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2009/02/18

Contradições pós-modernas 


Manuel Brás

Já aqui temos chamado a atenção para as contradições e o absurdo do pensamento pós-moderno, do pensamento único assente em “direitos” arbitrariamente definidos pelos polícias do sistema, uma minoria instalada que domina a ONU, a EU e a imprensa. Daí pretendem obrigar, com base nos “direitos” que arbitrariamente inventaram para seu proveito, os outros a pensar da mesma maneira e a aceitar os seus dogmatismos, já que, como dizem, a natureza não existe, não há qualquer referência objectiva, verificável por todos, em que esses tais direitos se possam fundamentar.

É que, se a natureza (lei natural) não existe, então os proclamados “direitos fundamentais” não têm outro fundamento que a arbitrariedade dos “iluminados”, isto é, são arbitrários e subjectivos, e portanto não têm valor universal. A lei e os direitos são igualmente arbitrários e estão ao serviço de que tem o poder de os impor, são meros instrumentos de poder discricionário.

Isto podia vir a propósito de qualquer polémica hodierna, que lhe ficava bem. Mas vem a propósito da polémica absurda à volta do levantamento da excomunhão de 4 bispos e dos comentários de um desses bispos sobre o holocausto.

Em primeiro lugar, qualquer cristão deveria alegrar-se pelos passos dados em direcção à Comunhão entre o Papa e os bispos e a instituição em questão. Ao fim e ao cabo excomunhão é o contrário de comunhão.

Sobre o levantamento da excomunhão e o posterior esclarecimento da Secretaria de Estado do Vaticano, veja-se:

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cbishops/documents/rc_con_cbishops_doc_20090121_remissione-scomunica_po.html#top

http://www.zenit.org/article-20730?l=portuguese

A instrumentalização da polémica em torno das palavras do bispo Williamson, que são divergentes da tese oficialmente divulgada e autorizada, para tentar impedir o levantamento da excomunhão não tem qualquer sentido porque a razão da excomunhão nada tem a ver com opiniões sobre o holocausto, mas sim com o facto desses 4 bispos terem sido ordenados há 20 anos sem autorização do Papa João Paulo II, portanto, de forma ilícita, embora válida, em conformidade com o direito da Igreja. A polémica é também absurda porque quem proferiu as opiniões heterodoxas foi o bispo Williamson, mas quem pagou as favas foi Bento XVI, como se as opiniões sobre o holocausto fizessem parte da revelação cristã ou a tese oficialmente autorizada na imprensa fosse um dogma de fé.

Esta gente tem muita dificuldade em perceber o que é a responsabilidade pessoal. Quem afirma, responde pelo que afirma, não os outros.

O engraçado no meio disto tudo é que se o bispo Williamson negasse a existência de Deus ou de Cristo ninguém se escandalizava. Seria uma opinião legítima que era imperioso tolerar, pois o que é próprio de bispos é serem ateus.

Por desacertada ou afastada da realidade que seja a opinião do bispo Williamson – a tolerância é só para alguns, não para ele – sobre o teor da perseguição aos judeus durante a II Guerra Mundial, a função da Igreja não é ser polícia de teses ou opiniões demonizadas na imprensa sobre a História. A demonização do contraditório e a histeria mediática nada contribui para a credibilidade da tese autorizada. Se, de facto, existem provas reais em favor da história tal como os media contam, então era bom que fossem apresentadas para dissipar dúvidas a todos. É que a demonização do contraditório, sem aceitar discutir as dúvidas e as razões dos outros, levanta mais dúvidas sobre o modo como a história autorizada é contada. A resposta cabal para todos seria a exibição de provas concludentes, que todos agradeceriam para acabar a polémica.

Não deixa de ser contraditório que quando a negação do holocausto vem de Ahmadinejad, do Hamas, do Hezbollah, enfim, do “mundo muçulmano” ninguém pia, todos se curvam e deixam passar. E estes sim, são o perigo real para os judeus, para Israel e para a nossa própria civilização, da qual Israel e os judeus fazem parte, e não o bispo Williamson, com as suas opiniões, por polémicas ou duvidosas que sejam. A cegueira impede ver as diferenças.

A exigência da aceitação do Magistério da Igreja do e após o Concílio Vaticano II, que não é nada daquilo que a imprensa pinta, porque nunca o leu, pode ser bom para todos. Para os 4 bispos e a Fraternidade, que reforçam a sua Comunhão com a Igreja. Para a Igreja por razões óbvias. E para muitos outros a quem se exige que aceitem a “Humanae Vitae”, de Paulo VI, “Evangelium Vitae” e “Veritatis Splendor”, de João Paulo II, para citar alguns exemplos.
Ou será que a esses não se lhes exige nada?

De resto, o que fica patente do que se respira dos media, sobre este e muitos outros assuntos, é que a ideologia dos “direitos”, a “igualdade” e a “tolerância” não passam de uma grande treta ao serviço duns “iluminados” que querem que o mundo se deite a seus pés.

manuelbras@portugalmail.pt

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