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2005/02/21

As eleições de ontem 

Vamos ver o que fará José Sócrates com a sua grande, prevista vitória.

Ele não esquecerá, certamente, que os seus 45% de apoiantes têm muito menos peso social, político e funcional que os 36% que, mesmo nas circunstâncias presentes, votaram na coligação PSD e no PP.

E, por isso, uma coisa são os resultados das urnas, outra o indispensável apoio que terá de ter daqueles 36%, que nele não votaram e de que precisará mais para governar durante o seu mandato que dos outros 45%.

Se quiser ter sucesso, é esses 36% que terá agora em grande parte de convencer e conquistar, motor que são do desenvolvimento do País. Porque (não vão as suas equipas esquecê-lo), a sua vitória de ontem - e foi grande - não o mandatou para uma revolução contra essa importantíssima e larguíssima parte da sociedade (a oportunidade dos PREC passou definitivamente), mas para governar sobretudo convencendo/mobilizando e dentro dos limites das leis que não poderá alterar, como das leis que terá de alterar.

Parece-me, aliás, que é esse o seu espírito, como de importantes colaboradores seus, e por isso estou tranquilo, como julgo que está a larga maioria dos “derrotados” de ontem.

Outro sinal positivo dos resultados das legislativas (talvez relacionado com o primeiro) é não terem abalado a determinação de Santana Lopes em manter-se à frente do PSD.

Se conseguir também não se deixar abalar dentro do próprio partido, até ao Congresso, terá mais tarde ou mais cedo garantidas as condições para a vitória de um dia, que poderá ser ainda este ano, ou em 2006 ou em 2009.

Se Santana também não esquecer que José Sócrates conquistou agora a categoria de adversário de respeito; e que ele, Santana, vai precisar de persistir na mobilização das abstenções, cuja taxa continuou muito alta.

Vou terminar com um pequeno enigma: a da grande constância da votação no PNR, em praticamente todos os círculos, sempre à volta de 0,16 por cento.

Como já antes o davam a entender as grandes expectativas mobilizadoras expressas pela “fn–frente nacional”, terá sido ela que assegurou tão admirável regularidade?

Sendo assim, ter-se-ia o Partido deixado invadir completamente pelos racistas da fn, mesmo que em baixíssima escala?

Como grosso dos votantes terá o Partido passado a contar com os miúdos de 18/20 anos, campo privilegiado de recrutamento da fn?

O enigma tem ainda outro aspecto, esse sem dúvida tranquilizador.

E é que o efeito da propaganda contra a imigração africana não foi maior nos distritos apresentados como mais “ameaçados” por ela do que noutro qualquer círculo eleitoral.

António da Cruz Rodrigues

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