2005/02/11
Porque é tão grande o sucesso académico e profissional das mulheres portuguesas contemporâneas? (II)
(continuação)
Antes de mais quero lembrar que não se trata de um fenómeno “encomendado” ou que deva grande coisa ao chamado feminismo ideológico, programático e reivindicativo.
Daí que não se apresente como produzido contra quem quer que seja, nem sequer contra os homens; que não tenha nada duma espécie de luta de classes, manipulável por qualquer força política; mas que venha simplesmente acontecendo, com toda a naturalidade.
A espantosa segurança na progressão social das mulheres das últimas cinco ou seis décadas, período em que acelerou enormemente, é talvez a primeira característica a sublinhar no fenómeno.
Como se elas nunca antes tivessem feito outra coisa.
E não cometendo significativos erros estruturais, mas apenas os individualmente explicáveis.
Como se nunca temessem os confrontos, mas não os procurando nem provocando por sistema.
Como se apenas fossem ocupando sempre meros lugares naturalmente livres, sem espírito reivindicativo nem arrogância.
E desempenhando depois, esses lugares, com o maior empenho e competência.
Donde lhes vem tanta naturalidade no seu afinco e sucesso, na sua dedicação ao trabalho e na superior qualidade que se esforçam por pôr no que fazem?
Na minha opinião e no essencial, é apenas a transposição das virtudes praticadas, de geração em geração, em centenas ou milhares de anos de dedicadíssima vida doméstica, para o exercício das novas responsabilidades que de repente passaram a ambicionar e a exercer.
Mas essas qualidades domésticas vêm nos genes ou tornam-se genéticas?
Não sei responder.
Os factos é que são os seguintes, tanto quanto nos é possível conhecê-los ou reconstitui-los.
Parece seguro que, no essencial, as virtudes domésticas das mulheres – donas de casa, ou as das suas irmãs mais novas e filhas que com elas foram aprendendo e praticando, se desenvolveram à volta da criação e educação dos filhos e à volta da orientação, responsabilidades e funcionamento da economia doméstica.
São, em ambos os casos, responsabilidades e experiências que em geral couberam em exclusivo às mulheres e de que os homens se dispensaram – não por qualquer superioridade, como diriam os/as feministas, mas crê-se que por simples divisão do trabalho, explicável por meras razões físico-biológicas.
Os homens, por seu lado, “escolheram” sair de casa para caçar, guerrear, colher frutos, ser artesãos, cultivar e ganhar dinheiro, mas o “reino” doméstico ficou entregue às mulheres, que o foram levando à perfeição.
De facto, cada casa, cada lar tornou-se uma escola de educação para os filhos, dominada e orientada pelas mulheres-mães, mas cada casa, cada lar tornou-se também e simultaneamente uma pequena empresa, a gerir na continuidade do dia-a-dia pelo espírito de previsão, economia, poupança, rigor, decisão, rotina e minúcia da mãe - dona de casa também.
Quando hoje as vemos, às mulheres, como boas ou excelentes gestoras, de grandes, médias e pequenas empresas, é aí, nessa tradição ou escola, que talvez encontremos a fundamental explicação.
A.C.R.
(continua)
Antes de mais quero lembrar que não se trata de um fenómeno “encomendado” ou que deva grande coisa ao chamado feminismo ideológico, programático e reivindicativo.
Daí que não se apresente como produzido contra quem quer que seja, nem sequer contra os homens; que não tenha nada duma espécie de luta de classes, manipulável por qualquer força política; mas que venha simplesmente acontecendo, com toda a naturalidade.
A espantosa segurança na progressão social das mulheres das últimas cinco ou seis décadas, período em que acelerou enormemente, é talvez a primeira característica a sublinhar no fenómeno.
Como se elas nunca antes tivessem feito outra coisa.
E não cometendo significativos erros estruturais, mas apenas os individualmente explicáveis.
Como se nunca temessem os confrontos, mas não os procurando nem provocando por sistema.
Como se apenas fossem ocupando sempre meros lugares naturalmente livres, sem espírito reivindicativo nem arrogância.
E desempenhando depois, esses lugares, com o maior empenho e competência.
Donde lhes vem tanta naturalidade no seu afinco e sucesso, na sua dedicação ao trabalho e na superior qualidade que se esforçam por pôr no que fazem?
Na minha opinião e no essencial, é apenas a transposição das virtudes praticadas, de geração em geração, em centenas ou milhares de anos de dedicadíssima vida doméstica, para o exercício das novas responsabilidades que de repente passaram a ambicionar e a exercer.
Mas essas qualidades domésticas vêm nos genes ou tornam-se genéticas?
Não sei responder.
Os factos é que são os seguintes, tanto quanto nos é possível conhecê-los ou reconstitui-los.
Parece seguro que, no essencial, as virtudes domésticas das mulheres – donas de casa, ou as das suas irmãs mais novas e filhas que com elas foram aprendendo e praticando, se desenvolveram à volta da criação e educação dos filhos e à volta da orientação, responsabilidades e funcionamento da economia doméstica.
São, em ambos os casos, responsabilidades e experiências que em geral couberam em exclusivo às mulheres e de que os homens se dispensaram – não por qualquer superioridade, como diriam os/as feministas, mas crê-se que por simples divisão do trabalho, explicável por meras razões físico-biológicas.
Os homens, por seu lado, “escolheram” sair de casa para caçar, guerrear, colher frutos, ser artesãos, cultivar e ganhar dinheiro, mas o “reino” doméstico ficou entregue às mulheres, que o foram levando à perfeição.
De facto, cada casa, cada lar tornou-se uma escola de educação para os filhos, dominada e orientada pelas mulheres-mães, mas cada casa, cada lar tornou-se também e simultaneamente uma pequena empresa, a gerir na continuidade do dia-a-dia pelo espírito de previsão, economia, poupança, rigor, decisão, rotina e minúcia da mãe - dona de casa também.
Quando hoje as vemos, às mulheres, como boas ou excelentes gestoras, de grandes, médias e pequenas empresas, é aí, nessa tradição ou escola, que talvez encontremos a fundamental explicação.
A.C.R.
(continua)