2009/04/08
Sonhos e Realidades
Manuel Brás
Durante o recente périplo pela Europa e pela Turquia do presidente Obama, as televisões e jornais deram a imagem – as televisões e jornais dão imagens e pouco mais – de um homem calorosamente recebido e muito admirado, sempre apresentado com grande simpatia, que goza de um elevado prestígio entre a classe política europeia e de grande popularidade, em geral, e à margem das ideias e da política.
Tudo isto é verdade, mas a política será só, ou sobretudo, o “charme” e a retórica? A máquina que criou esta simpática e benevolente imagem de Obama foi a mesma que criou, na Europa, uma péssima imagem a George W. Bush, da qual Obama tenta, oportuna e compreensivelmente, afastar-se, invocando uma nova era de relações entre estados e estadistas. Não há que levar a mal.
Mas será que a necessidade de criar uma imagem redentora à volta de Obama se deve apenas a uma má imagem criada na Europa à volta do seu predecessor?
Há um factor específico da Europa que potencia o prestígio e a liderança americana: é que na Europa não se cultiva a liderança nem o carisma da liderança. Na Europa, os políticos quanto mais cinzentos e apagados forem melhor. Obama representa no imaginário de muitos europeus o líder que eles não têm. Para o bem e para o mal.
Porém, se nos ativermos aos factos, e deixar-mos a propaganda de lado, como poderemos avaliar a passagem de Obama pela Europa e Turquia?
Há de tudo.
No G20, perante as duas visões em confronto na hora de estabelecer as regras de um sistema financeiro internacional mais seguro e credível, parece que Obama conseguiu um entendimento de forma a consolar as partes em jogo, sobretudo no que toca à responsabilidade na aplicação de capitais e seus riscos, tentando um compromisso entre o controle estatal e a responsabilidade pessoal. Vamos ver.
Já na cimeira dos 60 anos da NATO as coisas foram bem mais claras. Obama, ciente da fraca moral civilizacional europeia, já sabia que não podia contar com a Europa para muito mais do que a retórica, à excepção da Inglaterra, indubitavelmente o seu aliado mais aliado. Por isso, sempre com simpatia, deu sinais de desapontamento pelo facto dos 20 mil homens que vai enviar para o Afeganistão se arriscarem a ir sozinhos para combate. Ainda assim, a vaga de simpatia desenhada à sua volta fez com que os EUA não fossem desta vez criticados por enviar mais tropas de combate para o Afeganistão. Imaginem que era George W. Bush a fazer isso... Ah! É verdade, quando é a esquerda a mandar tropas é sempre para o desenvolvimento e para libertar os povos, já me esquecia.
Em Praga, deu a volta ao texto e recolocou, publicamente, a questão dos mísseis no leste europeu como de defesa perante uma ameaça iraniana. Nada que já não tivesse sido conversado antes pelo seu predecessor perante a resistência russa, mas agora havia mais antenas para transmitir.
O propósito de reduzir e eliminar as armas nucleares é bom e louvável, mas não pode ser só de um lado. Obama, que garantiu que não é naiv, admitiu que esse objectivo talvez não venha a ser alcançado durante a sua vida.
Na Turquia, Obama reconheceu aquilo que já se sabia e vivia: a Turquia é um aliado importante e os EUA não estão em guerra com o Islão. Alguém, alguma vez, questionou isto nos últimos 8 anos? É o que se chama “assar carapaus fritos”.
No que toca à abordagem das relações políticas entre a Turquia e a Europa a pressão para a Turquia fazer parte da UE só pode ser entendida como um favor e uma intromissão nas decisões soberanas das várias nações. Mas talvez não valha a pena dar demasiada importância ao facto, pois que interesse tem para a Europa a Turquia fazer parte de uma superstrutura política que já de si é nefasta e sinistra à partida? Além disso, a matriz civilizacional turca pouco ou nada tem a ver com a Europa. Com muito mais razão deveria Israel fazer parte da Europa e da NATO.
Se falamos de economia, de negócios, de investimentos, que impede cada uma das nações europeias de estabelecer relações comerciais e económicas com a Turquia ou qualquer outra nação? O fim da UE só vem facilitar isso: a liberdade de relacionamento comercial e económico.
manuelbras@portugalmail.pt
Durante o recente périplo pela Europa e pela Turquia do presidente Obama, as televisões e jornais deram a imagem – as televisões e jornais dão imagens e pouco mais – de um homem calorosamente recebido e muito admirado, sempre apresentado com grande simpatia, que goza de um elevado prestígio entre a classe política europeia e de grande popularidade, em geral, e à margem das ideias e da política.
Tudo isto é verdade, mas a política será só, ou sobretudo, o “charme” e a retórica? A máquina que criou esta simpática e benevolente imagem de Obama foi a mesma que criou, na Europa, uma péssima imagem a George W. Bush, da qual Obama tenta, oportuna e compreensivelmente, afastar-se, invocando uma nova era de relações entre estados e estadistas. Não há que levar a mal.
Mas será que a necessidade de criar uma imagem redentora à volta de Obama se deve apenas a uma má imagem criada na Europa à volta do seu predecessor?
Há um factor específico da Europa que potencia o prestígio e a liderança americana: é que na Europa não se cultiva a liderança nem o carisma da liderança. Na Europa, os políticos quanto mais cinzentos e apagados forem melhor. Obama representa no imaginário de muitos europeus o líder que eles não têm. Para o bem e para o mal.
Porém, se nos ativermos aos factos, e deixar-mos a propaganda de lado, como poderemos avaliar a passagem de Obama pela Europa e Turquia?
Há de tudo.
No G20, perante as duas visões em confronto na hora de estabelecer as regras de um sistema financeiro internacional mais seguro e credível, parece que Obama conseguiu um entendimento de forma a consolar as partes em jogo, sobretudo no que toca à responsabilidade na aplicação de capitais e seus riscos, tentando um compromisso entre o controle estatal e a responsabilidade pessoal. Vamos ver.
Já na cimeira dos 60 anos da NATO as coisas foram bem mais claras. Obama, ciente da fraca moral civilizacional europeia, já sabia que não podia contar com a Europa para muito mais do que a retórica, à excepção da Inglaterra, indubitavelmente o seu aliado mais aliado. Por isso, sempre com simpatia, deu sinais de desapontamento pelo facto dos 20 mil homens que vai enviar para o Afeganistão se arriscarem a ir sozinhos para combate. Ainda assim, a vaga de simpatia desenhada à sua volta fez com que os EUA não fossem desta vez criticados por enviar mais tropas de combate para o Afeganistão. Imaginem que era George W. Bush a fazer isso... Ah! É verdade, quando é a esquerda a mandar tropas é sempre para o desenvolvimento e para libertar os povos, já me esquecia.
Em Praga, deu a volta ao texto e recolocou, publicamente, a questão dos mísseis no leste europeu como de defesa perante uma ameaça iraniana. Nada que já não tivesse sido conversado antes pelo seu predecessor perante a resistência russa, mas agora havia mais antenas para transmitir.
O propósito de reduzir e eliminar as armas nucleares é bom e louvável, mas não pode ser só de um lado. Obama, que garantiu que não é naiv, admitiu que esse objectivo talvez não venha a ser alcançado durante a sua vida.
Na Turquia, Obama reconheceu aquilo que já se sabia e vivia: a Turquia é um aliado importante e os EUA não estão em guerra com o Islão. Alguém, alguma vez, questionou isto nos últimos 8 anos? É o que se chama “assar carapaus fritos”.
No que toca à abordagem das relações políticas entre a Turquia e a Europa a pressão para a Turquia fazer parte da UE só pode ser entendida como um favor e uma intromissão nas decisões soberanas das várias nações. Mas talvez não valha a pena dar demasiada importância ao facto, pois que interesse tem para a Europa a Turquia fazer parte de uma superstrutura política que já de si é nefasta e sinistra à partida? Além disso, a matriz civilizacional turca pouco ou nada tem a ver com a Europa. Com muito mais razão deveria Israel fazer parte da Europa e da NATO.
Se falamos de economia, de negócios, de investimentos, que impede cada uma das nações europeias de estabelecer relações comerciais e económicas com a Turquia ou qualquer outra nação? O fim da UE só vem facilitar isso: a liberdade de relacionamento comercial e económico.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições Americanas, Em defesa do Ocidente, Manuel Brás, União Europeia