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2004/03/31

As eleições em França: Nova vitória da Al-Qaeda? 




Há, evidentemente, uma diferença em relação ao que aconteceu duas semanas antes em Espanha.

Em França é muito menos sensível que o resultado tenha tão directamente, como em Espanha, resultado duma influência do terrorismo, directa e de última hora, para a mudança súbita da opinião pública.

A perversão em França vinha de longe e de cima para baixo.

Mas o resultado foi o mesmo: o desarmar das defesas do Estado contra o terrorismo.

Em ambos os casos a opinião pública parece ter passado a determinar-se pelo que poderíamos chamar o “espírito de Münich (1938)”.

Isto é, pensa (?) a nova opinião pública:

“O Diacho é mau mas nunca tão mau como o pintam. Vamos apaziguá-lo dando-lhe garantias de que o não agrediremos. Por exemplo: votemos já como ele deseja que votemos. E atiremos-lhe uns bocadilhos para entreter a sua moderada voracidade. Que pode não ser, mesmo assim, tanta como se diz. Pode ser só uma fome primária e elementar que se satisfaça com relativamente pouco. Que a rapaziada terrorista o que a move é tão só fome de comer. Nada de fome de poder, e grande, como pretendem os anti-terroristas radicais.”

E com estas e outras ilusões, do mesmo tipo, não é difícil constatar que os resultados expressos em Espanha e em França valem ou traduzem eleitoralmente o mesmo: o mesmo desarmamento moral e social, a mesma insignificância vertebral do Estado ou do Estado e da sociedade.

Com apenas uma desculpa para os Espanhóis, mas que não é de somenos.

É que em Espanha continua a haver muito mais de 30% de eleitores que não vão no jogo, ao passo que em França não houve ninguém.

A França inteira embarcou no mesmo logro: a França comandada pela Esquerda de que são expoentes máximos os chefes socialistas; como a França da Direita governamental liderada pelo inefável Chirac; como a França da Direita não-governamental representada principalmente por Le Pen.

A França comporta-se unanimemente como se estivesse já perdida.

A Espanha ainda não.

Eu sei — dizem os observadores — que a esquerda francesa se mostra pouco eufórica da sua vitória. Mesmo assim, mantenho a opinião (os números não me permitem outra) de que em França qualquer esperança parece perdida.

Em Espanha, ao contrário, diria que subsiste a possibilidade duma forte reacção, mais tarde ou mais cedo.

A.C.R.

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