2009/04/02
Capitalismo e Moral
Manuel Brás
Tem-se discutido, com alguma razão, o futuro do sistema capitalista e da globalização face à actual crise do sistema financeiro e económico. Fala-se na necessidade de regulação. Mais regulação, pretendem alguns. Mas, será que não existe regulação? Então, porque é que a regulação não regulou? Será possível gerar um sistema de regulação perfeito, imparcial e sem falhas? E quem é que regula os reguladores?
São questões difíceis ou até, talvez, impossíveis de responder, que rapidamente deslizam para a casuística e para o atoleiro jurídico.
A tentativa de precisar alguns termos pode lançar alguma luz sobre a realidade, da qual não devemos prescindir sob pena de cair na utopia, que dá resultados muito piores que a pior das realidades.
O primeiro termo a precisar é “globalização”, que não deve ser mais do que a extensão da economia de mercado e do sistema capitalista a um número crescente de países do mundo, entre os quais se destacam a China, a Índia, a Rússia e outros países que abandonaram a economia marxista. A globalização não é um regime político, não é um corpo de ideias, não é uma ideologia. O que não significa que não exista uma ideologia que, criticando a globalização, se pretenda servir desse processo para se instalar, ganhar poder e condicionar, assim, a vida de muitos países. Mas isso é próprio das ideologias, é preciso contar com isso e defender-nos disso. Nessa perspectiva, podemos apontar, pelo menos, 3 globalizações, porque três entendimentos, mais ou menos inconciliáveis, de homem, de vida, de civilização e de mundo.
Outro conceito a precisar é o de capitalismo, que não é um sistema político, nem uma ideologia, nem uma moral, mas sim um sistema económico que assenta na propriedade privada (nos direitos de propriedade), na economia de livre mercado e no investimento de capitais. O capitalismo não é um regime político, nem uma ideologia, nem uma moral: tudo isso já existe antes e cumpre a sua função. Desgraçados de nós se estivéssemos à espera do capitalismo para distinguir o bem do mal. Não, os princípios da ética e da moral já existem e são intangíveis e inalcançáveis pelo capitalismo, ou qualquer outra doutrina económica.
É por isso que não devemos culpar o sistema capitalista pela crise em que mergulhámos no ano passado. Até porque, ao contrário das expectativas do marxismo em relação à economia socialista, os “capitalistas” já sabem que o sistema não é perfeito, tal como os homens não são perfeitos, e, portanto, de quando em quando as crises aí estão. Ao contrário do marxismo, o capitalismo assenta e pressupõe o homem comum, aquele que existe na realidade.
Igualmente, ao contrário do marxismo, o capitalismo, por não ser um sistema rígido, é flexível e adapta-se às circunstâncias e à realidade, e não o contrário. Por isso sobrevive, também nos países que tiveram no passado uma economia colectivizada e que, graças à “globalização” adoptaram um sistema capitalista.
O capitalismo não é uma ética, nem uma moral, per se. O capitalismo submete-se aos princípios da ética e da moral, como qualquer outra actividade ou sistema, e não é, obviamente, origem ou raiz de uma nova ética para além da essência humana.
Temos que encontrar, isso sim, a raiz da crise, no que ela tem de ético, nos actos e na responsabilidade pessoal, no perfil de pessoas que se têm formado nas escolas, nas universidades, nas famílias e não culpem o capitalismo por isso.
Todos os sistemas se tornam desonestos e decadentes quando uma parte crítica daqueles que os habitam são desonestos e decadentes.
De resto, já se sabe há muito que o mal só existe no íntimo de cada homem.
Nem a globalização, nem o capitalismo, em si mesmos, têm a importância que a ideologia lhes atribui.
manuelbras@portugalmail.pt
Tem-se discutido, com alguma razão, o futuro do sistema capitalista e da globalização face à actual crise do sistema financeiro e económico. Fala-se na necessidade de regulação. Mais regulação, pretendem alguns. Mas, será que não existe regulação? Então, porque é que a regulação não regulou? Será possível gerar um sistema de regulação perfeito, imparcial e sem falhas? E quem é que regula os reguladores?
São questões difíceis ou até, talvez, impossíveis de responder, que rapidamente deslizam para a casuística e para o atoleiro jurídico.
A tentativa de precisar alguns termos pode lançar alguma luz sobre a realidade, da qual não devemos prescindir sob pena de cair na utopia, que dá resultados muito piores que a pior das realidades.
O primeiro termo a precisar é “globalização”, que não deve ser mais do que a extensão da economia de mercado e do sistema capitalista a um número crescente de países do mundo, entre os quais se destacam a China, a Índia, a Rússia e outros países que abandonaram a economia marxista. A globalização não é um regime político, não é um corpo de ideias, não é uma ideologia. O que não significa que não exista uma ideologia que, criticando a globalização, se pretenda servir desse processo para se instalar, ganhar poder e condicionar, assim, a vida de muitos países. Mas isso é próprio das ideologias, é preciso contar com isso e defender-nos disso. Nessa perspectiva, podemos apontar, pelo menos, 3 globalizações, porque três entendimentos, mais ou menos inconciliáveis, de homem, de vida, de civilização e de mundo.
Outro conceito a precisar é o de capitalismo, que não é um sistema político, nem uma ideologia, nem uma moral, mas sim um sistema económico que assenta na propriedade privada (nos direitos de propriedade), na economia de livre mercado e no investimento de capitais. O capitalismo não é um regime político, nem uma ideologia, nem uma moral: tudo isso já existe antes e cumpre a sua função. Desgraçados de nós se estivéssemos à espera do capitalismo para distinguir o bem do mal. Não, os princípios da ética e da moral já existem e são intangíveis e inalcançáveis pelo capitalismo, ou qualquer outra doutrina económica.
É por isso que não devemos culpar o sistema capitalista pela crise em que mergulhámos no ano passado. Até porque, ao contrário das expectativas do marxismo em relação à economia socialista, os “capitalistas” já sabem que o sistema não é perfeito, tal como os homens não são perfeitos, e, portanto, de quando em quando as crises aí estão. Ao contrário do marxismo, o capitalismo assenta e pressupõe o homem comum, aquele que existe na realidade.
Igualmente, ao contrário do marxismo, o capitalismo, por não ser um sistema rígido, é flexível e adapta-se às circunstâncias e à realidade, e não o contrário. Por isso sobrevive, também nos países que tiveram no passado uma economia colectivizada e que, graças à “globalização” adoptaram um sistema capitalista.
O capitalismo não é uma ética, nem uma moral, per se. O capitalismo submete-se aos princípios da ética e da moral, como qualquer outra actividade ou sistema, e não é, obviamente, origem ou raiz de uma nova ética para além da essência humana.
Temos que encontrar, isso sim, a raiz da crise, no que ela tem de ético, nos actos e na responsabilidade pessoal, no perfil de pessoas que se têm formado nas escolas, nas universidades, nas famílias e não culpem o capitalismo por isso.
Todos os sistemas se tornam desonestos e decadentes quando uma parte crítica daqueles que os habitam são desonestos e decadentes.
De resto, já se sabe há muito que o mal só existe no íntimo de cada homem.
Nem a globalização, nem o capitalismo, em si mesmos, têm a importância que a ideologia lhes atribui.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Capitalismo, Manuel Brás, O mundo não é perfeito