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2005/04/07

João Paulo II – A reconquista da Juventude 



Não sei se alguém poderá, neste nosso tempo, gloriar-se de conquistar a juventude para si, para os seus projectos, para os seus valores e crenças.

Ma, se alguém deu provas de poder fazê-lo, foi sem dúvida o falecido Pontífice.

Ninguém no mundo, em toda a história da humanidade, juntou à sua volta, em vida e agora depois de morto, a vê-lo, a ouvi-lo, a aplaudi-lo, a rezar com ele, a segui-lo, a recordá-lo, tantos milhões de pessoas.

Comparativamente, as multidões à volta de Hitler, Estaline, Mussolini, Roosevelt, Franco, Salazar, Churchill, Mao, Tito, foram seguramente brincadeiras de meninos inocentes ou traquinas.

Mas talvez ainda o mais impressionante tenham sido os jovens.

Enquanto vemos multidões de rapazes e raparigas completamente desinteressados dos políticos, vimo-lo a Ele atrair à vez centenas de milhares, milhões, seduzidos pelo seu carisma, pelo seu prestígio, pela sua força e disponibilidade, pela sua debilidade física, pelo seu sofrimento e alegria, pelas suas orações, pela coerência entre as suas palavras e o seu martírio transparente, pela grandeza daquilo que transportava, representava e impunha: os seus valores, a sua Fé, os seus apelos à Transcendência e à intimidade com Deus.

Milhões de jovens já cresceram, crescerão e acabarão de crescer sem poder esquecê-lo e, no transe da sua morte, que puderam (todos pudemos) seguir como que em directo, muitos deles terão confirmado o poder irradiante e irresistível desse Gigante que não parou de seduzir (seduzir-nos) até ao último sopro de vida.

Foi ao espectáculo em directo da vida e morte do “primeiro líder verdadeiramente mundial” (como alguém justificadamente o classificou agora) que a Juventude pôde assistir, participando (como nós todos).

Se acaso se tratasse apenas de construção ou montagem mediática, teríamos mesmo assim de espantarmo-nos das suas proporções colossais e, de algum modo, que regozijarmo-nos por os media não servirem só para transmitir em directo as guerras, mas também, com igual ou maior eficácia e espontaneidade, para nos transmitirem o reverso absoluto das guerras, isto é, a vida e crucifixão pública de um genial e providencial gigante, vivo protagonista, mesmo morto, de um enorme e exemplar drama de Paz, Amor e Imolação.

Todos talvez tenhamos capacidade e ânimo para compreendê-lo. Mas os jovens parecem pôr toda a sua sensibilidade e intuição na vontade de aderir a isso, de serem salvos por isso.

Por “isso” – o quê?

“Isso” – será a Transcendência encarnada no Papa e pelo Papa?

Muitos pensamos que o nosso tempo tende demais a não oferecer às novas gerações senão um mundo vazio de grandes ambições e de grandes metas, mas que, por serem grandes, não deixem de ser acessíveis a todos.

A ambição e a meta de se transcenderem a si próprios são para muitos as primeiras e maiores de todas as ambições e de todas as metas.

O Papa traduziu isso, por exemplo, no repetido incentivo a que os jovens não se deixem levar por falsas seduções duma “cultura de morte”, mas que, em vez disso, lutem infatigavelmente por uma “cultura de vida”.

Um Papa que com tanta convicção, certeza, insistência, sacrifício e imolação lhes propunha esses rumos, fê-los sentirem-se profundamente atraídos pelo seu ideário e pela sua Pessoa.

Mesmo que pudessem sentir dificuldades em segui-lo, aprenderam que esse é um ideário de transcendente grandeza, mas ao mesmo tempo racional e humano, a prosseguir corajosamente por entre quedas e ressurreições, com muita “luz ao fundo do túnel”.

Nestas gerações que amaram e não esquecerão o Papa mais mediatizado de sempre, muitos Santos virão a nascer e crescer.

Não há limites para a generosidade da Providência.

E também por aí há-de poder vir a dizer-se que um melhor mundo, um mundo melhorado, nos deixou o Papa João Paulo II.

A.C.R.

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