2005/04/14
Seja quem for
Talvez daqui a uma semana já se saiba quem é o novo Papa.
Apesar das especulações e conjecturas que os media e as suas fontes bem informadas nos apresentam a cada passo, tentar adivinhar quem será o eleito é um exercício maximamente arriscado. Por isso, as apostas fazem-se aos dez...
Confiados na sabedoria popular de que quem entra Papa sai Cardeal, o melhor será esperar para ver e ver para crer.
Isso não obsta a que, desde já, se perfilem alguns pontos de particular importância naquilo que o sucessor de João Paulo II terá de trabalho pastoral, provável e previsivelmente, entre mãos.
Perante um espírito do mundo que pretende impor à Igreja critérios de funcionamento e governo idênticos aos da sociedade civil, como se a Igreja fosse mais uma instituição como as outras, originária da ordem temporal, é preciso marcar as diferenças: a Igreja não é uma sociedade democrática, é hierárquica, e tem os seus próprios ministérios, cuja forma há que respeitar.
Parece particularmente urgente explicitar, em primeiro lugar aos cristãos, a concepção de homem, de mundo e de vida que corresponde à mundividência cristã, suas compatibilidades e incompatibilidades. Desfazer confusões e equívocos em tantos cristãos que vivem com uns critérios dentro de portas e outros, contraditórios, fora de portas. Será um trabalho de afirmação e de clarificação no plano antropológico, mais do que qualquer outra coisa.
Quando, em 1978, João Paulo II chegou à cátedra de Pedro, o desafio – e a ameaça – de maior relevo que se punha ao Cristianismo era o ateísmo marxista, então materializado num sistema económico e social, que acabou por ruir, ao que parece, sozinho.
Hoje, o ateísmo não se materializa num sistema sócio-económico bem definido. O marxismo já abandonou a luta de classes e o rumo para o socialismo. A batalha do ateísmo marxista hoje centra-se no indivíduo e na pretensão de o educar. Eles continuam à procura do paraíso terrestre e do homem novo. Eles continuam, erraticamente, a redesenhar o que já existe.
Esta pretensão tem hoje uma expressão cultural-religiosa sincrética que dá pelo nome de New Age. É esta mensagem, quer pelo que tem de enganador e deturpador do Cristianismo, quer pelo que tem de apologético do paganismo, que constitui o grande desafio aos cristãos do séc. XXI.
Em particular, o próximo Papa deverá ter, por força de provas a que se poderá ver submetido, a especial incumbência de, à luz de uma mundividência cristã, explicitar determinadas exigências morais inerentes à sexualidade e sua íntima relação com a geração da vida humana, na sequência de Pio XII (Casti connubii), Paulo VI (Humanae Vitae) e João Paulo II (Evangelium Vitae). Parece ser importante levar esses conteúdos, adequadamente traduzidos, ao comum dos cristãos, sobretudo para que percebam as diferenças relativamente a outros entendimentos, materialistas e hedonistas, da questão.
É curioso ver como conhecidos e reconhecidos ateus e agnósticos estão perfeitamente à vontade para debitar lá de cima como é que a Igreja deve ser, o que deve mudar, ensinar, rever, calar, etc.
Será razoável que a Igreja se governe por critérios ventilados, organizadamente, por aqueles que estão de fora, tantas vezes contrários à sua própria natureza e missão?
E os cristãos, não vêem isso?
Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt
Apesar das especulações e conjecturas que os media e as suas fontes bem informadas nos apresentam a cada passo, tentar adivinhar quem será o eleito é um exercício maximamente arriscado. Por isso, as apostas fazem-se aos dez...
Confiados na sabedoria popular de que quem entra Papa sai Cardeal, o melhor será esperar para ver e ver para crer.
Isso não obsta a que, desde já, se perfilem alguns pontos de particular importância naquilo que o sucessor de João Paulo II terá de trabalho pastoral, provável e previsivelmente, entre mãos.
Perante um espírito do mundo que pretende impor à Igreja critérios de funcionamento e governo idênticos aos da sociedade civil, como se a Igreja fosse mais uma instituição como as outras, originária da ordem temporal, é preciso marcar as diferenças: a Igreja não é uma sociedade democrática, é hierárquica, e tem os seus próprios ministérios, cuja forma há que respeitar.
Parece particularmente urgente explicitar, em primeiro lugar aos cristãos, a concepção de homem, de mundo e de vida que corresponde à mundividência cristã, suas compatibilidades e incompatibilidades. Desfazer confusões e equívocos em tantos cristãos que vivem com uns critérios dentro de portas e outros, contraditórios, fora de portas. Será um trabalho de afirmação e de clarificação no plano antropológico, mais do que qualquer outra coisa.
Quando, em 1978, João Paulo II chegou à cátedra de Pedro, o desafio – e a ameaça – de maior relevo que se punha ao Cristianismo era o ateísmo marxista, então materializado num sistema económico e social, que acabou por ruir, ao que parece, sozinho.
Hoje, o ateísmo não se materializa num sistema sócio-económico bem definido. O marxismo já abandonou a luta de classes e o rumo para o socialismo. A batalha do ateísmo marxista hoje centra-se no indivíduo e na pretensão de o educar. Eles continuam à procura do paraíso terrestre e do homem novo. Eles continuam, erraticamente, a redesenhar o que já existe.
Esta pretensão tem hoje uma expressão cultural-religiosa sincrética que dá pelo nome de New Age. É esta mensagem, quer pelo que tem de enganador e deturpador do Cristianismo, quer pelo que tem de apologético do paganismo, que constitui o grande desafio aos cristãos do séc. XXI.
Em particular, o próximo Papa deverá ter, por força de provas a que se poderá ver submetido, a especial incumbência de, à luz de uma mundividência cristã, explicitar determinadas exigências morais inerentes à sexualidade e sua íntima relação com a geração da vida humana, na sequência de Pio XII (Casti connubii), Paulo VI (Humanae Vitae) e João Paulo II (Evangelium Vitae). Parece ser importante levar esses conteúdos, adequadamente traduzidos, ao comum dos cristãos, sobretudo para que percebam as diferenças relativamente a outros entendimentos, materialistas e hedonistas, da questão.
É curioso ver como conhecidos e reconhecidos ateus e agnósticos estão perfeitamente à vontade para debitar lá de cima como é que a Igreja deve ser, o que deve mudar, ensinar, rever, calar, etc.
Será razoável que a Igreja se governe por critérios ventilados, organizadamente, por aqueles que estão de fora, tantas vezes contrários à sua própria natureza e missão?
E os cristãos, não vêem isso?
Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: João Paulo II, Manuel Brás, socialismo