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2008/03/05

CONTA-ME COMO FOI …(5) 

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A adaptação de Luisão aos usos e costumes das aldeias, à sofreguidão curiosa de todos por qualquer aparente novidade, à ingenuidade e maldade dos ditos, a propósito de qualquer insignificância ou pretensa suspeita, essa adaptação foi-lhe fácil porque verdadeiramente passava indiferente por cima de tudo e tudo, também é certo, tudo passava longe dele. Isso apesar de se haver tornado como que íntimo da maior parte da gente, se não de toda a gente crescida daqueles povoados.

Tanta provinciana simplicidade escondida despertava nele ironia que nem sempre conseguia esconder nem disfarçar, o que lhe valeu, da parte dalguns, classificarem-no, sem benevolência, de um tanto pretensioso e “convencido”. Em geral, porém, mesmo esses acabaram por desculpá-lo, alegando invariavelmente que ele, “o marido da Meninha” (diminutivo evidente de Filomena), era sem dúvida melhor, se não mesmo muito melhor “do que gostava de parecer”.

Foi afinal a mulher, Filomena, quem acabou por observar-lhe que talvez “aquela gente” esperasse de si “grandes coisas” a favor da Terra, para o que aliás fora ele o primeiro a despertá-los com as suas “conversas” dos começos. “Querem que lhes sejas útil, acham que és muito novo para viveres dos rendimentos…”

“Que grandes coisas?... Ora tu!” – respondera-lhe ele, quase a amuar, que era a sua maneira mais corrente de “encaixar” a razão dos outros, incluindo a mulher, como esta descobrira ainda durante o curto namoro e noivado.

Foi o Verão desse primeiro ano de casados que lhe trouxe uma saída para a questão, talvez mesmo “a saída”, como logo quis parecer-lhe, com a facilidade grande que tinha de empolar as suas próprias ideias e “soluções” para os problemas, seus ou alheios.

É, em todo o caso, uma realidade que os incêndios florestais, ali à volta, frutos péssimos de um Verão lixadamente quente e seco, trouxeram um grande objectivo à sua vida de provinciano desmotivado, como até aí se considerava, fora do estreito círculo familiar que criara e a que tão apaixonadamente continuava entregue, agora já à espera do primeiro rebento, que, já se sabia, seriam dois “gémeos”.

Sim, não obstante a perspectiva dos gémeos, que tanto iriam necessariamente absorver o casal, ele não duvidava, estava certo de que acertaria em cheio.

Sim, ele não só se tornaria um herói, um modelo, um líder, como iria efectivamente salvar a floresta em risco de incendiar o País, e salvar mesmo a sua Terra de adopção pelo casamento, como salvaria a sua Pátria e o País inteiro!

“Bendito seja Deus!” – exclamara a jovem mulher ao ouvi-lo e logo possuída dum entusiasmo e duma Fé pelo menos tão grande como a sua.

A.C.R.

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