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2004/07/29

Eu abortei 



Transcrição de um excerto da entrevista concedida à Rádio Maria por uma mulher espanhola que abortou – Maria José – e recolhida na revista “Palabra”, nº 485, Julho 2004, pág. 54-57.

Eu estava separada em consequência de um casamento que, praticamente, foi um desastre. Ao fim de uns anos conheci outra pessoa e... acabei, mais ou menos, por viver com ele. Então, fiquei grávida. Eu estava em trâmites legais: todas essas histórias de papéis. O pai da criança era um homem livre, solteiro... Agora, penso que também lhe deve ter caído o mundo em cima.

- Quem tomou a decisão de abortar?

- Sinceramente, tomaram-na mais os de fora do que eu própria. (...) A circunstância é que quando uma mulher fica grávida, não lhe passa pela cabeça, mesmo que tenha todos os problemas do mundo, a solução do aborto. Podes afogar-te; podes encontrar-te diante de um problema que não tem saída; podes pensar em todas as coisas, inclusivamente podes pensar em estampar-te com o carro. Mas, a última coisa que te ocorre, penso, é abortar. Isto começa a entrar na cabeça, mais propriamente, pelas pessoas que te rodeiam.

- Como é isso?

- As pessoas que te rodeiam assustam-se ou não querem assumir responsabilidades. Sobretudo, penso que o pai da criatura não se dá conta do que é um filho até que o tem nos braços. Enquanto a mulher o leva dentro, sobretudo nas primeiras semanas, ele não é consciente; não sabe o que é isso. Para ele é um “problema”.

- Que coacções encontra uma mulher para não levar a termo a sua gravidez?

- Bom. Começam a contar-te todos os problemas sociais, todos. No meu caso, foi o económico. Eu julgava ter força. Mas a mulher, nesse momento, é muito vulnerável. Já de si, quando ficas grávida, é como se precisasses de protecção, ajuda, compreensão, que te mimem... Se tudo isto é ao contrário, influencia-te. Vai tendo influência; vão-te dizendo, inclusivamente, que o aborto, praticamente, não é nada: é como tirar um quisto. Não há problema. Eu não fui suficientemente forte ou suficientemente inteligente. Por fim, caí. O pior de tudo é que, ao sair do bloco operatório, é quando verdadeiramente dás conta de que não foi um quisto que te retiraram. É aí que verdadeiramente dás conta do que fizeste: não foi um quisto que te tiraram, mas algo agarrado ao teu corpo que te arrancaram de dentro.

- “Algo” ou “alguém”?

- Alguém! Eu acordei da anestesia a chorar e a gritar: pedindo o meu filho... e vendo-lhe os pés. Há muitos anos que lhe vejo os pés. (...)

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