2003/10/20
Falemos de guerra civil, golpe de Estado, ditadura e sufrágio universal. Há um só Portugal? Ou há pelo menos dois?
E essa dualidade, a existir, será inevitável e insuperável, intrínseca mesmo às entidades políticas que chamamos nações?
São perguntas que não pode deixar de fazer-se quem olhe com atenção e reflicta sobre o devir político, na História e na actualidade, debaixo mesmo dos nossos olhos.
Responderei que sim, que essa dualidade existe, que há de facto — na História e na actualidade — dois países Portugal, vivendo juntos e irredutivelmente separados, como há duas Franças, duas Espanhas, duas Inglaterras, duas Alemanhas, duas Itálias, dois EUA, e por aí fora, neste nosso Ocidente.
Mais estranho ainda: cada um desses países Portugal parece ter as suas próprias crises que não atingem o outro, senão indirectamente, quando muito.
Às vezes até poderíamos dizer que as alegrias de um são as tristezas do outro, mas não tem que ser assim.
A dualidade em questão foi e é uma consequência inexorável da ruptura social e política, tanto como ideológica, que se iniciou na Europa e suas dependências, há 300/400 anos pelo menos, e desabrochou completamente na Revolução Francesa e revoluções suas derivadas.
Uma das originalidades e grandezas do nacionalismo é que, como tal, conviveu muitas vezes bem com regimes políticos diversos, se não opostos, antes e depois dessa grande ruptura, porque as nações são-lhe muitíssimo anteriores.
Penso, por isso, que é à luz do nacionalismo — doutrinário e histórico — que a questão da dualidade nacional, chamemos-lhes assim, pode ser encarada mais frontalmente e estudada com mais proveito.
Talvez a primeira constatação dum neonacionalista deva ser precisamente esta: que os países, em mais de duzentos anos, se foram resignando ou aprendendo a viver com as suas dualidades.
Houve, e continuará a haver, em todo o viver político desses duzentos anos e do nosso tempo, esse misto de aprendizagem e resignação que tornou o nacionalismo — valorização da entidade histórica incontornável das nações — o factor indispensável à superação da ruptura, primeiro, e da dualidade, depois: a aprendizagem, processada à luz da inteligência, e a resignação, promovida a motor da criatividade do espírito, alma das coisas.
Isso não bastará sempre para que a todo o momento consigamos evitar abeirarmo-nos de dois riscos – abismos: o risco de a possível instabilidade política e governativa se tornar caos social e o risco de a sociedade ceder à tentação do governo da força pela força e da ordem pela ordem.
Isto é, a anarquia e a ingovernabilidade, ou a ditadura e a supressão de toda a dualidade, substituída pelo oportunismo do entendimento profundo, camuflado ou não, entre forças que deixaram de ser alternativas para viverem exclusivamente da obsessão pela partilha do Poder, sejam quais forem as transigências necessárias.
Isto quer dizer que, numa sociedade contemporânea, só há uma saída: defender a pureza do dualismo político nacional, através da luta pela pureza do sufrágio universal.
Não vivemos, porém, num país teórico, imaginário ou desaparecido; somos dum país real, duma nação real e viva.
Se este sistema do sufrágio universal falhar, oferece-nos a História duas saídas, creio que únicas: a guerra civil ou o golpe de Estado, para não falar da decadência, apagamento e morte das nações em causa.
Os novos nacionalistas não estamos interessados nem defendemos jamais, seja uma, seja a outra saída.
Para a guerra civil não temos soluções, mas a UE promete ter a sua.
Para o golpe de Estado, porque o sistema do sufrágio universal tenha colapsado por dentro, como tem acontecido muitas vezes em muitos lugares e regimes, exigiríamos que os seus autores garantissem a imediata reconstrução do sistema falhado e, em última instância, se submetessem eles mesmos, em muito poucos meses, à legitimação pelo sufrágio universal perfeitamente livre e isento, com as demais forças políticas do País que o quisessem.
O problema é meramente teórico, mas um dos dois países Portugal está agora a atingir um tal estado de degradação e dissolução moral, cívica e social que se tem de estar prevenido para todas as hipóteses.
É, porém, naquele Portugal, em que, com sintomas fortes de sucesso, se está a lutar bravamente contra essa degradação e dissolução social que temos de confiar e pôr as maiores esperanças.
Este Portugal tem de evitar e travar em absoluto o contágio e proliferação dos vírus da decadência em que estamos a afundar-nos, como todos vêem, mesmo os que o não confessam.
Este Portugal tem de continuar a impor-se ao outro pelo sufrágio, e cada vez mais, com imaginação, inteligência e determinação e pelo vigor das suas iniciativas, nos vários actos próximos de sufrágio universal de que se fala agora tanto, como se fossem amanhã já.
Pela verdadeira “Arte de Governar” as eleições ganham-se todos os dias.
Nem governo nem sociedade civil seremos perdoados ou sequer desculpados, se falharmos.
A.C.R.
São perguntas que não pode deixar de fazer-se quem olhe com atenção e reflicta sobre o devir político, na História e na actualidade, debaixo mesmo dos nossos olhos.
Responderei que sim, que essa dualidade existe, que há de facto — na História e na actualidade — dois países Portugal, vivendo juntos e irredutivelmente separados, como há duas Franças, duas Espanhas, duas Inglaterras, duas Alemanhas, duas Itálias, dois EUA, e por aí fora, neste nosso Ocidente.
Mais estranho ainda: cada um desses países Portugal parece ter as suas próprias crises que não atingem o outro, senão indirectamente, quando muito.
Às vezes até poderíamos dizer que as alegrias de um são as tristezas do outro, mas não tem que ser assim.
A dualidade em questão foi e é uma consequência inexorável da ruptura social e política, tanto como ideológica, que se iniciou na Europa e suas dependências, há 300/400 anos pelo menos, e desabrochou completamente na Revolução Francesa e revoluções suas derivadas.
Uma das originalidades e grandezas do nacionalismo é que, como tal, conviveu muitas vezes bem com regimes políticos diversos, se não opostos, antes e depois dessa grande ruptura, porque as nações são-lhe muitíssimo anteriores.
Penso, por isso, que é à luz do nacionalismo — doutrinário e histórico — que a questão da dualidade nacional, chamemos-lhes assim, pode ser encarada mais frontalmente e estudada com mais proveito.
Talvez a primeira constatação dum neonacionalista deva ser precisamente esta: que os países, em mais de duzentos anos, se foram resignando ou aprendendo a viver com as suas dualidades.
Houve, e continuará a haver, em todo o viver político desses duzentos anos e do nosso tempo, esse misto de aprendizagem e resignação que tornou o nacionalismo — valorização da entidade histórica incontornável das nações — o factor indispensável à superação da ruptura, primeiro, e da dualidade, depois: a aprendizagem, processada à luz da inteligência, e a resignação, promovida a motor da criatividade do espírito, alma das coisas.
Isso não bastará sempre para que a todo o momento consigamos evitar abeirarmo-nos de dois riscos – abismos: o risco de a possível instabilidade política e governativa se tornar caos social e o risco de a sociedade ceder à tentação do governo da força pela força e da ordem pela ordem.
Isto é, a anarquia e a ingovernabilidade, ou a ditadura e a supressão de toda a dualidade, substituída pelo oportunismo do entendimento profundo, camuflado ou não, entre forças que deixaram de ser alternativas para viverem exclusivamente da obsessão pela partilha do Poder, sejam quais forem as transigências necessárias.
Isto quer dizer que, numa sociedade contemporânea, só há uma saída: defender a pureza do dualismo político nacional, através da luta pela pureza do sufrágio universal.
Não vivemos, porém, num país teórico, imaginário ou desaparecido; somos dum país real, duma nação real e viva.
Se este sistema do sufrágio universal falhar, oferece-nos a História duas saídas, creio que únicas: a guerra civil ou o golpe de Estado, para não falar da decadência, apagamento e morte das nações em causa.
Os novos nacionalistas não estamos interessados nem defendemos jamais, seja uma, seja a outra saída.
Para a guerra civil não temos soluções, mas a UE promete ter a sua.
Para o golpe de Estado, porque o sistema do sufrágio universal tenha colapsado por dentro, como tem acontecido muitas vezes em muitos lugares e regimes, exigiríamos que os seus autores garantissem a imediata reconstrução do sistema falhado e, em última instância, se submetessem eles mesmos, em muito poucos meses, à legitimação pelo sufrágio universal perfeitamente livre e isento, com as demais forças políticas do País que o quisessem.
O problema é meramente teórico, mas um dos dois países Portugal está agora a atingir um tal estado de degradação e dissolução moral, cívica e social que se tem de estar prevenido para todas as hipóteses.
É, porém, naquele Portugal, em que, com sintomas fortes de sucesso, se está a lutar bravamente contra essa degradação e dissolução social que temos de confiar e pôr as maiores esperanças.
Este Portugal tem de evitar e travar em absoluto o contágio e proliferação dos vírus da decadência em que estamos a afundar-nos, como todos vêem, mesmo os que o não confessam.
Este Portugal tem de continuar a impor-se ao outro pelo sufrágio, e cada vez mais, com imaginação, inteligência e determinação e pelo vigor das suas iniciativas, nos vários actos próximos de sufrágio universal de que se fala agora tanto, como se fossem amanhã já.
Pela verdadeira “Arte de Governar” as eleições ganham-se todos os dias.
Nem governo nem sociedade civil seremos perdoados ou sequer desculpados, se falharmos.
A.C.R.