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2007/01/08

Iraq Study Group 

Chefiado por James Baker e Lee Hamilton, o Iraq Study Group (ISG) publicou o seu relatório sobre a situação do Médio Oriente (MO), em geral, e do Iraque, em particular, no início de Dezembro.

Daí para cá, várias têm sido as reacções ao seu conteúdo e recomendações.

Seria bom que este relatório ajudasse os ocidentais a perceber tudo o que está em jogo no MO, e não só no Iraque. A questão do MO tem neste momento três frentes: a violência sectária no Iraque, o Hizbollah no Líbano e o Hamas na Palestina. Os ocidentais têm que se convencer que o equilíbrio de forças no MO foi mudando lentamente desde que, há mais de 25 anos, o Islão político, através da Revolução Islâmica, triunfou no Irão. A partir daí surgiram na região novas formas de guerra diferentes da convencional, como as que são desencadeadas pelo Hamas, pelo Hizbollah ou pela Al-Qaeda. Nessa nova guerra, que poderemos chamar guerrilha ou terrorismo, os guerrilheiros da causa não usam uniforme, não se distinguem da população, vivem e actuam no e desde o meio da população – assim estão mais protegidos do inimigo –, atacam e matam militares e civis do seu esconderijo, usam suicidas e carros-bomba para essas matanças a fim de aterrorizar, o soldado militar e o político identificam-se, são militares à civil e civis militarizados… Enfim, uma série de “predicados” ausentes na guerra convencional a que os exércitos uniformizados se habituaram. Por isso, a resposta do Ocidente, para ter o devido efeito, tem que ser adequada às novas circunstâncias, o que demora o seu tempo – talvez mais alguns anos – e não se consegue apenas com um exército convencional.

Continuo a pensar que a invasão do Iraque e a deposição de Saddam Hussein foi um passo mal dado pelas forças anglo-americanas, com o qual ainda não se vislumbraram grandes resultados, embora não me atreva a afirmar que foi um rotundo fracasso, porque ainda se pode emendar e rectificar.

Um passo mal dado, em primeiro lugar, por se ter invadido um país soberano, e depois porque, em termos de segurança para o Ocidente, o Irão e a Síria representam uma ameaça bem mais real, como se tem verificado. E não tanto por julgar que Saddam Hussein não tenha disposto a seu tempo de armas de destruição maciça (químicas e biológicas), pois tê-las-á usado contra militares, na guerra, e civis, designadamente curdos. Terá, provavelmente, conseguido “dar baile” ao Sr. Blix, tal como o Ahmadinejad tem andado a fazer com o Solana. Não é que tais armas de destruição maciça nunca tenham existido, os americanos é que não as conseguiram encontrar aquando da invasão, mas elas devem ter ido para algum lado. Sabe-se lá para onde…

Já aqui me detive a discorrer sobre as consequências, ainda piores, de uma saída precipitada do Iraque. Não vou repetir.

O que propõe o ISG?

1. Colocar a segurança e a estabilidade como prioridades a levar a cabo pelas autoridades iraquianas, de modo a conter e impedir a violência sectária.

2. Ter como outra prioridade o treino do exército e da polícia iraquianos, de modo a transmitir-lhe capacidade de actuar eficazmente.

3. Rejeitar a divisão do Iraque em três mini-estados autónomos, na medida em que a definição de fronteiras internas seria ainda mais fracturante e chamaria à acção estados vizinhos como a Turquia e o Irão, quer seja para impedir a formação de um estado curdo, quer para apoiar e cooptar um novo estado xiita.

4. Rejeitar a saída imediata, por razões óbvias e já referidas.

5. Rejeitar a indicação de uma data para a saída, pois tal decisão deve-se basear na realidade da segurança e estabilidade no terreno e não numa previsão realizada em Washington.

6. Conversações com a Síria e o Irão com vista às suas colaborações na pacificação do Iraque. Parece pouco razoável e realista, tanto mais que o Irão já fez saber que só alinhará nisso a troco da retirada rápida das forças anglo-americanas. De resto, se quisessem contribuir para a pacificação do Iraque, já o teriam feito. Afinal, quem é que está por trás de todo este poder de fogo de milícias e guerrilhas que se manifestou crescentemente ao longo de 2006?


Tirando esta última medida ou recomendação proposta, não parece haver grande novidade, nem coisa que já não se tenha pensado ou dito: que as tropas ocidentais deverão permanecer mais alguns anos, aumentar os seus efectivos e quando estiver em condições de retirar, fazê-lo lentamente e para perto.

É essencial que o Ocidente perceba que a luta que se trava no MO não é só com o Iraque, embora seja também no Iraque. A luta não se trava só contra a Al-Qaeda. É também contra o Hizbollah no Líbano, contra o Hamas na Palestina, o Irão, a Síria e ainda, remotamente, aqueles que os apoiam.


Que razões poderão ter assistido à decisão de invadir o Iraque e não outro estado mais ameaçador? Talvez por ser um país com um regime mais fácil de derrubar, um exército com menos capacidade de resistir, um país mais ocidentalizado, com mais hábitos de liberdade religiosa, com maiores probabilidades de assumir um regime democrático de tipo ocidental, que poderia servir como referência para outros países do MO, caso a implantação de um novo regime tivesse sido bem sucedida.

Não tem sido fácil implantar esse novo regime. Os ocidentais habituaram-se a constatar as dificuldades, alguns até a propor cobardemente a fuga, mas não se questionam acerca do que e de quem está por trás da escalada de violência deste último ano. Esta dura realidade teve a virtuosidade de mostrar quem está por trás de toda essa violência e o poder que tem.

Não perceber isso é não perceber o que está em causa ali: o próprio Ocidente.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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