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2004/03/25

A FOME 

Todos deveríamos sentir-nos envergonhados por haver tanta gente permanentemente com fome em Portugal.

Pouco nos pode consolar que noutros Países se sofra desse mal ainda mais agudamente.

Miserável é, porém, que a fome sirva para aproveitamentos político–eleiçoeiros, a que temos assistido.

É um daqueles problemas que jamais deveriam servir a quem quer que fosse que alguma vez tenha tido responsabilidade de governo ou acção social, para sacudir culpas e responsabilidades do seu capote e atirá-las exclusivamente a outros como pedradas infamantes.

É daqueles casos — o problema da fome — por cuja resolução todos temos de sentir-nos responsáveis e, a partir de agora, sentirmo-nos todos culpados, se ele não for resolvido.

O Estado, naturalmente, em primeiro lugar. Pois que tantas responsabilidades comunitárias chamou a si próprio, por sucessivas anexações, abusivas muitas vezes, das competências da sociedade e pela crescente acumulação de meios através da tributação fiscal, o Estado tornou-se o primeiro responsável pela resolução da enorme maioria dos problemas nacionais.

Mas, atenção!

Como militantes da sociedade civil de um País cristão e católico, as nossas responsabilidades pessoais de cidadãos e crentes, moral e socialmente formados na nossa Fé e seus ideais de vida, continuam a ser enormes.

Alijá-los ou parecer que os alijamos é trairmo-nos a nós próprios, à nossa Fé e à Igreja à qual tudo ou quase tudo devemos.

Não basta, porém, que este sentir fique apenas ao nível das nossas consciências individuais.

Tem de tornar-se sobretudo um movimento de reacção social.

Bem sei que, como sociedade católica, fomos os principais motores, durante séculos, e ainda hoje, pela maior parte das obras de caridade e solidariedade social no Portugal pluricontinental.

Isso não nos dispensa de continuarmos a ser os mais exigentes lutadores pela resolução do problema da fome em Portugal.

Reforçando nós próprios o apoio às obras existentes, como as Misericórdias, com relevantes tradições na matéria; alargando e criando outras obras; e obrigando o Estado a não adormecer sobre boas intenções.

Não há défice público que possa desculpar irresoluções ou falta de soluções para 200 000 ou mais situações de fome crónica, persistente.

Mas o que eu queria ainda mais, aqui, era focar a responsabilidade dos nacionalistas. E, ao menos nisto e para isto, todos deveríamos ser nacionalistas.

A fome é o primeiro travão ao desenvolvimento normal de cada ser humano, criando em cada um que a sofra, sobretudo nas primeiras idades, estigmas irreversíveis.

Como nacionalistas, isto deve ser-nos particularmente intolerável.

Aquilo que diminui um de nós diminui-nos a todos.

Para o nacionalista, a nação é uma unidade de destino e uma unidade orgânica em que o sofrimento de alguns, como o da fome crónica, não pode deixar de ser sentida como sofrimento de toda a nação.

É por isso que a resolução do problema tem de ser uma bandeira nossa.

Outros a içarão alto também, com total legitimidade, e só teremos que alegrar-nos com isso, mas, para nós, a luta contra a fome é bandeira que um nacionalista jamais poderá arrear.

Como Portugueses, todos deveríamos unir-nos sob esta bandeira, bandeira de um desígnio nacional que é urgentemente imperativo cumprir.

António da Cruz Rodrigues


P.S. Dir-me-ão que o problema da fome é mundial e que não se resolve com a resolução do problema português. Mas é uma das grandes virtudes do nacionalismo, resolver os problemas de cada nação e só recorrer a outros, níveis quando os problemas excedem as capacidades próprias. É a famosa doutrina do princípio de subsidiariedade. A fome dos Portugueses é um problema que nós temos de resolver. Também ajudaremos depois e entretanto a resolver o dos outros.

2004/03/24

Os Nacionalistas portugueses e os Partidos 

Se quisesse — como aliás me apetece — continuar a reflexão ontem começada sobre este tema, no poste "Boa Sorte ao PND! etc. ", deveria aprofundar alguns pontos deste que justificariam uns tantos comentários. Mas estou à espera de reacções que pressinto e por certo me ajudarão a responder, mais directamente do que agora o faria, aos interesses dos leitores.

Saudações nacionalistas.

Até breve.

A.C.R.

2004/03/23

Boa Sorte ao PND! E a todos os Partidos onde nacionalistas se sintam bem. 

Segundo uma sondagem pelo telefone, feita de 10 a 16 do corrente e apresentada creio que 5ª à noite, 18, pela RTP1, para as europeias de 13 de Junho (Dia de Santo António, objecto de muitíssimo culto por toda a Europa, e talvez por isso), sondagem para as europeias, repito, as intenções de voto no PND – Partido da Nova Democracia são de 0,7% do total.

Se é a primeira vez que a opção pelo PND é oferecida aos sondados, e francamente não sei se é, talvez 0,7% não seja muitíssimo mau.

Mas para quem chegou a arrancar uns 14% dos votos nas últimas legislativas em que foi responsável pelo CDS/PP...

Tem necessariamente o Dr. Manuel Monteiro que sentir-se muito desconfortado e mesmo traído de algum modo pelos “seus” eleitores de então.

Eu sei que Manuel Monteiro rejeita apresentar-se como nacionalista ou que possam tomá-lo por tal.

É dos que opõem nacionalismo a democracia, considerada regime por excelência a traduzir-se no sufrágio universal.

Ignora, é claro, julgo eu, o que é o novo nacionalismo ou nacionalismo pós-moderno, neste blogue largamente desenvolvido, para darmos conta do que é um nacionalismo limpo de todos os restauracionismos e monolitismos que terão manchado uns tantos nacionalismos do passado.

Foi isso que respondi a um interessado destas coisas e convicto nacionalista, quase, quase sem teias de aranha e nenhum bafio na mente, que me perguntou, quando o PND apareceu no “palco” político nacional, se eu não achava que o PND poderia vir a atrair muitos nacionalistas portugueses.

Não expliquei muito, porque não era necessário, e disse-lhe apenas:

— Não sabe que o Dr. Manuel Monteiro não quer nada com nacionalistas?

Mas acrescentei:

— Estou mesmo convencido que, se algum nacionalista, conhecido como tal, quisesse inscrever-se no PND, seria vetado por Manuel Monteiro pessoalmente. Ele não quer compreender sequer o que é o novo nacionalismo, parece-me...

— E daí? – retorquiu o meu amigo – Você não costuma dizer que todo o nacionalista de hoje tem de saber que só à maneira nova de ser-se nacionalista, pode o nacionalismo ter crédito e perspectivas de futuro?

— Sim, eu sei e acredito firmemente, mas o Dr. Manuel Monteiro parece-me irredutível, se bem o conheço.

Mas o meu amigo não desistiu:

— E o Manuel Monteiro não será capaz de perceber – disse ele, com ar finório – que os velhos nacionalistas portugueses mas nacionalistas à maneira nova, ou capazes de assimilar a maneira nova, representam, sei lá bem, talvez mais de 20% do eleitorado?... Contando monárquicos, integralistas, demo-cristãos, corporativistas do Corporativismo de Estado, salazaristas, estadonovistas, católicos nacionalistas, gente formada politicamente na velha Acção Católica, incluindo a JUC, gente do VECTOR/Resistência/Universidade Livre, bem como defensores do Portugal pluricontinental e plurirracial, etc., etc.

— Bem – respondi-lhe, julgo eu, um tanto enfadado. – Não quer perceber que esse pessoal todo não é já (talvez nunca tenha sido) gente disponível para a nova aventura do PND?...

— Porquê? – teimou ele, meio a irritar-se.

— Ora!... Porque já estão no CDS/PP e no PSD, talvez no PS! São tudo partidos onde os novos nacionalistas, sobretudo no primeiro, mas também no segundo e no terceiro, são bem aceites sem terem que renegar-se, creio.

— Mas há a gente nova! – gritou-me – Gente que aspira a uma nova ideia forte de Portugal e ainda não se rotinou nas suas opções partidárias. Só precisam que lhes aceitem a sua paixão por Portugal e eles se convençam de que a sua paixão é partilhada, em defesa de Portugal e de uma ideia altamente positiva de Portugal.

— Talvez – disse-lhe eu, para acalmá-lo. – Convença o Manuel Monteiro disso. Eu, por mim, já falhei experiências partidárias que chegam, não quero mais.

Respondeu-me com um encolher de ombros político. E a conversa ficou por ali, que tínhamos ambos ainda muito que fazer essa tarde.

A.C.R.

Aliança dos socialistas com o Partido de Haider. Tudo virado do avesso! 




No seu artigo semanal habitual no Público desta semana, o antigo ministro de Guterres, Augusto Santos Silva, escreve sobre a demissão de Pedro Burmester de todos os seus cargos na Casa da Música, no Porto.

O artigo chama-se “Pobre Porto!...” e refere-se a uma questão de capelinhas entre socialistas e sociais-democratas, os primeiros que punham todo o seu interesse político (eles dizem que artístico) na nomeação de P. B. e os segundos todo o seu interesse político (eles dizem que mais ou menos artístico) na nomeação de outro, nomeação que efectivamente já fizeram.

Com isto, só um post-scriptum acaba por dar algum interesse ao artigo. Reza assim, sem nenhuma relação evidente com o corpo do artigo:

“P.S.: A aliança que o SPD austríaco (partido socialista da Áustria, recordo) aceitou fazer com a extrema-direita de Haider é uma vergonha para toda a esquerda democrática. Não é pela cedência e o compromisso que se combate a ameaça populista. Noutra ordem de coisas, mas pelos mesmos motivos, não me parecem aceitáveis as declarações que se vêm sucedendo, incluindo da parte de Mário Soares, sugerindo a “compreensão” do terrorismo e alguma “negociação” com ele. Naquilo que divide a civilização da barbárie não há meio-termo possível.”

Fim de citação.

Tenho de observar que o “respeito” dos socialistas (e A. Santos Silva é um dos mais constantes e eméritos PS) pelo patriarca e senador Mário Soares anda mesmo pelas ruas da amargura.

Claro que A.S.S. se refere à tese de Soares de que, por assim dizer, a Al-Qaeda e Bin Laden só podem ser amansados através do diálogo.

aqui falei ontem disso e das reacções muito claras e inequívocas de vários socialistas contra a triste ideia de Soares.

Mas A.S.S. vai mais longe.

Denuncia-o comparando-o com os que se aliam a Haider, suprema das supremas injúrias. Tudo no mesmo saco.

Só lhe faltará dizer que quem assim procede (M.S. como a Senhora dirigente socialista da Coríntia, que decidiu a “suprema vergonha” da aliança com Haider, reeleito governador dali) não passa de reles troca-tintas.

Respeito, Dr. Augusto Santos Silva!

Mais respeito pelo velho troca-tintas!

Ou quererá o Senhor dizer que, se o Dr. M.S. estivesse na Coríntia, província da antiquíssima Áustria, também o Dr. M.S. era capaz de aliar-se a Haider!

Ou quererá dizer que o Dr. M.S. está completamente zonzo?

Venha o diabo e escolha.

Sim, eles pensam todos o pior uns dos outros e não o escondem. Não querem voltar tão cedo ao Poder, pois descobriram as delícias de ser irresponsavelmente do “reviralho”, donde às vezes pensam que nunca deveriam ter saído. Ah! Mas se voltarem ao Poder um dia, sem ser preciso fazer muita força nem grande esforço, isto é, pensam alguns, se bastarem uns passes de mágica política como, por exemplo...

Ah! que sorte teve o Zapatero!

Saiu-lhes a sorte grande, aos socialistas de Madrid.

A Al-Qaeda ganhou-lhes o reino de Espanha, sem eles terem que fazer grande coisa para isso.

Apenas teve o Zapatero que engolir a sapalhada toda... E apenas está a começar.

Quanto ao resto, é preparar-se para um só cuidado: defender-se. Que, com a mesma facilidade e outro passe de mágica de sentido oposto, a Al-Qaeda é capaz de tornar a tirar-lhes o reino de Espanha. O seu domínio sobre os eleitores vai ser cada vez maior...

Enfim, coisas que os nossos socialistas pensam da sorte que os camaradas espanhóis terão tido. Cair-lhes assim do Céu o reino tão apetecido! Mas também é isso, essa facilidade, sem ser esperada, que os faz pensar.

A Al-Qaeda começa a não lhes parecer inteiramente segura.

Se muda de ambições?

Se se torna mais exigente, depois deste primeiro enorme sucesso em Espanha?

Quererá cada vez mais benesses, em troca dos seus bombardeamentos de sucesso seguro?

Um socialista português esperto exclama para alguns camaradas:

— É isso! O Dr. Mário Soares é que tem razão! Razão antes de todos, como de costume! Temos de correr à Al-Qaeda antes de quaisquer outros e rendermo-nos a tempo, antes de começarem os novos bombardeamentos!

Tinham porém de correr antes ao Dr. Soares para pô-lo ao par do seu (des)propósito.

Ele recebeu-os de braços abertos.

— Mas agora – falou ele depois de ouvi-los, com a segurança de quem já muito pensara no assunto – agora é urgente que as manifestações de depois de amanhã (20 de Março) pela Paz no Iraque sejam convincentes, verdadeiramente grandiosas, esmagadoras. Menos de 200 000 em Lisboa, é uma porcaria. Vá! Corram aos organizadores. Digam-lhes que desfilarei com a malta, mas quero lá 300 000. O governo não resistirá. Verão que convoca eleições antecipadas. Já!

Eles desataram a correr e desapareceram, mas não antes que o Dr. Soares Pai os fizesse parar ainda outra vez, para os advertir energicamente:

— Não se esqueçam de saber onde está o Bin Laden, que só com ele quero entender-me! Tragam-me os endereços dele, não esqueçam!

Ficava assim tudo esclarecido: o plano do Dr. Soares era verdadeiramente maquiavélico.

Como é que nenhum dos seus detractores o tinha adivinhado?

A.C.R.

Quando os conhecimentos são curtos, a tendência para a asneira é enorme! 

Por Francisco Coelho da Rocha

No passado dia 13, a dirigente socialista Dra. Ana Gomes afirmou em Penafiel que “há meios de justiça a ser desviados do combate à verdadeira criminalidade (…) para andar atrás de pacatas cidadãs que recorrem a clínicas para fazer o que todas as mulheres fazem, que são abortos”.

Quanto aos meios de justiça que alegadamente estão, ou não, a ser desviados não comento, pois tal como a Dra. Ana Gomes, não percebo nada do assunto.

Quando esta dirigente politica afirma que “todas as mulheres” fazem abortos, refere-se a quem? Às mulheres presentes naquele encontro? Ao seu circulo de amigas? Ou será, mas não quero acreditar que seja, que se refere mesmo a todas as portuguesas?

Quando os conhecimentos são curtos, a tendência para a asneira é enorme!

Será que ninguém explicou à Dra. Ana Gomes que ela estava na região do país que votou NÃO ao aborto em maior percentagem? Será que ninguém explicou à Dra. Ana Gomes que poderia estar ofender, não só a maioria das mulheres desta região, como a maioria da população portuguesa que não se revê nas afirmações baratas que faz? Ou será que a Dra. Ana Gomes pensa que todos os portugueses recorrem a matar um filho para resolver um qualquer problema, por mais grave que seja?

As declarações desta senhora provam que o argumento por si usado, “das pobres mulheres em dificuldades”, é falso, mentiroso e esconde o verdadeiro objectivo da sua campanha: Manipular palavras, para poder manipular vidas.

A Dra. Ana Gomes alega que ter ou não ter filhos é um direito da mulher, por isso o aborto deve ser legalizado. Aceitar o argumento de que a mãe tem direito a matar o seu próprio filho, porque resulta de uma gravidez “indesejada”, teremos que aceitar que o filho também tem o direito de matar a sua mãe quando indesejada por este. Afinal o filho não escolheu a mãe que tem e os direitos são iguais para todos.

Nas declarações que faz esta brava feminista, e pouco feminina, não se apercebeu que está a assimilar os paradigmas machistas. Na verdade, o macho na sociedade de consumo ilimitado é o único que beneficia com a liberalização do aborto, porque assim pode desobrigar-se de todas as responsabilidades nas suas relações com a mulher. A ele cabe o prazer do orgasmo e a gratificante confirmação da sua capacidade reprodutora. À mulher cabe o papel de receptáculo desse prazer e o dever dramático de eliminar a nova vida, para que o varão se livre das consequências da sua recreativa e irresponsável actuação.

A batalha pelo aborto livre resulta assim numa luta não pela liberdade da mulher, mas para a maior liberdade do homem. É ele que lhe concederá o direito de abortar, para uma vez mais na história, relega-la coerciva e tragicamente às suas funções de mulher-objecto.

As afirmações que esta senhora faz deixam-me algumas dúvidas: estará maluca ou é só ignorância?!

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2004/03/22

Mário Soares vai dando com os burrinhos na água... Coerentemente. 



“Não vá o sapateiro além da chinela”, diz o provérbio português bem conhecido, significando que não suba ninguém acima do nível das suas competências, para exercer cargos além das suas qualidades e qualificações. Mas é uma tentação parece que irresistível, a avaliar pela teoria do “princípio de Peter”. O nosso Zapatero, próximo P. M. de Espanha, parece ser desses que não resistem. Os seus começos, na avaliação de grande parte dos comentadores, parecem dos piores, desde que ganhou as eleições de 13, como boa parte das atitudes já assumidas e das palavras já pronunciadas assinalam.

Mas Mário Soares não pensa assim, isto é, concorda com o derrotismo de Zapatero.

Defendeu ele, de facto a abertura de “canais de diálogo” com a rede terrorista Al-Qaeda, numa conferência sobre Direitos Humanos na Fundação que tem o seu nome.

Foi na semana passada.

Pretende ele que o diálogo com a Al-Qaeda permitirá combater o terrorismo, sem necessidade do recurso à força, e em única alternativa ao uso desta.

Quer dizer, Mário Soares não duvida do sucesso do diálogo, mesmo antes de este começar ou ser tentado sequer.

Parece-me bem que, para chegar ao diálogo com a Al-Qaeda, Mário Soares não teria outra alternativa senão ... usar a força, pois que não consta nem nada faz crer que a Al-Qaeda esteja disposta a dialogar sem ser... obrigada pela força.

O menos que os camaradas de M. S. no PS dizem das declarações do “senador” Soares, é que lhes causam “perplexidade”.

Mas outros socialistas afirmam sem subterfúgios a sua “oposição” às propostas do “senador”, casos de Francisco de Assis, Vicente Jorge Silva ou Augusto Santos Silva, por exemplo, todos aliás deputados.

Num artigo ao lado do deste antigo ministro da Educação de Guterres, também a jornalista Helena Matos goza com fartura a proposta genial de Mário Soares, designado-o ironicamente como transmissor ideal, junto da Al-Qaeda, da nossa mensagem de rendição desde já incondicional ao inimigo supremo.

No dia seguinte, no mesmo Público, António Barreto considera desolador que M.S., à sua obra política, cuja marca considera “indelével na história de Portugal”, tenha decidido agora acrescentar “este perigoso e desmoralizador contributo”: “É preciso negociar com os terroristas”!

Por seu lado, José António Lima, no “Expresso” de Sábado último, recorda que M.S. “sempre usou e abusou do tacticismo para marcar a agenda e atingir objectivos políticos momentâneos”, e conclui:

“Agora, nesta cegueira tacticista, nem isso preservou. E arrisca-se a passar à história como O Capitulacionista”.

Também Adriano Moreira, numa entrevista à Rádio Renascença e ao Público, respondendo indirectamente a M. S., não hesita em dizer:

“Na dia em que for aceite que e negociação é o método de lidar com esta agressão, está reconhecida a (sua) legitimidade política. Acho que isso seria extremamente grave.”

No Conselho Nacional do PP, de sábado, em Santarém, Paulo Portas tem ainda menos papas na língua, chamando a isso, que A.M., considera extremamente grave, pura e simplesmente uma rendição. Incondicional, acrescentaria eu. E lembra:

“O mesmo princípio de diálogo com o terrorismo na Segunda (grande) Guerra teria levado à vitória do nazismo”.

E Cavaco Silva, em entrevista à Antena 1, referindo-se também à infeliz sugestão de M. Soares, argumentou ser “muito difícil que o mundo democrático aceite dialogar com as organizações terroristas”.

Por agora a unanimidade do bom senso parece garantida e, no fundo, no fundo, muitas destas e outras pessoas dificilmente poderão voltar ao seu equilibrismo de reticências sobre a oportunidade e necessidade ou moralidade da guerra no Iraque.

A mania de surpreender do “senador” desta vez não resultou.

A.C.R.

Um P.M. em plena forma. Um espectáculo de inteligência e serenidade. 

Penso que inteligência e serenidade foram as qualidades que melhor caracterizam a entrevista do P.M. de 5ª Feira, 18, na RTP.

Os seus interlocutores Francisco Sarsfield Cabral, José Manuel Fernandes, Judite de Sousa e Mário Bettencourt Resende permitiram a Durão Barroso — sem nenhuma nota forçada ou esforço — desenvolver o seu pensamento sobre a actualidade política e o futuro da sua acção governamental, que era aquilo que mais importava.

Ele soube, por seu lado, aproveitar em cheio a oportunidade, que aliás bem se justificava lhe fosse proporcionada.

Eram os dois anos do seu governo, o mais reformista dos últimos 30 anos, como já alguém escreveu.

Eram dois anos do primeiro governo em coligação, de sucesso, desde Abril 74.

Eram dois anos de luta contra uma “pesada herança” incontestável e não fabricada para slogan publicitário.

Eram dois anos do governo objecto das mais ferozes e deslocadas críticas que se podem imaginar.

Por contraste paradoxal eram também os dois anos de um governo ao qual tem sido mais fácil passar adiante das críticas, em geral apenas facciosas e com pouco a ver com aquilo que está em causa, por falta de soluções alternativas sensatas, por ignorância pura e simples das oposições ou por mera demagogia.

Eram dois anos, não obstante, em que frequentemente a opinião pública, traduzida em sondagens, tem sido desfavorável ao governo.

Eram, enfim, dois anos em que o governo foi obrigado a tomar decisões das mais difíceis de política externa e das mais dolorosas e exigentes no domínio orçamental e do saneamento das contas públicas, para não falar da “derrota” acabada de sofrer pelo seu íntimo aliado Aznar.

E, não obstante, na sua entrevista Durão Barroso revelou durante todo o tempo um tal auto domínio, sem nenhuma crispação; uma tal segurança e um tal controlo de todos os aspectos do seu projecto; uma certeza tão grande de estar nos caminhos certos; uma tão poderosa confiança nos seus colaboradores e na capacidade da sua equipa para levar a termo feliz aquilo que razoavelmente tem para realizar neste mandato, que não pode o P.M. deixar de ter exercido uma profunda impressão positiva e, talvez, altamente mobilizadora da opinião dos cidadãos a seu favor.

Nenhum obstáculo, nenhum insucesso estes dois anos parecem ter abatido ou deixado marcas de desencanto, temores ou dúvidas no Dr. Durão Barroso.

Creio que podemos, sem receio de grandes erros, dizer que o País conta finalmente com um grande e formidável resistente chefe de equipa governativa, dominando sem reservas a Arte de governar Portugal. Sem displicência nem arrogância mas com o exacto sentido da sua missão e dos meios efectivos que tem para realizá-la. Também nada disposto a facilitar o trabalho dos adversários — que não parecem impressioná-lo minimamente — nem a ceder às fraquezas de amigos e colaboradores, que sabe como disciplinar, estimular, conduzir e manter unidos.

É tanto, que pode parecer excessivo, mesmo desumano.

A.C.R.

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