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2007/03/21

Memórias das minhas Aldeias
Esquecimentos da História
Parte IV – N.º 14 

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Com Ho Chi-Minh ou não, o encontro de Gomes, Mackenzie e Van Than terá consequências de muito relevo para estes caóticos anais da Beira dos últimos duzentos e cinquenta anos.

Talvez a estirpe marxista do futuro Ho Chi-Minh tenha riscado Van Than do seu nome, porque constituísse nódoa indesculpável de colaboracionismo com o regime “fascista” e colonialista francês da Indochina, à semelhança, aliás, das práticas revisionistas de tantos outros nacional-comunismos do mundo inteiro.

Os trabalhos do caminho-de-ferro do Baixo Congo exigiam urgentemente que o movimento de Vietnamitas para a foz do Zaire fosse radicalmente intensificado.

Sobretudo porque, começados os trabalhos, havia pouco mais de um ano, quase metade dos trabalhadores admitidos – tudo vietnamitas e mais indochineses, com alguns poucos negros à mistura - tinha já soçobrado às doenças equatoriais, à exaustão e aos mais variados acidentes de trabalho e da vida em geral.

O coronel e o engenheiro, aliás também no mesmo sentido aconselhados por Zé Gomes, não tiveram ideia melhor que devolver temporariamente Van Than à Indochina, para aí fazer intensa campanha de recrutamento muito mais intensivo de compatriotas seus para os duros trabalhos ferroviários da margem esquerda do Congo de clima mortífero, mas que Van Than foi encarregado de apresentar aos indochineses indecisos como nada menos que o Paraíso terrestre.

Ele foi, demorou-se por lá um ano, teve um sucesso brilhante na sua campanha porque não falou nada, nadinha mesmo, dos compatriotas desaparecidos e, talvez ainda mais, porque o encarregaram de exibir abundância de dinheiro por si ganho, maneira infalível e universal de enganar pategos e… não pategos.

Ele cumpriu toda a cartilha e ainda fez um menino à mulher e outro a uma prima, o primeiro dos quais nasceria no mesmo ano – 1890 ou 1891 – em que das biografias consta ter nascido o Ho Chi-Minh das convenções biográficas. Coincidências notáveis…

Quando Van Than voltou ao convívio dos amigos, comunicou-lhes uma queixa grande das famílias dos trabalhadores vietnamitas do Congo, a viverem na Indochina, na sua grande maioria. As transferências para lá dos salários dos familiares do Baixo Congo chegavam aí tarde, muito irregularmente e em geral bastante aquém das expectativas geradas.

Van Than e “o capitão” Gomes pressentiram ali interesses estranhos, que estavam a tornar tudo desnecessariamente lento e complicado, muito difícil de explicar aos interessados.

De conversa em conversa, o coronel, Gomes e o vietnamita foram aprofundando o assunto, compreendendo melhor o imbróglio e interessando-se pessoalmente cada vez mais por encontrar soluções que irradicassem o mal-estar, generalizado afinal também entre os próprios assalariados a trabalhar na linha do Baixo Congo e não apenas entre os seus familiares, na Indochina.

Primeira razão dos males, apuraram os três, a novidade da situação de que não havia precedentes a uma tal escala, talvez no mundo inteiro.

Segunda razão… os comerciantes portugueses!

As queixas eram generalizadas no sentido de atribuir as maiores culpas à sua fúria de vender – lojas a todos os cantos, que, entre Matadi e Kinshasa, uma vez construído e a funcionar o caminho-de-ferro, seriam logo mais de três mil, surgidas em menos de dez anos!

Os comerciantes portugueses esfregavam as mãos por considerarem a sua vitória comprovada por essas invejas, com certeza o reconhecimento da visão e capacidade de organização deles…

Terceira razão do descontentamento dos vietnamitas e seus familiares…

Ora quem!

Os bancos!

Ou, melhor dizendo, um banco, o único banco então existente em Boma e Matadi – e havia pouco tempo! - o qual explorava sem contemplações nenhumas o monopólio de facto que lhe caira em sorte.

Quarta razão…

Bem, para essa ninguém apontava, porque ninguém a conhecia ou lhe dava valor: e era a incipiência geral dos métodos e processos bancários de trabalho e serviço aos clientes, sem nada a ver com o que viriam a ser a partir de experiências inéditas ou quase, como era aquela dos pagamentos aos vietnamitas no Congo e suas remessas às pobres famílias na Indochina.

Vereis, prezados leitores, que o tema está longe de ser rebarbativo, como agora vos pode parecer.

A.C.R.

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