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2008/03/03

CONTA-ME COMO FOI …(4) 

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Aquele meu bisneto chama-se Rodrigo e é, pelo lado da mãe, neto também dum amigo meu de juventude, com quem andei em Coimbra, ele a perder anos sucessivos, na Universidade, e eu a ganhá-los mediocremente. Pois que outra coisa era isso senão ganhá-los mediocremente, safando-me com catorzezinhos apertados, naquele tempo em que não se ficava gente considerável e de respeito, na memória dos professores e autoridades da secretaria e dos colegas, sem nos alcandorarmos ao mínimo de dezasseis, a puxar para o dezassete?... E para se ficar célebre e durar na tradição das grandes figuras da academia, só com dezoitos e dezanoves crónicos, a abeirar os vintes. Como o Salazar e aparentados, lembrados com frequência pelos alunos de quarenta ou cinquenta anos depois deles, tornados mitos lendários definitivamente inatingíveis, vivendo para sempre no altar supremo do mais alto património moral e científico da Universidade e da Nação, fosse isso o que fosse.

Fosse isso o que fosse, porque o outro avô do meu neto, pelo lado materno, já se sabe, o qual nunca se tornara um salazarista por aí além, antes com muitas reservas, não se armava de cerimónias para gozar, como se diz, à larga e á francesa, com as lendas da academia.

O avô materno do meu neto Rodrigo – avô que passarei a tratar por Luisão, como todos o conhecíamos e tratávamos em Coimbra – tinha aparecido um dia, ainda rapaz, nos meus sítios da Beira Interior, rodeado de algum mistério que não aparentava cultivar, mas talvez lhe adviesse dos vagos grandes projectos que trazia, para o desenvolvimento – chamava-lhe ele – de toda a região.

Valeu-lhe, não fosse desacreditar-se, ter-se prontamente apaixonado pela futura avó do Rodrigo. Com ela aliás casou alguns meses depois, uma vez convencidos, todos os que convinha convencer, da sua séria atracção pela rapariga e da sua capacidade para sustentar um novo lar, com os largos meios que demonstrava possuir e que exibia sem alardes despropositados, mas com perfeita segurança e normalidade, como se gostasse de dar a perceber que dispunha do bastante, em bens e rendimentos, para o dinheiro lhe ser indiferente e nunca artigo de primeira necessidade.

Salvo nos negócios, em que gostava de ser tido por um perito, teórico e prático.

Porque nos conhecíamos de Coimbra, foi comigo que ele se deu primeiro, tendo até, desde logo, ficado a dever-me o favor, sem segundas intenções, de facto, de lhe haver apresentado aquela por quem fulminantemente se apaixonaria e com quem casaria sem demora, a Filomena do outeiro, aliás a única Filomena da aldeia e de toda a freguesia.

Filomena não foi de resto a única conquistada.

Em pouco mais tempo, Luisão caiu, na verdade, no goto de toda a gente dali.

Há muitas pessoas assim, mas Luisão possuía, nessa idade da sua vida, além da simpatia, o dom especial de jamais ter dado a quem quer que fosse razão para se arrepender de lhe haver feito provas de confiança ou intimidade.

Posso assegurar que nunca conheci casamento mais feliz, afortunado e bem sucedido que aquele.

Até agora.

O Diabo foi, sem dúvida, cego, surdo e mudo!

E conheci-os casados, acompanhando-os sempre de muito perto, durante mais de trinta anos.

A.C.R.

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