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2008/02/27

CONTA-ME COMO FOI… (2) 

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Ainda hoje, ao longo dos cerca de cem quilómetros da estrada, se sucedem as povoações com nomes derivados das “vendas” que ali existiram, para aproveitarem o negócio de abastecimento de comes e bebes aos passantes que se esperava viessem a frequentar assiduamente o novo caminho, de Coimbra mítica e para a mítica Coimbra.

Assim nasceram a Venda de Galizes, a Venda do Porco, a Venda da Esperança, a Venda do Senhor dos Aflitos, etc., povoações que terão principiado por uma mera tasca ou venda, à volta da qual, ao longo dos anos, se desenvolveram pequenas terreolas, cuja origem não engana.

No caso da Catraia de são Romão não foi exactamente assim.

Como referência mais notável ficou, não o lugar da “venda”, mas a rapariga encarregada do serviço, naquela “venda”, com muita queda seguramente para atender bem os clientes.

Como seria a rapariga, para isso ter acontecido?

Bonita, airosa, gentil, talvez atrevida, eventualmente nada tímida, prazenteira mas em todo o caso dando-se ao respeito e séria para o negócio e nos seus compromissos.

Além de solteira, naturalmente, pelo menos o tempo bastante para se tornar conhecida e ficar como a marca da casa, ponto de encontro e referência dos passantes.

Quantos e quantos parariam lá só para a ver e rever!

Quantos corações não terá ela incendiado!

Quantos ciúmes não terá despertado em namoradas, noivas e esposas pouco conformadas, aquela moça, rapariga ou catraia, para tudo o mais completamente anónima e sem deixar marca ou lenda que a identifique minimamente!

Deveria estar ainda na força da vida e da sua juventude quando, por 1810, ali passaram soldados, cabos, sargentos e oficiais portugueses, ingleses, franceses, russos, alemães, espanhóis talvez também, no vai-vem da guerra e dos combates e tiros, que porventura a fariam morrer de susto todas as vezes que a surpreendiam e lhe enchiam a imaginação de pavores e expectativas.

Pouco passaria dos vinte anos, supondo que a venda não terá aberto antes de 1800 a 1805, já talvez com a nova estrada em pleno funcionamento.

Talvez os olhos dela não fossem azuis e o cabelo louro, como os de tantos garotos e garotas que por aqui estranhamente se vêem hoje ainda, em terras de gente muito predominantemente morena e de cabelos escuros, onde o louro do cabelo e o azul dos olhos continuam a surpreender muitas vezes, sem cansar.

É verdade que não sabemos e ninguém parece saber, nem lenda alguma o revela, quem foram ali os antepassados distantes desses garotos e garotas.

O tempo para repousos de amor daqueles oficiais, sargentos, cabos e soldados de cabelos louros e olhos azuis, claro que não foi grande, mas o bastante para, na sua pressa ardente, entre tiros de um lado e doutro, deixarem semente entre casadas, solteiras, prometidas e catraias desprevenidas ou inocentes, como talvez fosse também a…

“Catraia” de São Romão!

A.C.R.

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