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2008/06/25

Inesperado Surto… (3) 

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O “inesperado surto” promete enraizar-se.

O patrão da Quinta de Coimbra, à beira do Mondego, mostra-se subitamente receoso de confusões e de que alguém possa considerá-lo ambicioso dum poder político anarco-fascista, mal visto pelas convenções, achava ele.

Apressa-se por isso, a proclamar, a propósito e a despropósito, que não será nunca “Duce” seja do que for…

Nunca mais, porém, voltou a repeti-lo desde que alguém, em público, depois de soltar uma gargalhada, lhe perguntou, gritando, donde lhe vinham temores por uma hipótese que nunca passara pela cabeça de ninguém…

O ilustre hoteleiro embatucou mas, no fundo, não desarmou logo, apenas rogando a todos que, se tivessem de chamar Duce a um qualquer, então que chamassem Duce a outro que não a ele. Porque começava a ser assustador.

Mas acrescentou ainda algo que há muito desejava dizer em público, ainda não calhara.

“É que eu – começou com certa hesitação – também andei, nos meus tempos de juventude, por essas bandas das ideologias fascistas. Cheguei até a escrever algumas coisas em sua defesa e até em defesa e para dar a conhecer certos dos seus mais seguros e esclarecidos dos doutrinadores, propagandistas e zeladores do fascismo, até das Arábias! Vejam lá! Mas curei-me! Curei-me e reformei-me, estou hoje completamente curado, não quero ter nada a ver, nunca mais, com nada disso. Entendido, hem?”

Como resposta à sua tentativa de hipocrisia, recebeu uma colossal pateada acompanhada de um coro tremendo de vaias e apupos.

De súbito, todos puderam ver saltar para o palco um colosso com talvez mais de cento e vinte quilos e metro e noventa e nove de altura, vindo não se percebeu de onde, mas que não deu tempo para demorar ou prolongar a surpresa, nem as curiosidades insatisfeitas ou as dúvidas sobre o desempenho dele.

- Pois eu quero! – gritou - Eu quero ser o vosso Duce! Apresento-me, aqui estou. Sou, entre os presentes, creio, o dono do maior dos camiões da A1 para transporte de todo o género de mercadorias; guio o meu camião com dois dedos apenas da minha mão esquerda, e… Bem! Digo já tudo. Julgo-me… Isto é. Tenho a certeza de que serei um grande Duce. Quero ser o vosso Duce! Quem aceitar, grite-o bem alto. Dê-me palmas! E quem discorda...

Mas não teve tempo de continuar.

Outra tremenda e prolongadíssima salva de palmas aclamou-o, sem qualquer dúvida, “Primeiro Duce dos camionistas de Portugal”. Até ver, se estará á altura, como parece estar e ele garante sem papas na língua nem cedências de nenhuma espécie…

Afinal, pareceu que toda a gente o conhecia já… Pelo menos a maioria ligava a sua pessoa a uma qualquer ideia ou história que corria sobre ele. Gente pelos vistos de todo o País, como tantos pretendiam à força, esclareciam, depois que o haviam cooptado por aclamação e um entusiasmo inegável que rapidamente contaminara todos.

Na verdade, talvez nunca um “Duce”, ou qualquer líder, se impusera tão de pressa, tão sem sentido e de forma mais radicalmente contagiosa, tudo juntamente.

Os entendidos mais desprendidos proclamavam que havia, finalmente, um português com verdadeira e plena vocação para “Duce”.

Passar-se-iam muitos anos antes de voltar a aparecer outro tão claramente vocacionado, viria a saber-se.

A.C.R.

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