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2008/02/29

CONTA-ME COMO FOI …(3)
DE COMO A “CATRAIA” DE S. ROMÃO TAMBÉM PODE TER SIDO TETRAVÓ DE TRINETOS MEUS. 

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Daqui por uns anos, um neto ou bisneto meu, talvez mesmo um trineto, há-de porventura perguntar à avó (bisavó, ou mesmo trisavó, que ela é muito mais nova que eu), ambos no carro, a caminho da Serra, se aquela catraia de São Romão também tinha sido muito avó, bisavó, trisavó, tetravó dele próprio.

É que ele tinha lido – cedo começou a ler escorreitamente, por certo – é que ele tinha lido, explicou, num texto antigo do avô (eu, claro…), lido por ele na Net, que os louros e de olhos azuis da região eram todos descendentes da “catraia” de São Romão…

Outros têm adulterado mais gravemente ainda, muito mais até, o que digo e não digo…

A avó (trisavó, ou por aí adiante) não há-de fazer grande caso e apenas corrigirá ao de leve, puxando pela memória enfraquecida…

“Não, não foi bem isso que o avô escreveu…ou queria dizer…mas sim que a “catraia” de São Romão pode ter tido filhos louros e de olhos azuis, se tiver casado com algum soldado ou oficial estrangeiro, nórdico, dos muitos que aqui passaram, nos tempos muito antigos das guerras entre franceses, ingleses, russos, alemães, suecos, polacos, espanhóis e portugueses, etc.”

- Mas ó avó, ela não tinha que ter casado com eles todos, pois não!

- Bem entendido que não, querido. Claro que não tinha de ter casado com eles todos, só se casa com um de cada vez. Mas olha que isso é capaz de ter sido uma história inventada de cabo a rabo pelo avô…O avô gostava muito de inventar histórias.

- Mas para isso, não é preciso ser escritor, pois não avó? É que eu não sou escritor, mas também gosto muito de inventar histórias. Sai-me tudo direitinho! Que nem eu percebo como é…Olhe, avó, os meus pais nunca lhe disseram?... - perguntará o garoto (ou a garota?).

A avó não ouviu, ou fez que não ouviu, talvez por gostar de ser ela a dar o rumo à conversa, ela que tanto jeito tivera sempre para ouvir filhos pequenos e netos e dar-lhes troco. Também é certo que, indo a conduzir – e já fizera oitenta mais que uma vez… - não queria nada, mesmo nada, ser distraída a conversar com os ganapos.

Por isso tentou mudar de conversa.

- Olha. Diz-me cá. Já leste o último volume do Moby-Dick que te comprei?...

E depois, sem ouvir a resposta, mudando logo outra vez de assunto, como se quisesse desorientar o garoto, já a pararem à porta do cemitério onde jazia o avô e aonde ela vinha com frequência cada vez maior…

- Mas fica a saber uma coisa…Talvez te ajude a seres também um contador de histórias... É que as histórias do avô, ele dizia que eram inventadas e podiam ser inventadas, mas eram sempre histórias verdadeiras!

- Como é isso avó! - espantou-se o pequenito, olhos azuis muito arregalados.

Mais uma vez fingiu a avó que não ouvia, mas prometeu a si mesma que havia de retomar o assunto, em melhor ocasião.

A.C.R.

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