de três dias presidido por Jean Ousset, com mais de quatro mil participantes de vinte e tal países, viera impressionadíssimo pela força e capacidade mobilizadora do Office e pelo extraordinário acolhimento aí dado à numerosa representação do VECTOR, com o enorme eco que aliás isso logo encontrara nalguma imprensa nacional.
Tudo a concorrer como o Prof. H.M. de C. lhes assegurava, àqueles professores, para que o VECTOR fosse, no seu entender, a única entidade portuguesa, a poder lançar então uma iniciativa de ensino superior privado, como a UL.
Sobre o acolhimento dado à iniciativa pelo Governo da altura, lembro que era ministro da Educação o socialista Doutor Sottomayor Cardia, de quem já aqui falei em 2005/06/01. Ao receber-nos em audiência, em que o presidente da Direcção do VECTOR lhe explicou o projecto, no nome da delegação que o acompanhava, constituída principalmente por professores “saneados” e outros, que seriam os primeiros professores da UL, o ministro estimulou-nos a avançar decididamente, dando a entender que ignorássemos as lacunas legais.
Viria a perceber-se que o ministro deveria entender a UL como um factor de concorrência utilíssimo das Universidades públicas, que acabaria por obrigá-las a repensar e vencer o caos em que estavam mergulhadas.
Assim veio a acontecer, de facto.
Se o ensino público universitário não soçobrou então, de todo, deve-o em muito boa parte ao aparecimento da UL, em Lisboa e no Porto.
Depois, seguindo o exemplo da UL, outras Universidades privadas surgiram no País e a frequência do Ensino Superior atingiu níveis impensáveis, que não alcançaria se reduzido apenas ao ensino público, o qual não possuía capacidade nem ambição para acolher tantas dezenas de milhares de alunos, sem dúvida algumas centenas de milhares, que não teriam outra esperança de licenciar-se senão pela UL e pelas demais Universidades privadas criadas a partir dela, nestes quase trinta anos.
Mas Sottomayor Cardia terá sem dúvida sido o governante que melhor nos compreendeu, passando sem pestanejar por cima da ideia, que também havia, de que o VECTOR seria uma perigosíssima organização de extrema-direita, a crescer para subverter o regime.
A esquerda responsável não olhou a isso, mas os Governos de direita, que se seguiram, serviram-se desse papão como pretexto para destruir a UL, no que foi um gigantesco logro, sem par.
Tinha a UL sido a nossa maior vitória mas também foi a nossa maior derrota.
Prefiro, porém, pensar que, do ponto de vista do País, o que mais importou foi a ideia, a iniciativa e a nossa concretização dela, e não quem se apropriou dos estabelecimentos criados e do movimento desencadeado.
E, nesse caso, a maior vitória continua a ser a do VECTOR!
Ou da sociedade civil então por ele encarnada.
A.C.R.
(continua)
Etiquetas: Ensino, PREC, Universidade Livre