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2008/06/18

Censura evolutiva 

Manuel Brás

A opinião publicada europeia vê com maus olhos a discussão em curso na América sobre o ensino, ou os ensinos, à volta da origem e evolução das espécies, segundo, ou não, uma perspectiva creacionista. E vê ainda com piores olhos a legitimidade do ensino destas matérias numa perspectiva creacionista.

Isto só é possível num estado cultural, como é o europeu actual, em que o pensamento é policiado por uns cavaleiros andantes da modernidade, que repudiam a racionalidade e o entendimento, que têm imenso medo do confronto com outras correntes e concepções do pensamento – daí que as queiram reduzir ao silêncio –, que, enfim, têm imenso medo que as pessoas pensem pela sua própria cabeça e tirem conclusões. Isto é típico deste tempo. Daí a urgência doentia de entreter as pessoas com imagens, telenovelas, reality-shows, futebol, todo o tipo de folhetins, de modo a que não tenham espaço nem tempo para a sua própria reflexão, de modo a vedar-lhes a compreensão do que está por trás de tudo isto. Há uma tentativa clara de dirigir o pensamento das pessoas, que se manifesta na má vontade observada nos media em aceitar correntes de opinião divergentes do politicamente correcto, no facto da generalidade dos intervenientes na imprensa escrita, rádio e televisão pensar e dizer o mesmo sobre os mais variados assuntos e na exclusão automática de todos aqueles que divergem. Não é por acaso que as discussões se centram sempre sobre questões pessoais ou, na melhor das hipóteses, sobre casos concretos, mas nunca sobre questões de fundo. E quando o são, encontram-se viciadas pela fabricação de uma maioria que se arregimenta para o efeito. Basta tomar como exemplo o “Prós e Contras”.

É óbvio que isto não acontece só a propósito das hipóteses e do ensino da evolução. O mesmo se pode dizer em relação ao clima, à prevenção da SIDA, ao juízo sobre a História, e em particular sobre a Idade Média, etc.

Mas vamos à evolução.

Há muita confusão à volta do assunto. Confunde-se fixismo com creacionismo e evolução com darwinismo. Será de propósito?

O fixismo é uma hipótese que preconiza a imutabilidade das espécies, isto é, que as espécies são fixas ao longo do tempo, pelo que umas espécies anteriormente existentes não poderiam dar origem a outras e novas espécies.

O creacionismo defende que as espécies foram criadas, não se criaram a si mesmas, independentemente da forma como tal sucedeu, sem entrar em pormenores explicativos do como. Aliás, não há nada que se crie a si mesmo. Por este motivo, o creacionismo não é uma teoria científica, mas sim filosófica.

O darwinismo é uma hipótese científica que pretende explicar os mecanismos evolutivos das espécies com base na selecção natural e na ocorrência de mutações. É uma hipótese razoável na medida em existem sinais de selecção natural e são conhecidos mecanismos de mutações genéticas. No entanto, quando se trata de apurar que espécies deram origem a outras espécies, aí já é mais difícil e duvidoso. Basta ver como variaram nas últimas décadas as explicações concretas sobre a origem do corpo humano. Em que é que ficamos? Deste ponto de vista, o darwinismo não explica tudo nem de forma cabal e, provavelmente, nem haverá qualquer explicação científica absolutamente certa.

O problema do darwinismo não é científico. É filosófico, na medida em que pretende que a evolução que defende, com razoabilidade, ocorreu por acaso. Ora, a determinação de se o caminho evolutivo das espécies tem um sentido, uma inteligibilidade, uma razão, ou se deu por acaso, querendo com isso afirmar a impossibilidade de conhecer as suas causas, não é uma questão científica, mas sim filosófica.

Assim, o darwinismo extravasa o âmbito científico ao querer impor que a evolução não pode ter um sentido, uma razão, uma inteligibilidade, que tem que ser forçosamente por acaso. A verdade é que os darwinistas têm imenso medo que a evolução tenha um sentido e que esse sentido se descubra. Porque será?

Mas as hipóteses evolutivas não se esgotam no darwinismo. Há mais evolução para além de Darwin, pelo que não se deve confundir uma hipótese científica de contornos evolutivos com outras que tentam explicar de maneira diferente o caminho evolutivo das espécies. Por exemplo, porque é que o corpo humano não teve uma origem diferente dos primatas e sobreviveu no tempo paralelamente a estes, em vez de admitir obrigatoriamente que saiu de um ramo de primatas?

O darwinismo tem uma outra particularidade, também ela não científica, mas filosófica, que é pretender que a inteligência humana provém da matéria, da quantidade, fechando a possibilidade de ser um princípio qualitativo, que não é gerado pela quantidade.

Parece que é isto que os media de “referência” não podem deixar que passe:

1. Que a evolução do corpo dos seres vivos não é por acaso
2. Que a faculdade humana do entendimento não é dada pela matéria

É com isto que a polícia do pensamento anda preocupada.

E tem razões para isso.

Eles lá sabem porquê.

manuelbras@portugalmail.pt

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