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2012/08/19

Um imbroglio chamado Síria 


A situação que se arrasta na Síria há mais de um ano, uma guerra civil em lume mais ou menos brando, que entretanto, segundo alguns dados, já se aproxima dos 20.000 mortos, acaba por ter facetas em comum com o que tem sucedido nos últimos anos em países do Médio Oriente.

Não me refiro apenas às guerras, mais ou menos declaradas, diplomáticas ou não, entre os EUA e os seus aliados ocasionais, e o Irão e a Síria que, por sua vez, têm por trás o apoio da Rússia e da China. Não se poderá esquecer, no meio de tudo isto, as tensões entre Israel e a Palestina, em que Israel tem contado com o apoio vitalício, mais ou menos declarado, dos EUA, consoante as administrações, e com o ódio, sempre declarado, do Irão, desde a Revolução Islâmica, e dos movimentos alimentados por Teerão no Líbano, o Hezbollah (o Partido de Deus, nada menos!) e na Palestina, o Hamas. Ódio que Israel retribui como pode, diga-se de passagem.

Era importante que a dupla Romney-Ryan ensaiasse uma nova etapa e uma nova agenda na política externa americana no Médio Oriente. Porque agora vêm as facetas em comum com o que tem sucedido nos últimos anos em países do Médio Oriente, sob a acção directa ou indirecta dos EUA. E o que sucede é algo muito curioso. Em muitos dos países em que os EUA intervêm directamente, como o caso do Iraque, ou indirectamente, como os casos do Egipto e da Síria, para provocar mudanças de regime, que supostamente levariam à democracia, o que acaba por suceder são perseguições implacáveis aos cristãos por parte de movimentos islâmicos, que deixam para trás milhares de mortos e ainda mais refugiados, quando antes estes milhões de cristãos tinham alguma liberdade religiosa na sua terra, pelo menos a suficiente para não serem perseguidos. Estas perseguições aconteceram no Iraque pós Saddam Hussein, em que centenas de milhar de cristãos fugiram para a Síria ao toque de atentados e bombas, sucede no Egipto pós Mubarak, antes e depois da ascensão ao poder da Irmandade Muçulmana, e prepara-se para suceder na Síria pós Bashar al-Assad. O que parece é que os movimentos islâmicos aproveitam as situações de guerra e tumulto social e político, em que os EUA são parte interessada, para perseguir e matar os cristãos. Além, obviamente, de procurarem instalar-se no poder. Podíamos ainda a este respeito falar do Paquistão. Mas os exemplos bastam para questionar se no Departamento de Estado americano alguma vez se debruçaram sobre estas "coincidências"...

O que anda o Departamento de Estado americano a fazer, que onde intervêm, em nome da instauração da democracia, os cristãos acabam sempre mortos, perseguidos e refugiados, e os movimentos radicais islâmicos chegam-se ao poder? Será que nunca repararam nisso? No fim de contas, a diplomacia americana, longe de vender a democracia, anda é a trabalhar para pôr movimentos radicais islâmicos no poder. Ou seja, os EUA andam a apoiar o inimigo. Ou pelo menos um grande inimigo, talvez o maior inimigo.

Decididamente, a liberdade religiosa, em geral, e no Médio Oriente, em particular, não tem sido uma prioridade dos EUA, nem da União Europeia, nem das Nações Unidas.

Mas as perplexidades não ficam por aqui. Do lado dos que apoiam o governo iraniano na sua cruzada contra Israel e os EUA também há perplexidades. Como é que podem apoiar um governo e um presidente que pretende riscar Israel do mapa? E depois de Israel, quem é que eles vão querer varrer do mapa? Como é possível que essas pessoas, que lamentam as barbaridades do fundamentalismo islâmico, e que temem, com razão, o alastramento desse tipo de fenómenos à Europa, apoiem o regime que mais tem espalhado o fundamentalismo islâmico xiita, através da criação de movimentos político-religiosos em países vizinhos, como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Palestina? Pode a Europa confiar no regime iraniano? Parece óbvio que não.

Por muito que custe a alguns, Israel e os EUA são os aliados civilizacionais da Europa. Tal como a Rússia. Mas, até se chegar aqui, europeus e americanos, deveriam rever as suas alianças e verificar até que ponto são compatíveis com os seus interesses vitais.

manuelbras@portugalmail.pt

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