2004/07/31
Ainda ao Senhor Primeiro-Ministro
Creio que será reconfortante para si, Senhor Primeiro-Ministro, que também outros continuemos a lembrar-lhe ou confirmar-lhe quanto os seus adversários o temem e o medo que têm, em especial, do que eles chamam o seu populismo.
Parece que chamam tal à acção política empenhada, que não obedece a nenhuma cartilha ideológica estabelecida e codificada.
É também um modo de muitos revelarem as insuficiências, impotências e raivinhas deles...
“Este Governo é um buldozer eleitoral, onde é evidente uma certa ideia de partidocracia” — escreveu Judite de Sousa no Jornal de Notícias de 24 último.
Creio que não precisa, Senhor Primeiro-Ministro, de melhores expectativas, razão mais que suficiente para o temerem.
Outro analista — creio que Mário Mesquita, não consigo encontrar a referência — falando das deslocalizações governamentais por si anunciadas (seis secretários de Estado para Faro, Évora, Aveiro, Coimbra, Porto e Braga) afirma que “podem revelar-se compensadoras em termos de opinião pública” (leia-se “em termos eleitorais”).
É outro alerta ao entusiasmo aparente, dos seus adversários, por eleições.
Não é que eles creiam no que dizem mas tanto fingem acreditar que acabam mesmo por acreditar cegamente.
Penso que ainda um dia agradecerão ao Presidente da República o tê-los livrado do risco grande das eleições antecipadas.
Confesso-lhe, ainda, que não tenho nenhum entusiasmo pelas que chamo “deslocalizações governamentais”.
Mas há quem se entusiasme.
Depois há os analistas/comentadores que denunciam o seu próprio medo do “populismo” governamental, atacando-o por insignificâncias.
Agostinho M. Seabra, no “Público” de 25 último, também metia a sua colherada.
Não resiste.
Escreveu ele este mimo:
“Será possível que nenhum dos ora governantes da Cultura e em particular os dois secretários de Estado tenha a noção de que a sua acção vai estar fortemente condicionada pelo enorme enxovalho público que para eles próprios resulta das tropelias da dupla Santana Lopes – Portas?” — pergunta o autor Augusto M. Seabra, candidamente, mas emproado por, mais uma vez, ter descoberto a pólvora e vaidoso dos seus tiros de pólvora seca.
Não julguem, no entanto, intelectualmente impotentes de todo, estes adversários políticos do P.M.
Têm fulgores por vezes e até fazem doutrina, doutrina política se quisermos.
O seu Governo, Senhor Primeiro-Ministro, é acusado, mais ou menos pelos mesmos que também o acusam de “paraquedismo”, de ser constituído por agentes dos principais lobbies económicos e financeiros a actuar em Portugal.
Quer dizer: afinal não é puro pára-quedismo, os ministros não terão surgido ao acaso, mas situados nos lugares certos para a defesa dos interesses que representariam...
Visado particularmente tem sido o ministro do Ambiente.
Parece considerarem-no o melhor exemplo de “berlusconismo” à portuguesa.
Um comentador atento define-o tecendo-lhe com extrema minúcia a teia dos interesses e ligações articuladas do ministro nos grandes poderes da Comunicação Social portuguesa.
Os cuidados para desenvolver uma teoria, subjacente, de controlo “berlusconiano” dos M.C.S., são patentes.
Temos de felicitar-nos por que o combate político, em Portugal, ao menos já produz ou se fundamenta em elaborada teoria e teses, talvez académicas...
Outra teoria muito curiosa, também surgida no contexto... patriótico-despotivo-político (nacional e europeu) das últimas quatro semanas, é a teoria do “fosso geracional” defendida pelo “sociólogo e estudioso dos sistemas políticos” São José Almeida, bem exposta no “Público” de 25 de Julho corrente.
O autor de “fosso geracional” descobre a nova geração que está a substituir de repente todas as que politicamente surgiram já depois do “25 de Abril”.
E considera seus maiores expoentes, ou pelo menos os que mais e melhor dominam os M.C.S., apresentados estes como o grande veículo de promoção e revelação da nova geração: a dos Drs. Santana Lopes e José Sócrates.
Explícita ou implicitamente, o autor da tese garante que estes vão “varrer” completamente as anteriores gerações. De já “canastrões”, naturalmente.
Não deixa porém o autor — apesar das suas brilhantes deduções — de mostrar o seu “béguin” por José Sócrates, revelando uma parcialidade nada compatível com a aparente frieza científica da sua análise.
A pintura não fica invalidada, mas algo “borrada”, desnecessariamente.
Penso, em conclusão, que a posição certa dum Governo que precisa de evitar desgastes sem sentido será a expressa há dias pelo ministro da Presidência, Morais Sarmento, ao dizer:
“A nossa atitude é de procurar continuar a governar tendo o interesse nacional em primeiro lugar, não olhando a comentários ou sondagens. Não vamos governar para eleições, mas para gerações.”
Excelente propósito, Senhor Primeiro-Ministro, para Portugal e os Portugueses.
António da Cruz Rodrigues (A.C.R.)
Parece que chamam tal à acção política empenhada, que não obedece a nenhuma cartilha ideológica estabelecida e codificada.
É também um modo de muitos revelarem as insuficiências, impotências e raivinhas deles...
“Este Governo é um buldozer eleitoral, onde é evidente uma certa ideia de partidocracia” — escreveu Judite de Sousa no Jornal de Notícias de 24 último.
Creio que não precisa, Senhor Primeiro-Ministro, de melhores expectativas, razão mais que suficiente para o temerem.
Outro analista — creio que Mário Mesquita, não consigo encontrar a referência — falando das deslocalizações governamentais por si anunciadas (seis secretários de Estado para Faro, Évora, Aveiro, Coimbra, Porto e Braga) afirma que “podem revelar-se compensadoras em termos de opinião pública” (leia-se “em termos eleitorais”).
É outro alerta ao entusiasmo aparente, dos seus adversários, por eleições.
Não é que eles creiam no que dizem mas tanto fingem acreditar que acabam mesmo por acreditar cegamente.
Penso que ainda um dia agradecerão ao Presidente da República o tê-los livrado do risco grande das eleições antecipadas.
Confesso-lhe, ainda, que não tenho nenhum entusiasmo pelas que chamo “deslocalizações governamentais”.
Mas há quem se entusiasme.
Depois há os analistas/comentadores que denunciam o seu próprio medo do “populismo” governamental, atacando-o por insignificâncias.
Agostinho M. Seabra, no “Público” de 25 último, também metia a sua colherada.
Não resiste.
Escreveu ele este mimo:
“Será possível que nenhum dos ora governantes da Cultura e em particular os dois secretários de Estado tenha a noção de que a sua acção vai estar fortemente condicionada pelo enorme enxovalho público que para eles próprios resulta das tropelias da dupla Santana Lopes – Portas?” — pergunta o autor Augusto M. Seabra, candidamente, mas emproado por, mais uma vez, ter descoberto a pólvora e vaidoso dos seus tiros de pólvora seca.
Não julguem, no entanto, intelectualmente impotentes de todo, estes adversários políticos do P.M.
Têm fulgores por vezes e até fazem doutrina, doutrina política se quisermos.
O seu Governo, Senhor Primeiro-Ministro, é acusado, mais ou menos pelos mesmos que também o acusam de “paraquedismo”, de ser constituído por agentes dos principais lobbies económicos e financeiros a actuar em Portugal.
Quer dizer: afinal não é puro pára-quedismo, os ministros não terão surgido ao acaso, mas situados nos lugares certos para a defesa dos interesses que representariam...
Visado particularmente tem sido o ministro do Ambiente.
Parece considerarem-no o melhor exemplo de “berlusconismo” à portuguesa.
Um comentador atento define-o tecendo-lhe com extrema minúcia a teia dos interesses e ligações articuladas do ministro nos grandes poderes da Comunicação Social portuguesa.
Os cuidados para desenvolver uma teoria, subjacente, de controlo “berlusconiano” dos M.C.S., são patentes.
Temos de felicitar-nos por que o combate político, em Portugal, ao menos já produz ou se fundamenta em elaborada teoria e teses, talvez académicas...
Outra teoria muito curiosa, também surgida no contexto... patriótico-despotivo-político (nacional e europeu) das últimas quatro semanas, é a teoria do “fosso geracional” defendida pelo “sociólogo e estudioso dos sistemas políticos” São José Almeida, bem exposta no “Público” de 25 de Julho corrente.
O autor de “fosso geracional” descobre a nova geração que está a substituir de repente todas as que politicamente surgiram já depois do “25 de Abril”.
E considera seus maiores expoentes, ou pelo menos os que mais e melhor dominam os M.C.S., apresentados estes como o grande veículo de promoção e revelação da nova geração: a dos Drs. Santana Lopes e José Sócrates.
Explícita ou implicitamente, o autor da tese garante que estes vão “varrer” completamente as anteriores gerações. De já “canastrões”, naturalmente.
Não deixa porém o autor — apesar das suas brilhantes deduções — de mostrar o seu “béguin” por José Sócrates, revelando uma parcialidade nada compatível com a aparente frieza científica da sua análise.
A pintura não fica invalidada, mas algo “borrada”, desnecessariamente.
Penso, em conclusão, que a posição certa dum Governo que precisa de evitar desgastes sem sentido será a expressa há dias pelo ministro da Presidência, Morais Sarmento, ao dizer:
“A nossa atitude é de procurar continuar a governar tendo o interesse nacional em primeiro lugar, não olhando a comentários ou sondagens. Não vamos governar para eleições, mas para gerações.”
Excelente propósito, Senhor Primeiro-Ministro, para Portugal e os Portugueses.
António da Cruz Rodrigues (A.C.R.)