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2004/04/02

Dois inéditos de António Manuel Couto Viana, “à memória de Rodrigo Emílio” 



Para a apresentação de “O Velho de Novo”, encontrei-me ontem no Círculo Eça de Queiroz com o Manuel Arnao Metelo, que trazia consigo estes inéditos de A.M.C.V., ainda na letra do Autor, em fotocópias que o “forcei” a oferecer-me, porque lendo-os logo pensei reproduzi-los aqui.

Do atrevimento peço desculpa ao Manuel Metelo e ao Autor, mas penso que me perdoarão por não ter perdido a oportunidade de divulgar esta bela homenagem de um grande Poeta a outro grande Poeta, saída espontaneamente do coração ao primeiro no próprio dia em que chegava a toda a gente a notícia da morte do segundo.

A.C.R.


ELEGIA PARA RODRIGO EMÍLIO

Hasteou, em farrapos, a bandeira
De uma pátria vazia
E obrigou-a a ondear, livre e inteira,
Aos ventos que dão glória à valentia.

A sua alma, firme e verdadeira,
Moldou-se em revoltada rebeldia,
Para ler, página a página, a Odisseia,
Cada dia.

Não conheceu fronteiras
Para a sua ousadia,
Castigando, no fogo da fogueira
Dos seus versos, traição e cobardia.

Recusou a coleira
De toda a hipocrisia
E teve, por esperança derradeira,
A poesia, a poesia, a poesia.

(29.03.04)

António Manuel Couto Viana


A MORTE EM MIM

À memória de Rodrigo Emílio

Perguntas quem me morreu?
Fui eu.

Eu morro de cada vez
Que me avisa o coração
Que morreu um poeta português
E eu não.

Mas ressuscito se escuto
A voz em que se exprimia,
Pois nunca visto com a dor do luto
A poesia.

(29.03.04)

António Manuel Couto Viana

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António Manuel Couto Viana - Um novo Livro 

Numa esplêndida produção de Edições Caixotim, no Círculo Eça de Queiroz, em Lisboa, foi ontem apresentado ao fim da Tarde o novo livro do Poeta, com aguarelas de Paulo Ossião.

Saboreiem este poema que dá o título ao livro, “O Velho de Novo”, e a aguarela ao lado.

A.C.R.


Quem o vê entre o povo
Nem acredita no que vê:
— Este velho de novo?
Porquê?

Não sabe que está morto e enterrado?
Que ninguém o recorda?
Quem o exumou relógio, com o tempo esgotado
E lhe deu corda?

Lá traz os mesmos versos e a mesma temática.
É outra a Literatura que está a dar.
Se não lhe falta a prática,
Falta-lhe o ar.

Velho, é a vida que te ignora.
Para quê essa rosa a florir-te na mão?
Deita-a fora.
Ela não te remoça a inspiração.

— Mas não é uma rosa: é o coração.


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2004/04/01

Nacionalismo não é anquilose, imobilismo ou estagnação culturais 

Muito do nacionalismo português aceitou, na 2ª metade do séc. XX, como sua (única) expressão cultural válida a produção literária. Mesmo as incursões na historiografia de intelectuais nacionalistas, tão notáveis durante todo o Estado Novo, foram-se tornando cada vez mais raras e menos importantes.

O nacionalismo da via estreita cultivou nas últimas décadas uma mão-cheia de escritores e poetas contemporâneos, aliás notabilíssimos, por vezes, nomes que são praticamente as mesmas referências desde há trinta ou quarenta anos.

Culturalmente, o nacionalismo cultivado em Portugal foi-se assim afunilando cada vez mais, como se os nacionalistas tivessem dificuldade em alargar a sua criatividade e curiosidade a outras áreas da cultura, em que é nossa obrigação e necessidade estarmos presentes e activos, provando a importância e originalidade do nosso poder de intervenção.

Este deixa-andar, esta passividade crescente da inteligência, a sua acomodação a limites estritamente literários, acabou por esterilizar a criação nacionalista em áreas tão importantes como a crítica em matéria de programação política ou mesmo de doutrinação política.

Temos de vencer também esse outro beco aparentemente sem saída, o que talvez não seja possível sem readquirirmos a coragem de enfrentar e tirar proveito do que é novo, salutarmente novo, e nos desafia insistentemente, como há oitenta, noventa anos a implantação da República desafiou os novos nacionalistas de então.

Não se compreenderia que os novos nacionalistas não reagíssemos fortemente, no sentido de ocuparmos um terreno donde têm andado bastante ausentes os que se consideram nacionalistas.

O que eu vou dizer, os exemplos que vou dar, atrairão com certeza as iras dos que tudo demonizam, considerando-me, considerando-nos ao serviço de interesses obscuros ou, para eles bem claros, malevolamente “bem claros”: o Governo e Durão Barroso, os Americanos e a CIA.

Continuam a não ter outras armas, senão o insulto e a calúnia.

Tenho porém a esperança de que, ao menos, ainda que sem saírem desse nível, consigam, já agora, caluniar e insultar com mais elevação e inteligência...

Para já, começaram a escrever menos atabalhoadamente.

A.C.R.

2004/03/31

As eleições em França: Nova vitória da Al-Qaeda? 




Há, evidentemente, uma diferença em relação ao que aconteceu duas semanas antes em Espanha.

Em França é muito menos sensível que o resultado tenha tão directamente, como em Espanha, resultado duma influência do terrorismo, directa e de última hora, para a mudança súbita da opinião pública.

A perversão em França vinha de longe e de cima para baixo.

Mas o resultado foi o mesmo: o desarmar das defesas do Estado contra o terrorismo.

Em ambos os casos a opinião pública parece ter passado a determinar-se pelo que poderíamos chamar o “espírito de Münich (1938)”.

Isto é, pensa (?) a nova opinião pública:

“O Diacho é mau mas nunca tão mau como o pintam. Vamos apaziguá-lo dando-lhe garantias de que o não agrediremos. Por exemplo: votemos já como ele deseja que votemos. E atiremos-lhe uns bocadilhos para entreter a sua moderada voracidade. Que pode não ser, mesmo assim, tanta como se diz. Pode ser só uma fome primária e elementar que se satisfaça com relativamente pouco. Que a rapaziada terrorista o que a move é tão só fome de comer. Nada de fome de poder, e grande, como pretendem os anti-terroristas radicais.”

E com estas e outras ilusões, do mesmo tipo, não é difícil constatar que os resultados expressos em Espanha e em França valem ou traduzem eleitoralmente o mesmo: o mesmo desarmamento moral e social, a mesma insignificância vertebral do Estado ou do Estado e da sociedade.

Com apenas uma desculpa para os Espanhóis, mas que não é de somenos.

É que em Espanha continua a haver muito mais de 30% de eleitores que não vão no jogo, ao passo que em França não houve ninguém.

A França inteira embarcou no mesmo logro: a França comandada pela Esquerda de que são expoentes máximos os chefes socialistas; como a França da Direita governamental liderada pelo inefável Chirac; como a França da Direita não-governamental representada principalmente por Le Pen.

A França comporta-se unanimemente como se estivesse já perdida.

A Espanha ainda não.

Eu sei — dizem os observadores — que a esquerda francesa se mostra pouco eufórica da sua vitória. Mesmo assim, mantenho a opinião (os números não me permitem outra) de que em França qualquer esperança parece perdida.

Em Espanha, ao contrário, diria que subsiste a possibilidade duma forte reacção, mais tarde ou mais cedo.

A.C.R.

2004/03/30

Em quem votaram os Franceses atlantistas nas eleições regionais de Domingo, 25 de Março? Nova grande vitória da Al-Qaeda? 




Três grandes blocos de opinião (e interesses) chamaram a si 100% do eleitorado:

Esquerda (incluindo extrema esquerda)---------------50,1%
Direita governamental-------------------------------------37,5%
Direita não-governamental (FN, etc.)-------------------12,4%
Total---------------------------------------------------------100,0%

Dominada pelos socialistas do PSF e pelos comunistas e verdes, pode dizer-se que não terá sido aí, na Esquerda, que votaram os que nas sondagens da altura se manifestaram a favor da guerra no Iraque, com ou sem mandato da ONU, os quais nalgumas dessas sondagens chegavam a rondar os 20%, se bem me lembro.

Também se poderá supor que não terão votado, na sua maioria, nos partidos da Direita governamental, oficialmente toda anti-guerra.

Mas também nos partidos da Direita não governamental se não poderá assegurar que o tenham maioritariamente feito, visto como o partido largamente dominante dessa área, a Frente Nacional, através principalmente do seu líder máximo, nunca escondeu o seu favoritismo pro-árabe, no caso da guerra do Iraque.

Oficialmente, portanto, os Partidos franceses dominantes de todas e cada uma das três correntes políticas totalitárias — no sentido de, em conjunto, ocuparem todo o espaço do espectro ideológico político da França — foram anti-atlantistas, isto é, contrários à aliança com os EUA para a invasão do Iraque e eliminação do regime anti-Ocidental de Saddam.

Daí a pergunta do título, que deixo sem resposta, como comecei.

Mas, para já, tende a afirmar-se, embora tal não seja tão evidente como no caso das últimas eleições espanholas, 14 do corrente, que as eleições francesas de 28 poderão ter sido uma vitória ainda mais rotunda, para a Al-Qaeda, que a obtida por esta duas semanas antes em Espanha.

A importância previsível das legislativas alemães de Outubro cresce semana a semana.

A.C.R.

2004/03/29

Império Americano? Império Ocidental? 

Li com satisfação e alguma surpresa o poste de “Manuel Azinhal” sobre “Política Internacional”, de 3ª feira última, 23.

Com satisfação porque é uma boa análise de conjunto de aspectos muito importantes da política internacional e da geo-estratégia destes tempos, mesmo, naturalmente, que se possa não estar de acordo ou discutir diversos pontos da análise e das conclusões.

Por outro lado, estamos actualmente tão pouco habituados a que de sectores ditos nacionalistas venham análises e discussões de ideias, com mérito, que a surpresa foi natural.

Tem-se aliás confirmado isso na blogosfera.

Neste blogue da Aliança Nacional são muitas as ideias e projectos ou programas expostos e defendidos, desde o início, passa de oito meses, tudo visando apresentar e definir o novo nacionalismo.

Nunca foram eles — programas, projectos e ideias — objecto da mínima discussão ou exame, fosse de apoio, fosse de contradição.

Bastou, porém, que, na 2ª feira, 22, se ousasse fazer aqui elogios à “inteligência e serenidade” do Primeiro Ministro na entrevista à RTP de 5ª feira anterior, 18, para que três ou quatro “nacionalistas” inflamáveis logo ardessem em fúria de insultos contra o autor desse elogio ao PM, nos seus blogues (aqui e aqui, por exemplo).

Aí, no atrevimento do ataque pessoal, são inexcedíveis e só nisso estão à vontade pois que nada se sentem obrigados a provar.

Tanto mais que inteligência e serenidade são atributos dos outros que mais lhes fazem perder a cabeça.

Sempre que possam, atacam anonimamente, claro, ou sob pseudónimos que desorientam.

Fico triste e tenho pena, mas só porque talvez eles tenham tido, ou lido, ou ouvido ler grandes mestres nacionalistas de antigamente. Mas desses mestres e dos modelos de pensar que foram, parece nada, absolutamente nada ter ficado a estes seus modernos epígonos.

Neste vazio intelectual dos seguidores actuais do nacionalismo de há setenta, oitenta, noventa anos, é pois compreensível o interesse pelo texto analítico de “Manuel Azinhal”.

Não tenho dúvida em dizer que chega a afigurar-se-me brilhante.

Tivesse ousado ir mais além na sua análise, conclusões e propostas e poderia tornar-se um texto fundamental para um novo nacionalismo.

Assim, e apesar, repito, do seu mérito, não se consegue discernir que o texto aponte mais do que para um beco sem saída.

E, no entanto — justiça se faça — estão lá alguns dos fundamentos decisivos para, pelo menos, a definição da política internacional dum novo nacionalismo português.

Creia, “Manuel Azinhal”, que vamos servir-nos deles para aprofundar muitas das conclusões a que temos chegado.

Os novos nacionalistas procuramos, de facto, ultrapassar os vários becos sem saída que ao longo de décadas nos têm sido deixados, seja em política interna, seja em política externa.

É esse objectivo que continuadamente temos prosseguido, quer no I e no II Congresso Nacionalista Português, quer neste blogue.

Mas tal objectivo — frequentemente prosseguido por “caminhos não andados” ou pouco andados — não é acessível às mentes fixistas de que falei atrás; em tudo o seu imobilismo mental vê traições ao nacionalismo, de que não conseguem distinguir o “espírito” e as “letras” que sucessivamente o desfiguraram, mas que eles ficaram para sempre tomando como absolutos.

Tenho de admitir que essas nossas tentativas de ultrapassar becos sem saída nos vão valendo o azedume e desconfiança com que alguns nos tratam, como se fôssemos realmente traidores a programas e teses “intocáveis”, que os nacionalistas não devêssemos nem pudéssemos renovar, para que o essencial, o espírito do nacionalismo, volte a ter impacto muito eficaz sobre as realidades geo-estratégicas e políticas contemporâneas.

Estamos a abrir horizontes novos para o nacionalismo, dispostos a tudo reexaminar e a tudo reformular, mantendo o “espírito” e largando o lastro das “letras” caducas.

Repito, por isso, que o texto de “Manuel Azinhal” pode ser importante para o novo nacionalismo, se o olharmos pelo lado do espaço que, creio, abre para a discussão e aperfeiçoamento de caminhos inovadores, contra a esclerose mental de que sofrem alguns nacionalistas e algum nacionalismo.

E haja coragem: será, é cada vez mais reduzido e sem significado o número dos que continuem a considerar-nos traidores ao seu nacionalismo, quando o que pomos em causa são apenas as “letras” caducas de “nacionalismos” caducos.

Pelo que será também cada vez mais reduzido o número dos “velhos do Restelo” de todas as idades, que nos vêem como perigosos aventureiros do Desconhecido.

Nestes planos, penso que poderemos discutir tudo.

Com serenidade e inteligência, naturalmente, quanto e enquanto formos capazes.

E sê-lo-emos, com certeza, por todo o tempo que for necessário.

A.C.R.

É admissível negociar com terroristas? 

O “Barómetro Público” de hoje dá as seguintes respostas à pergunta, em percentagens dos sondados activos:

1. Não, em nenhum caso--------------------------------------------------53%
2. Sim, quando estiverem em causa vidas humanas-----------------43%
3. Sim, quando estiverem em causa interesses de Estado-----------4%
Total--------------------------------------------------------------------------100%

Quaisquer que sejam as reservas que se façam a este tipo de sondagens, o sentir geral dos que se apressaram a responder — por isso lhes chamei activos — é inequívoco: 53% não aceitam negociações, mesmo que estejam em causa interesses do Estado ou vidas humanas.

E 57% (53% + 4%) não aceitam negociações, mesmo que estejam em causa vidas humanas.

A segunda notícia importante dos últimos dias sobre a questão de negociações com terroristas, aconselhadas por Mário Soares, é que este veio depois amenizar o sentido da sua sugestão.

A única coisa clara, clara que, porém, parece ter ficado das suas explicações é ele considerar que não se deve perder oportunidades de bem conhecer os adversários, talvez para melhor os levar à certa.

Para isso, entende, nada melhor que falar, que a falar é que a gente se entende, lá diz a chamada sabedoria popular.

Mas, talvez sem o dizer, embora pensando-o, a dita sabedoria não ignora igualmente que procurar falar com adversários vencedores tem desde logo sabor a rendição.

Ora os terroristas têm agora no seu palmarés duas grandes “vitórias” frescas: o 11 de Setembro e o 11 de Março.

É na figura de pedintes predispostos a rendermo-nos perante inimigos eufóricos dos seus êxitos, que o Dr. Mário Soares quer que nos apresentemos, para aprofundarmos o conhecimento “útil” às negociações?

É caricato.

A.C.R.

Morreu Rodrigo Emílio 

Para que servem notas biográficas, nesta hora da morte do enorme Poeta de todos os momentos?

Ele foi o que quis e como quis e fez de si o que quis.

Digamos que não há outro exemplo de ser humano, que eu conheça, que, segundo apreciações convencionais, tanto tenha usado a liberdade e liberalidade que Deus lhe deu, em prejuízo próprio.

Dir-se-ia que queria sair deste mundo sem ficar a dever nada a ninguém.

Creio tê-lo conseguido em cheio.

Terá sentido como ninguém o nada que cada um de nós vale?

Ou terá sofrido do mais exaltado e exaltante orgulho, incompreensível e inatingível para homens comuns?

Em qualquer caso — ouso dizê-lo e não sinto ponta de sacrilégio — Deus não terá remédio senão

PERDOAR-LHE!

A.C.R.

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